Estratégia de túnel no Banco Central não serviu para outros furtos

Após ser surpreendida com túnel em Fortaleza, Polícia Federal conseguiu monitorar passo a passo e interromper escavações dentro e fora do País, frustrando o novo álibi adotado por faccções criminosas

Escrito por Melquíades Júnior , melquiades.junior@svm.com.br
Legenda: Túnel em Maceió (AL) que seguiria para agência da Caixa Econômica Federal

Não se rouba pelo túnel duas vezes. Pelo menos não para os escavadores de cofres bancários. Após o "sucesso" da retirada de R$ 164 milhões do "banco mais seguro do Ceará", a escavação por túnel veio em dois recados: para os criminosos, de que era possível; para os policiais, de que esse método existe e precisa ser combatido. Mas se o furto ao Banco Central "fez escola", ele também encarregou-se de entregar os planos futuros dos "toupeiras" da vez.

As investigações do crime em Fortaleza levaram os agentes da Polícia Federal, liderados pelo delegado Antônio Celso, a rastrear e monitorar os escavadores em outras cidades brasileiras e mesmo fora do País. Isso porque havia relação entre os crimes. "Depois que achamos números na agenda do Charles de Moraes (dono da transportadora que levou parte do dinheiro para São Paulo), conseguimos descobrir vários outros assaltantes, inclusive que também eram membros do PCC, e pensei: vamos monitorar, que eles podem querer fazer o mesmo em outro lugar".

Dito e feito. Seis meses após o caso de Fortaleza, membros da mesma facção Primeiro Comando da Capital faziam escavações para um furto bilionários em Assunção, capital do Paraguai. A ação foi descoberta após funcionários do banco ouvirem um barulho do subsolo. Um ano após o fim das escavações em Fortaleza, 26 pessoas faziam operação parecida no Rio Grande do Sul. Mas ali os principais líderes, aliados de "toupeiras" do Banco Central, já eram monitorados. Os criminosos pretendiam arrancar até R$ 200 milhões nas agências do Banrisul e da Caixa Econômica Federal, em Porto Alegre.

Legenda: Túnel escavado e sustentado por escoras de madeira em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul

"Big Brother"

"Chegou um momento em que eu conseguia assistir de minha casa o avanço das escavações. Um policial me perguntou quando saberíamos que eles estão perto. Como monitorávamos o que eles retiravam, Falei: vão primeiro pegar concreto, depois areia, e quando estiver em concreto novamente me avise, que é sinal de que chegaram ao cofre", explica Antonio Celso.

A operação da PF precisou ser antecipada, porque havia policiais civis com operações programadas para alguns alvos, o que poderia atrapalhar um ano de investigação. Foram presos, além dos 26 em Porto Alegre, outros 16 em diferentes estados. A operação para o furto frustrado custou aos criminosos cerca de R$ 1 milhão.

A 'Operação Toupeira' ainda resolveu outros casos, em Maceió (AL) e Campo Grande (MT). Não somente por se tratar do mesmo modus operandi, mas, conforme o caso de Porto Alegre, que os próprios envolvidos tinham relação com os escavadores de Fortaleza. A missão policial no Ceará pode não ter recuperado todos os R$ 164 milhões mas conseguiu evitar a subtração de outra quantia ainda maior em dinheiro de outros bancos.

A ousadia dos criminosos, no entanto, manteve-se mais de uma década após o caso BC. Em São Paulo, por pouco não se teria um furto ainda maior. Em outubro de 2017, a Polícia Civil de São Paulo descobre um túnel de 700 metros que seria usado para levar até R$ 1 bilhão do Complexo Verbo Divino, do Banco do Brasil, na zona sul da Capital. Para a empreitada, os ladrões escavadores investiram nada menos que R$ 4 milhões.

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