A doença celíaca é uma condição imunológica caracterizada por uma reação do sistema imunológico ao glúten - proteína que está presente em alimentos como aveia, trigo, cevada, centeio e seus derivados.
Também chamada de "enteropatia sensível ao glúten", ela causa inflamação e lesão na superfície do intestino e altera a absorção dos nutrientes, levando a sintomas como diarreia crônica, distensão abdominal, anemia, deficiência de ferro e vitaminas, perda de peso, osteoporose, entre outros.
Predisposição genética
De acordo com a médica endocrinologista Ana Flávia Torquato, existe predisposição genética para o desenvolvimento da doença celíaca, e quem tem um membro na família com a enfermidade tem um risco maior de tê-la também.
"A doença celíaca também é mais comum em pessoas com síndrome de Down e síndrome de Turner ou doenças imunológicas, como diabetes tipo 1, hipotireoidismo ou Doença de Addison", diz.
"No caso, o especialista poderá solicitar um teste genético pesquisando fatores de risco para doença celíaca e avaliar se a pessoa pode desenvolvê-la".
Como funciona o corpo de quem tem o problema
O corpo de quem tem exposição crônica ao glúten não tem uma enzina responsável por quebrá-lo. Desta forma, como a proteína não é processada da forma correta, o sistema imunológico reage ao acúmulo e ataca a mucosa do intestino delgado, danifica a camada de revestimento dele, causando má absorção de nutrientes, sais minerais e água.
Ana Flávia Torquato afirma que a doença celíaca pode se apresentar com uma diversidade de sintomas do trato intestinal, além dos gerais já mencionados acima. Quem tem a condição imunológica pode apresentar também:
- Fadiga
- Dor de cabeça
- Dor abdominal
- Distensão
- Gases
- Constipação
- Anemia
- Osteoporose
- Dermatite
- Dor nas articulações
Doença celíaca nas crianças
A endocrinologista chama atenção para a doença celíaca nas crianças. O problema pode levar ao atraso do crescimento e no desenvolvimento delas.
Segundo a médica, a condição imunológica pode surgir na infância, como também na fase adulta. "Deve ser investigada em pessoas de qualquer idade se houver suspeita clínica", pontua.
Doença celíaca x intolerância ao glúten
Vale salientar que doença celíaca difere de sensibilidade ou intolerância ao glúten. Quem tem esta última pode ter sintomas parecidos com os da primeira, como cansaço e dores abdominais.
Entretanto, ao contrário da doença celíaca, a sensibilidade ou intolerância ao glúten não gera a inflamação do intestino delgado, nem danifica a camada de revestimento dele. Também não tem relação com o sistema imunológico da pessoa.
"A sensibilidade ao glúten, uma condição mais difícil de diagnosticar, pois não tem causa bem definida e a endoscopia digestiva não mostra danos no intestino delgado. Ela é caracterizada por sintomas no trato intestinal, como diarreia, distensão, e dor, ao comer alimentos contendo a proteína", ressalta a endocrinologista.
Já a alergia ao glúten, expõe, é semelhante a outras alergias alimentares. Nela, acontece uma reação aguda logo após a pessoa entrar em contato com o glúten, incluindo vermelhidão na pele, prurido, inchaço, etc.
Diagnóstico
Conforme Ana Flávia Torquato, o diagnóstico para a doença celíaca é realizado por meio de exame de sangue e endoscopia digestiva com biópsia do intestino delgado, que são padrões para atestar ou não se a pessoa tem o problema. Ele destaca a importância de fazer um acompanhamento com gastroenterologista e nutricionista.
Tratamento
Já o tratamento, explica a médica, consiste em exclusão do glúten da dieta e reposição de deficiências. Ela ressalta que com a proteína totalmente fora da dieta do paciente, "a inflamação vai melhorando, o intestino delgado se recupera, e a doença celíaca fica bem controlada".
Principais complicações
- Desnutrição
- Anemia
- Perda de peso
- Osteoporose
- Aumento do risco de fraturas ósseas
- Infertilidade
- Intolerância à lactose
"Ao longo prazo, se não controlada, pode aumentar a predisposição ao câncer intestinal, como o linfoma intestinal".
A doutora Ana Flávia Torquato é médica endocrinologista, graduada em Medicina e mestre em Farmacologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Trabalha no Hospital Universitário Walter Cantídio, da UFC, onde atua principalmente em obesidade, diabetes e metabolismo ósseo.