A coqueluche é uma doença infecciosa aguda de alta transmissão que acomete o aparelho respiratório, podendo atingir traqueia e brônquios, causada por uma bactéria chamada Bordetella Pertussis. O sintoma mais característico é a tosse seca, com crises súbitas e incontroláveis. A enfermidade acontece em todo o mundo e acomete todas as idades, sendo os bebês menores de seis meses a população mais suscetível.
De acordo com Lohanna Tavares*, médica infectologista pediátrica do Hospital Infantil Albert Sabin (Hias) e presidente do Departamento Científico de Infectologia da Sociedade Cearense de Pediatria (Socep), a doença tem uma característica epidêmica, ou seja, reaparece de tempos em tempos, em média a cada cinco anos.
Transmissão
A especialista explica que a transmissão da coqueluche ocorre por meio do contato com gotículas respiratórias geradas por tosse ou espirros de pessoas infectadas, especialmente no início da doença, até as primeiras três semanas, quando normalmente é difícil de se fazer o diagnóstico.
Segundo a médica, a transmissão é alta, de forma que até 80% dos contactantes do mesmo domicílio, mesmo imunizados, adquirem a doença decorrente também da imunidade decrescente.
"Os irmãos mais velhos, incluindo os adolescentes, e os adultos, apresentam formas mais leves e atípicas da doença, que são pouco diagnosticadas. A doença nos adultos jovens é frequentemente assintomática e é a mais importante fonte da infecção para os lactentes jovens", disse.
Aumento de casos de coqueluche no Brasil
O Ministério da Saúde tem registrado um aumento significativo nos casos da doença, especialmente entre adolescentes e adultos jovens. No último dia 27 de julho, foi confirmada a morte de um bebê de seis meses, em Londrina, no Paraná, em decorrência da coqueluche, sendo a primeira morte pela enfermidade em três anos no Brasil.
"Sabemos que nem a infecção, nem a vacinação, levam a uma imunidade permanente. Então, a imunidade da população contra essa doença vai diminuindo no decorrer dos anos. Isso faz com que aumente os casos na idade da adolescência e em adultos jovens. Esse grupo apresenta a doença com poucos sintomas e passa a ser, então, o responsável pela disseminação da doença para a população mais suscetível, que são os lactentes jovens, são os bebês menores de seis meses", explica a Lohanna Tavares.
A profissional ressalta que outro fator importante para a maior prevalência da doença em lactentes jovens é a menor transmissão de anticorpos por via transplacentária, ou seja, da mãe para o filho, em decorrência da queda dos níveis de anticorpos na população de adultos jovens, se não tiverem tomado a vacina durante a gestação.
Sintomas
Inicialmente, a doença se manifesta com sintomas leves do trato respiratório superior, semelhantes ao resfriado comum, como:
- Febre pouco intensa;
- Mal-estar geral;
- Coriza;
- Tosse seca, que pode durar de uma a duas semanas, com a instalação gradual de surtos de tosse, cada vez mais intensos e frequentes, evoluindo para as crises de tosse paroxística, considerada a fase mais característica.
Características da tosse de coqueluche
A coqueluche é caracterizada por uma crise de tosse súbita e incontrolável, rápida e curta, com cerca de 5 a 10 tossidas em uma única expiração. Segundo a infectologista, o paciente não consegue inspirar durante os acessos de tosse, o que pode trazer outras complicações.
"A pessoa pode apresentar vermelhidão na face e cianose, ou seja, ficar roxo, que pode ser seguido ainda de apneia, que é ficar sem respirar, e vômitos. Em seguida, acontece uma inspiração profunda. Através da glote estreitada, podendo gerar um som que a gente chama de guincho. O número desses episódios de tosse paroxística pode chegar a 30 em 24 horas, manifestando-se mais frequentemente à noite. E a frequência e a intensidade dos episódios dessas tosses paroxísticas aumentam nas primeiras duas semanas e podem durar de duas a seis semanas. Os sintomas diminuem gradualmente", detalha a profissional.
A coqueluche é mais grave quando ocorre nos primeiros 6 meses de vida dos bebês, principalmente prematuros e não imunizados.
"A doença nessas crianças pode ter um período inicial mais curto e seguir com engasgos, cansaço, bradicardia, que é o coração com baixa frequência, e apneia. Isso como manifestações precoces proeminentes, sem aquele som de guincho clássico ou aquelas tosse paroxísticas clássicas", afirma.
Tratamento
O tratamento é realizado com antibióticos da classe dos macrolídeos, que devem ser prescritos pelo médico. É indicado para todos os pacientes diagnosticados e também para os contactantes domiciliares, até 21 dias após o início do quadro. Além disso, pode ser necessária a indicação de oxigênio, aspiração de vias aéreas, hidratação ou, em casos mais graves, ventilação mecânica e intubação, se precisar de terapia intensiva.
Conforme Lohanna Tavares, o principal motivo de hospitalização de bebês menores de 6 meses é a pneumonia, que pode vir acompanhada de outras enfermidades.
"Muitas vezes, ela vem acompanhada por crises de apneia ou hipóxia, ou seja, o oxigênio do sangue é baixo, levando a uma necessidade de internação em unidade de terapia intensiva, às vezes, com intubação. Embora essas complicações sejam mais frequentes em lactentes, com vacinação incompleta, elas podem ocorrer em pessoas de qualquer idade", reforça.
Como prevenir coqueluche?
A principal forma de prevenção da doença é a vacinação. O esquema vacinal indicado para as crianças é a vacina pentavalente, que corresponde a três doses, administradas com dois, quatro e seis meses de vida, com dois reforços, um aos 15 meses e outro aos quatro anos.
Além disso, uma estratégia importante na prevenção da coqueluche é a imunização de gestantes com a vacina do tipo adulto. Essa vacina deve ser administrada a cada gestação a partir da 20ª semana, a fim de passar a imunidade para o bebê nos seus primeiros meses de vida.
Outras formas de prevenção indicadas pela especialista são o uso de máscara, evitar o contato de bebês e demais pessoas suscetíveis com pessoas doentes, identificar os casos confirmados para poder indicar o tratamento e o afastamento para evitar a disseminação da doença.
*Lohanna Tavares é médica infectologista pediátrica do Hospital Infantil Albert Sabin (Hias) e presidente do Departamento Científico de Infectologia da Sociedade Cearense de Pediatria (Socep).