Fibromialgia: veja sintomas e como tratar a doença

Saiba mais sobre a condição dolorosa e crônica, cujo diagnóstico é difícil, precisando de abordagem multidisciplinar e terapêutica

A fibromialgia é uma síndrome musculoesquelética caracterizada por dor crônica generalizada e, frequentemente, associada a fadiga, ansiedade, depressão, rigidez articular, distúrbios cognitivos, dentre outros. Estima-se que 2,5% da população brasileira sofra com as dores intensas e incapacitantes. A estimativa aponta ainda, de acordo com a Sociedade Brasileira de Estudos para a Dor, que a doença é mais recorrente em mulheres: 90% dos casos diagnosticados são entre esta parcela da população, com incidência mais comum naquelas com idades entre 25 e 50 anos.

Trata-se de um problema comum, que atinge inclusive celebridades como Lady Gaga e Morgan Freeman. Segundo a médica reumatologista Célia Alcântara, o diagnóstico ocorre mediante abordagem terapêutica com intervenções integradas e multidisciplinares. Por se tratar de doença de difícil identificação, muitas vezes os pacientes sofrem preconceito e falta de empatia por parte de familiares e amigos.

“Quando se fala sobre a fibromialgia, é importante transmitir mais informações compreensíveis sobre essa doença à sociedade, estimular o apoio às pessoas afetadas por essa condição. É essencial reforçar que a fibromialgia é algo real e não é simplesmente ‘coisa da cabeça’ das pessoas que a têm”, alerta a médica.

O que é?

É uma síndrome caracterizada por dor musculoesquelética crônica. Ao contrário de outras doenças reumáticas, não se manifesta por meio de sinais clínicos visíveis: o exame físico revela muitas vezes apenas maior sensibilidade à pressão em alguns pontos específicos (“tender points”), segundo esclarece a reumatologista.

Muitos fatores contribuem para o desenvolvimento da fibromialgia de maneira única:

  • Predisposição genética;
  • Fatores emocionais-cognitivos;
  • Relação mente-corpo;
  • Capacidade biopsicológica para lidar com o estresse.

“Essa interação entre várias causas, incluindo predisposição genética, eventos estressantes da vida, mecanismos periféricos (inflamatórios) e centrais (cognitivo-emocionais), podem levar a modificações neuro-morfológicas e alteração da percepção da dor a nível central. Evidências emergentes sugerem que o processamento difuso da dor no cérebro é alterado nos pacientes com fibromialgia. Entretanto, essas alterações não são detectadas por exames convencionais e rotineiros. O diagnóstico é clínico e requer experiência do médico examinador”, detalha Célia Alcântara.

Sintomas

Dor e sensação de rigidez nos músculos difusamente, insônia, fadiga, distúrbios de humor, disfunção cognitiva, ansiedade, depressão, distúrbios de funcionamento do sistema digestivo, sensação de distensão do abdome, sensibilidade geral que leva, muitas vezes, à incapacidade de realizar atividades diárias normais.

Tratamentos indicados

Em geral, especialmente no início do diagnóstico, é necessário iniciar o tratamento farmacológico imediatamente, explica a médica, principalmente porque os pacientes geralmente descobrem a fibromialgia anos após o início dos sintomas. O objetivo, segundo a profissional, é proporcionar o alívio da dor.

É importante que o tratamento seja sempre individualizado de acordo com as necessidades e preferências dos pacientes. São indicados, conforme a reumatologista, tratamentos complementares como TCC (terapia cognitivo-comportamental), massoterapia e fisioterapia com estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS), hidroterapia e, tão logo seja possível, um plano individualizado de exercícios físicos.

“O exercício aeróbico é fortemente recomendado, pois pode melhorar a dor e a função física em pacientes com fibromialgia. Um passo importante no tratamento é garantir que os pacientes compreendam a doença antes de lhes serem prescritos quaisquer medicamentos ou terapias”, defende.

Pode virar câncer?

Não se transforma em câncer e nem aumenta o risco de desenvolvê-lo. “Uma recente metanálise publicada em julho de 2023, envolvendo mais de 557 estudos em diversos países, avaliou a taxa de mortalidade em pacientes com fibromialgia e, pelo contrário, encontrou uma diminuição da taxa de mortalidade por câncer nos pacientes com esta doença”, relata a profissional. Isso ocorre, acrescenta, provavelmente devido à maior procura dos serviços de saúde por esses pacientes, incluindo exames de imagem, que podem servir como prevenção secundária ou detecção precoce de câncer.

Aposentadoria

Caso seja comprovado que o paciente esteja incapaz irreversivelmente, ou seja, tenha incapacidade total e permanente para o trabalho, poderá ser avaliada a aposentadoria por peritos do INSS, detalha Célia Alcântara.

Cura

Apesar de ainda não existir cura, há formas de controlar a doença, reduzir a dor e oferecer uma melhora na qualidade de vida de quem possui essa condição.

Alimentos

O papel da dieta é controverso na fibromialgia, defende a médica. “Sabe-se que o sobrepeso piora os sintomas. Em termos de intervenções dietéticas, a administração de azeite, dietas hipocalóricas e low FODMAPs (com poucos alimentos que podem causar desconforto intestinal), parecem contribuir na redução dos sintomas da fibromialgia”, frisa.

A médica também adiciona que algumas pesquisas sugerem que os sintomas do distúrbio sejam exacerbados por diversas alterações metabólicas, especialmente relacionadas a alterações na composição da microbiota intestinal. “Nessa perspectiva, uma combinação de diversas abordagens dietéticas que possam interferir nessas mudanças poderia melhorar a sintomatologia da doença”, ressalta.

Piora dos sintomas

O tipo, a localização e a intensidade da dor dependem de uma série de fatores moduladores, sendo os mais importantes as atividades laborais, as comorbidades (como a obesidade) e as variações de temperatura. O estresse físico ou mental também é um fator conhecido associado ao agravamento do incômodo que se sente, avalia a médica.

Incidência da Fibromialgia em diferentes países:

  • Canadá: 3,3%
  • Estados Unidos: 6,4%
  • Brasil: 2,5%
  • França, Itália, Alemanha, Espanha e Portugal: de 2,9 a 4,7%
  • Itália: 3,6%
  • Turquia: 8,8%
  • Israel: de 2 a 2,6%
  • Líbano: 1%
  • Japão: 2,1%

*Dra Célia Alcântara é médica formada pela Universidade Federal do Ceará. Especialista em Reumatologia e Clínica Médica. Mestre em Ciências Médicas pela Universidade Federal do Ceará e doutoranda em Ciências Médicas pela Universidade Federal do Ceará. Também possui especialização em Experiência do Paciente pelo Hospital Albert Einstein e em gestão empresarial pela FGV. Atualmente é médica da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará e atende, em consultório, casos de doenças reumatológicas como artrite reumatoide, lúpus, osteoporose, espondilite e fibromialgia.