Quais os 12 provedores de internet que eram autorizados a funcionar pelo Comando Vermelho em Fortaleza

As empresas foram interditadas, enquanto os proprietários tiveram a prisão preventiva decretada pela Justiça Estadual. As defesas dos empresários investigados negam que eles integram a organização criminosa

Escrito por
Messias Borges messias.borges@svm.com.br
Foto de um carro de uma empresa provedora de internet incendiado por criminosos em Fortaleza
Legenda: Veículos de empresas provedoras de internet, que não aceitaram exigências de uma facção criminosa, foram incendiados em Fortaleza, em março de 2025
Foto: Reprodução

A Polícia Civil do Ceará (PCCE) e o Ministério Público do Ceará (MPCE) afunilaram as investigações contra a aliança da facção criminosa Comando Vermelho (CV) e provedores de internet, no bairro Pirambu e adjacências. 12 empresas do ramo foram interditadas e 37 pessoas são investigadas por integrar o esquema criminoso. As defesas dos empresários investigados negam que eles integram a organização criminosa.

Um dos alvos da investigação, apontado como líder do CV na região do Pirambu, em Fortaleza, André Costa Sena, de 31 anos, foi preso pela Polícia Civil na última quarta-feira (16). Ele é conhecido no grupo criminoso como 'Patrão Net', por gerenciar a aliança entre a facção e os provedores de internet.

Conforme petição do MPCE à Justiça, enviada no último dia 26 de maio, "as investigações tiveram início a partir de informações detalhadas sobre a atuação de membros do Comando Vermelho, que estavam envolvidos em um esquema criminoso no fornecimento de serviços de internet, realizando extorsões contra empresas de provedores legítimos, forçando moradores e empresas a contratar serviços de internet exclusivos de provedores associados à facção criminosa".

O Ministério Público recorda que "os ataques aos provedores de internet não constituem fenômeno recente. Já há registros, desde 2019, da prática reiterada dessas condutas, sendo notório o caso ocorrido no bairro Pirambu, onde, em 2020, houve a exigência de pagamento da mesma taxa extorsiva de 30%".

Em 2021, "observou-se um agravamento nas práticas delituosas, com o aumento significativo dos episódios de extorsão". "Constatou-se, com maior clareza, que a organização criminosa passou a impor, de forma sistemática, os nomes das empresas que estariam 'autorizadas' a prestar serviços de internet em determinados bairros de Fortaleza", acrescenta a denúncia.

Já em 2025, "observou-se um fortalecimento da capacidade coercitiva dessas facções, que passaram a atuar com maior ousadia e visibilidade, intensificando as ameaças direcionadas aos representantes legais das empresas e ampliando a percepção de risco entre os empresários do setor".

Um "salve", atribuído à facção Comando Vermelho, agravou a intimidação aos empresários e à população em geral, em algumas regiões da Capital, da Região Metropolitana de Fortaleza e até do Interior do Estado. Empresas provedoras de internet foram extorquidas e atacadas, no último mês de março.

As investigações da Polícia Civil identificaram a ligação entre 12 provedores de internet e o CV, para "monopolizar" o serviço principalmente na região do Pirambu. As empresas foram interditadas administrativamente, em razão de irregularidades, segundo a PCCE.

Veja quais são as empresas:

  • Feitotel Telecom (proprietário: Antonio Feitoza Gomes Filho);
  • Net Show (proprietário: André Luís Sales Costa);
  • Total Net (proprietário: Thiago Oliveira Damasceno);
  • Valdo Net (proprietário: Florisvaldo Lima Pereira);
  • PH Telecom (proprietário: Paulo Henrique Furtado da Silva);
  • Space Net (proprietário: Davi Paulo da Silva Barbosa);
  • AG Net (proprietário: Arnaldo Elias Santos Bezerra);
  • Bob Net (proprietário: Robson Jorge de Lima Cardoso);
  • Net.Com (proprietário: Eugenio Moura de Lima);
  • D3 Connect (proprietário: Daniel Franscico de Aquino Braga);
  • Speed Net (proprietário: Ícaro Moreira Dias);
  • GL Net, ou B Net (proprietário: Francisco Breno Damasceno Gondim).

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Alvos de mandados de prisão

A Vara de Delitos de Organizações Criminosas, da Justiça Estadual, acatou pedidos do Ministério Público e da Polícia Civil para decretar a prisão preventiva, busca e apreensão domiciliar, quebra do sigilo telefônico e de dados de celulares, bloqueio de contas bancárias e sequestros de bens dos investigados.

Segundo a decisão judicial, os alvos das medidas são "integrantes da organização criminosa Comando Vermelho (C.V.), bem como terceiros que coadunam ao interesse da facção e que buscam monopolizar serviço essencial de conexão à internet realizando extorsões, danos a terceiros, constrangimento ilegal, principalmente no Bairro Pirambu e imediações".

A Justiça decretou a prisão preventiva de 21 investigados. Entre eles, estão os 12 proprietários dos provedores de internet interditados, André Costa Sena (preso na última quarta-feira) e Carlos Mateus da Silva Alencar, o 'Skidum' - número 1 do CV no Pirambu e integrante da lista dos Mais Procurados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS).

Os outros alvos de mandados de prisão são Francisco Wesley Gomes Ferreira, Francisco David Aparecido, Francisco Claudiano Sousa Santos, Leilson Sousa da Silva, Rogerson da Silva Martins, Francisco Teixeira Parente e José Felipe de Oliveira.

Fotos de lojas de empresas provedoras de internet atacadas por facção criminosa, na Capital e na Região Metropolitana de Fortaleza. Nas imagens, uma porta com o vidro estilhaçado e a outra porta quebrada. Criminosos picharam a palavra 'crime' em uma parede
Legenda: Lojas de empresas provedoras de internet também foram atacadas por facção criminosa, na Capital e na Região Metropolitana de Fortaleza
Foto: Reprodução

Já os mandados de busca e apreensão foram decretados contra 37 suspeitos de participarem da aliança entre o Comando Vermelho e os provedores de internet. A Vara de Delitos de Organizações Criminosas também determinou acesso irrestrito aos dados telefônicos dos investigados: ligações efetuadas e recebidas, mensagens de texto e áudio e mensagens de aplicativos de redes sociais.

R$ 250 mil
foi o limite do valor a ser bloqueado nas contas bancárias de 21 investigados, definido pela Justiça.

O que dizem as defesas dos investigados

O advogado Renan Bezerra Conde, que representa a defesa do investigado Davi Paulo da Silva Barbosa, afirma que, "em uma atitude desesperada do Estado por ausência do controle do crime organizado, está punindo e prendendo cidadãos de bem".

"Não está havendo a distinção entre cidadão x faccionado, diversas pessoas presas não tinham a intenção de cometer qualquer delito e não cometeram. O senhor Davi é uma delas".
Renan Bezerra Conde
Advogado

Conforme o advogado, Davi Barbosa nunca respondeu um procedimento criminal, já trabalhou com a carteira assinada e "há anos prestava serviços de internet, além de possuir um trabalho fundamental na comunidade de assistência a crianças autistas".

A defesa espera a absolvição do suspeito. "A defesa do Sr. Davi rechaça as acusações sem conteúdo probatório suficiente por parte das investigações policiais e do Ministério Público Estadual e irá apresentar nos autos processuais as provas necessárias a fim de evidenciar a pessoa do Sr. Davi, que é cidadão, trabalhador, diferentemente do perfil traçado pelo Estado", afirma.

O advogado Pedro Henrique Bezerra dos Santos, que representa a defesa de Francisco Wesley Gomes Ferreira, afirmou que "Wesley não faz parte de nenhuma organização criminosa e que ele é mais uma vítima".

Já os advogados Rayssa Mesquita e Teodorico Menezes, que representam o investigado Thiago Oliveira Damasceno, "esclarece que nosso constituído foi vítima de extorsão por parte da organização criminosa, sendo coagido a participar do esquema sob grave ameaça a sua família e ao funcionamento de sua empresa".

O sr. Thiago denunciou formalmente as ameaças à autoridade policial, buscando a proteção estatal que é seu direito. Porém, o Estado falhou em protegê-lo e agora o criminaliza por ter sido forçado a ceder às ameaças concretas a sua integridade física."
Rayssa Mesquita e Teodorico Menezes
Advogados

A defesa ressalta que é "e inadmissível que aquele que buscou a proteção das instituições seja hoje criminalizado por ter sido forçado, sob coação irresistível, a ceder às ameaças contra sua integridade física e de seus familiares".

Os advogados de Thiago têm "plena confiança de que a tese defensiva será devidamente demonstrada no curso do processo, comprovando-se que o Sr. Thiago agiu sob coação irresistível, circunstância excludente de culpabilidade prevista expressamente em nosso ordenamento jurídico".

A defesa de José Felipe de Oliveira, representada pelos advogados Camila Bernardino e Ricarthe Oliveira, sustentou que "o caderno investigativo não traz provas de que seu cliente está envolvido com qualquer organização criminosa e que ainda está se inteirando de todo o inteiro teor da investigação policial". 

No momento oportuno, demonstrará, de forma clara e objetiva, a inocência do seu constituinte, confiando que o Poder Judiciário saberá, com isenção, separar o joio do trigo, fazendo prevalecer a verdade real e a Justiça."
Camila Bernardino e Ricarthe Oliveira
Advogados

O advogado João Alfredo Carneiro, que representa a defesa de Francisco David Aparecido, afirma que o cliente "é inocente das acusações que lhe foram imputadas. Desde o início do processo, a defesa tem colaborado de forma transparente com todas as autoridades competentes, apresentando provas contundentes, testemunhos idôneos e elementos técnicos que demonstram, de forma inequívoca, que meu constituinte jamais participou ou contribuiu para qualquer ato ilícito, estamos confiantes na verdade dos fatos e no correto funcionamento da Justiça".

O Sr. Francisco David não possui qualquer antecedente ou envolvimento com práticas ilícitas e tem sua reputação construída com base em princípios éticos e responsabilidade. Reafirmamos nossa confiança plena na apuração criteriosa dos fatos e na absolvição de quem nunca deveria ter sido acusado e preso."
João Alfredo Carneiro
Advogado

Ainda segundo a defesa, "por respeito ao sigilo do processo e aos trâmites legais, não divulgaremos detalhes das provas que sustentam sua inocência, mas asseguramos que a verdade prevalecerá".

As defesas dos outros investigados não foram localizadas ou não se manifestaram sobre a investigação contra eles. O espaço segue aberto e a matéria será atualizada, se houver manifestação.

Série de ataques a operadoras de internet

As extorsões e expulsões de operadoras de internet, promovidas pela facção Comando Vermelho, se intensificaram no mês de março de 2025 e resultaram em uma série de ataques criminosos às empresas, em Fortaleza, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) e Interior do Estado.

Veículos das empresas foram incendiados, lojas foram invadidas e também incendiadas, postes foram danificados e fios, cortados, nas ações criminosas. Pelo menos dez empresas do ramo decidiram fechar as portas, devido às ameaças e aos ataques.

A Polícia Civil deflagrou a Operação Strike, em várias fases, para repreender e punir os responsáveis pelos ataques criminosos, nos meses seguintes. Até a última sexta-feira (18), 79 suspeitos de participar das ações criminosas - entre lideranças da facção carioca, executores dos crimes e empresários do ramo de provedores de internet comparsas do crime organizado - foram presos.

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