A fisioterapia pélvica, também conhecida como fisioterapia do assoalho pélvico, tem como objetivo melhorar ou evitar a perda da força na região pélvica. Apesar de ainda não muito divulgada, ela pode ser uma grande aliada da saúde.
O assoalho pélvico é um grupo de músculos, ligamentos, nervos e tecido conjuntivo que sustenta os órgãos que se encontram na área do abdômen: bexiga, útero, órgãos genitais. Quando essa região está fraca ou flácida, é comum que haja algumas disfunções pélvicas.
Tal região costuma ser forte na juventude e se enfraquece à medida que o corpo envelhece. Além da idade, o assoalho pélvico pode se enfraquecer devido a situações como menopausa, parto vaginal, determinadas cirurgias e ganho de peso. “As pessoas que possuem essa disfunção contraem os músculos em vez de relaxar. Isso faz com que elas não consigam ter um movimento no intestino e na bexiga satisfatórios, por exemplo”, avalia a fisioterapeuta pélvica, especialista em Saúde da Mulher, Geisele Cavalcante*.
A profissional destaca que a decisão de iniciar a fisioterapia pélvica deve ser baseada em uma avaliação por um fisioterapeuta especializado em saúde pélvica. “Ele vai determinar se a fisioterapia é apropriada para o caso em questão e criar um plano de tratamento personalizado com base nas necessidades individuais”, complementa.
O que é fisioterapia pélvica?
Trata-se de uma especialidade que atua na prevenção e tratamento não-cirúrgico das disfunções do assoalho pélvico, que podem estar relacionados a problemas urológicos, ginecológicos, proctológicos e sexuais. Essas disfunções podem acometer mulheres e homens de qualquer idade, inclusive crianças.
“Baseada em evidências científicas, a fisioterapia representa o melhor tratamento das disfunções pélvicas atualmente, indicada por médicos como a primeira opção de tratamento”, comenta Geisele Cavalcante.
Para que serve?
A fisioterapia pélvica tem várias finalidades. O principal objetivo é diagnosticar e tratar disfunções relacionadas à musculatura do assoalho pélvico, contribuindo para melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
É indicada em várias disfunções e condições, como:
- incontinência urinária;
- incontinência fecal;
- prolapso de órgãos pélvicos;
- pré e pós-operatórios de cirurgias ginecológicas;
- dor pélvica crônica;
- disfunções sexuais femininas e masculinas;
- gestação, parto e pós-parto;
- pré e pós-operatório de cirurgia da próstata;
- disfunções miccionais e coloproctológicas em crianças.
Quando se deve fazer fisioterapia pélvica?
A decisão de iniciar a fisioterapia pélvica deve ser baseada em uma avaliação por um fisioterapeuta especializado em saúde pélvica, frisa Geisele Cavalcante. “Portanto, se você estiver enfrentando algum problema relacionado à saúde pélvica, como a perda urinária, mesmo que pequena, pretende engravidar ou está com sinais do climatério, procure um fisioterapeuta especializado, pois essas disfunções tendem a progredir”, alerta.
É importante ressaltar, acrescenta a profissional, que a prevenção desempenha um papel crucial na manutenção da saúde do assoalho pélvico, uma vez que muitos dos problemas que afetam a região podem ser evitados ou minimizados com cuidado e treinamento.
Como é realizada?
Uma avaliação inicial visa determinar a causa dos sintomas e desenvolver planos de tratamento personalizados, explica a fisioterapeuta pélvica. Além do assoalho pélvico, pode-se avaliar regiões como abdômen, coluna e quadris. “Baseado nessa avaliação músculo-esquelética e biomecânica, o profissional constrói um raciocínio clínico e seleciona as técnicas e recursos a serem utilizados”, ressalta Geisele Cavalcante.
Técnicas à disposição para tratar o assoalho pélvico:
- Exercícios específicos de fortalecimento e/ou relaxamento dos músculos do assoalho pélvico;
- Técnicas de biofeedback eletromiográfico, equipamento capaz de quantificar o nível de contração muscular de um indivíduo. Isso quer dizer que, através deste aparelho, é possível identificar se determinado músculo do corpo está ativo e qual seria o nível de atividade que ele exerce;
- Eletroestimulação;
- Fotobiomodulação (também chamada de fotoestimulação ou fototerapia, é um meio de tratar usando uma luz produzida por um dispositivo de LED, que é um laser de baixa intensidade);
- Técnicas manuais;
- Dilatadores vaginais e cones vaginais;
- Terapia comportamental.
Onde fica o assoalho pélvico?
O assoalho pélvico é uma estrutura formada por músculos, fáscias (tecidos conjuntivos do corpo) e ligamentos que se encontra na parte inferior da pelve, abaixo dos órgãos pélvicos. Ele forma a base da pelve e desempenha um papel fundamental no suporte dos órgãos pélvicos como a bexiga, útero e intestino, bem como na regulação das funções urinárias, intestinais e sexuais.
“Quando ocorrem desequilíbrios ou fraqueza nessa região, podem surgir alguns sintomas como, por exemplo, escapes de urina e fezes”, explica Geisele Cavalcante.
Como relaxar a musculatura pélvica?
Relaxar esta região é importante para a saúde e o bem-estar, especialmente para pessoas que podem estar enfrentando tensão ou disfunções nos músculos do assoalho pélvico. “Tais tensões podem levar à dor durante a relação sexual e sintomas urinários como, por exemplo, dificuldade para urinar, sensação de que não esvaziou totalmente a bexiga e aumento de idas ao banheiro para urinar”, detalha a profissional.
Como a musculatura perineal está localizada dentro da pelve, a fisioterapia pélvica pode realizar técnicas de relaxamento perineal com o uso do biofeedback eletromiográfico. “Nesse caso, são usados sensores na região perineal com objetivo de monitorar a atividade dos músculos do assoalho pélvico, permitindo que o paciente visualize como os músculos estão funcionando e faça, assim, ajustes para que possa relaxar mais facilmente a musculatura perineal”, explica Geisele Cavalcante.
São utilizadas também terapias manuais como a massagem e alongamento perineal, associadas à respiração diafragmática e relaxamento global. É importante lembrar que a técnica de relaxamento apropriada pode variar dependendo dos sintomas e das necessidades individuais, destaca a entrevistada.
Como fortalecer o assoalho pélvico?
Antes de iniciar o treinamento, é importante realizar uma avaliação do assoalho pélvico com um fisioterapeuta, pois quase metade das mulheres não sabem contrair adequadamente essa musculatura, podendo ao invés de contrair, empurrar a musculatura perineal e piorar os seus sintomas, comenta a fisioterapeuta pélvica.
“Realizar treinamento para fortalecer o assoalho pélvico é igual como ir a academia exercitar os outros músculos: ninguém faz treinamento na academia igual com as mesmas séries, equipamentos e cargas. O mesmo raciocínio vale para a musculatura do assoalho pélvico. Não temos como prescrever exercícios sem avaliar os sintomas e a musculatura da paciente”, ressalta.
Benefícios da fisioterapia pélvica na gravidez e no pós-parto
A fisioterapia obstétrica é uma área ampla de atendimento específico na gestação, composto de exercícios que ajudam a gestante a passar por todas as alterações naturais dessa fase, reduzindo os desconfortos e auxiliando na saúde da mãe e do bebê.
Tais exercícios preparam a musculatura da futura mamãe para a gravidez, o momento do parto e para os cuidados com o bebê no pós- parto, melhorando seu sistema circulatório, sua conscientização e otimizando sua percepção e controle da musculatura pélvica, prevenindo disfunções do assoalho pélvico no futuro.
“É importante que a gestante seja acompanhada por um profissional de saúde qualificado e com experiência em saúde da mulher, de preferência um fisioterapeuta especializado em obstetrícia e saúde pélvica. Cada mulher é única e o tratamento é adaptado às necessidades individuais, levando em consideração a fase da gravidez ou o período pós-parto”, descreve Geisele Cavalcante.
A fisioterapeuta acrescenta que é recomendável uma avaliação fisioterapêutica após 45 dias do parto, visto que a gravidez, por si só, provoca alterações na região pélvica. Durante a gestação, a musculatura do assoalho pélvico sofre um prolongado teste de resistência. Sustentando, além dos órgãos pélvicos, o bebê, o novo útero e todos os demais anexos embrionários. “O parto, independentemente de vaginal ou cesáreo, é o maior responsável por lesões do assoalho pélvico. Neste caso, a fisioterapia atua na prevenção dessas disfunções através de um programa de exercícios específicos, direcionados para a região pélvica”, acrescenta.
*Geisele Cavalcante de Souza é fisioterapeuta com pós-graduação em Saúde da Mulher. Fisioterapeuta da Clínica Pélvis (@clinicapelvis) e do Núcleo de Endometriose e Cirurgia