PF chegou a líder de facção paulista no Porto das Dunas após prisão de condenado por furto ao BC

Lideranças da facção continuam a ver o Ceará como um esconderijo onde podem levar uma vida de luxo

Escrito por Messias Borges , messias.borges@svm.com.br

Lideranças de uma facção criminosa paulista, com atuação em todo o Brasil e até em outros países, continuam a ver o Ceará como um esconderijo onde podem levar uma vida de luxo. Era assim que viviam Odemir Francisco dos Santos, o 'Branco', e um irmão, foragidos da Justiça de São Paulo, até serem descobertos pela Polícia Federal (PF) após a prisão de outro integrante do grupo criminoso, condenado por furto ao Banco Central em Fortaleza, em 2005.

Odemir e Gustavo dos Santos foram presos em condomínios de luxo no Porto das Dunas, em Aquiraz, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), e no bairro Cidade dos Funcionários, na Capital, respectivamente, na última quinta-feira (11), em decorrência de mandados de prisão expedidos pela Justiça de São Paulo.

Já eram pessoas com mandado de prisão em aberto. Todas as unidades que trabalham com investigação relacionada ao tráfico de drogas têm ciência que essas pessoas estavam foragidas. E em uma das investigações que estava correndo regionalmente, foram colhidas informações sobre o local onde eles poderiam estar. Foi aprofundada a investigação e confirmada."
Olavo Athayde Pimentel
Delegado federal

A reportagem apurou que o ponto de partida para a prisão de Odemir e Gustavo foi a detenção de Davi Salviano da Silva, o 'Véi Davi', de 58 anos, também realizada pela PF, no bairro de Fátima, em Fortaleza, no último dia 26 de outubro.

'Véi Davi' foi condenado a 47 anos de prisão pela Justiça Federal no Ceará, por ser um dos líderes do furto de R$ 164 milhões do Banco Central em Fortaleza, em agosto de 2005 - mas teve a pena reduzida para 17 anos na Instância Superior. Ele foi preso no mês seguinte à descoberta do túnel, junto de quatro comparsas, em uma residência no bairro Mondubim, na posse de R$ 12,5 milhões em espécie.

Em entrevista ao Diário do Nordeste em 2020 (15 anos do furto milionário), o delegado federal aposentado Antônio Celso - que comandou a investigação do caso - afirmou que 'Véi Davi' mandava mais no grupo que o cearense Antônio Jussivan Alves dos Santos, o 'Alemão', que ficou mais famoso pelo crime.

O 'Alemão' não era o chefe do negócio. Ele quem levantou a fita, como dizem no linguajar dos bandidos. O 'Véi Davi', por exemplo, mandava mais no grupo que ele. O 'Alemão' tinha uma ascendência maior com o pessoal do Nordeste. Os que tinham mais poder entre eles era o 'Véi Davi', Fernandinho e Moisés. Eram, inclusive, pessoas mais experientes que o 'Alemão'."
Antônio Celso
Delegado federal aposentado

A captura de 'Véi Davi' foi realizada em cumprimento a um mandado de prisão preventiva expedido pela 2ª Vara Federal em Uberlândia, Minas Gerais, onde ele é acusado de extorsão mediante sequestro e associação criminosa, devido ao sequestro de um gerente e de um funcionário da Caixa Econômica Federal (CEF) em março de 2003. Os filhos do gerente também foram feitos reféns pela quadrilha.

A Polícia Federal irá investigar a relação de 'Branco' e do irmão com 'Véi Davi' e o que a dupla fazia no Ceará. Bem como levantar informações sobre a propriedade dos imóveis de alto padrão onde moravam e a movimentação de contas bancárias. Além dos imóveis em Aquiraz e Fortaleza, a PF também cumpriu um mandado de busca e apreensão em um condomínio de luxo no Eusébio. Véiculos de alto valor, joias e R$ 10 mil em espécie foram apreendidos, além de um documento falso utilizado por Odemir dos Santos, motivo pelo qual ele vai ser indiciado por falsificação de documentos. Os presos se recusaram a prestar depoimento.

"Não se sabe muita coisa sobre eles. Eles estavam aparentemente escondidos, levando uma vida de alto padrão, em um condomínio de luxo. Não se têm detalhes sobre atuação criminosa deles aqui ou se estariam apenas escondidos. A partir da prisão deles e da apreensão do material, vai poder se aprofundar para saber se estavam ainda atuando, se formaram aqui uma nova célula criminosa ou se estavam respondendo à celula que pertenciam em São Paulo", afirma o delegado Olavo Athayde Pimentel, da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado.

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Atuação em outro furto a banco

Odemir dos Santos, o 'Branco', estava solto desde agosto de 2019, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu liberdade em um habeas corpus ingressado pela defesa. Em fevereiro de 2020, a decisão foi revogada pelo próprio Supremo após terem sido apresentadas informações que demonstraram a periculosidade do réu, bem como sua posição de destaque na organização criminosa, segundo a Polícia Federal.

'Branco' já foi condenado pela Justiça por participar de uma tentativa de furto a dois bancos no Rio Grande do Sul, no início de 2006, que aconteceria nos mesmos moldes do furto ao BC em Fortaleza. Mas a Polícia já monitorava o grupo criminoso, prendeu mais de 40 suspeitos e evitou um prejuízo de cerca de R$ 200 milhões para as instituições financeiras. Outras tentativas feitas pela facção paulista também foram frustradas, em outros Estados e até fora do País.

Em São Paulo, os irmãos Odemir e Gustavo respondem a processos criminais por tráfico de drogas, associação criminosa e porte ilegal de arma de fogo.

Outros líderes da facção no Ceará

Odemir não é a primeira liderança da facção paulista a se esconder no Ceará. A polícia cearense só descobriu que Rogério Jeremias de Simone, o 'Gegê do Mangue', e Fabiano Alves de Sousa, o 'Paca', moravam no Estado após os dois serem assassinados, em uma emboscada feita pelo próprio grupo criminoso, em fevereiro de 2018. A dupla também residia em condomínios de luxo no Aquiraz e no Eusébio.

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