Operação Gênesis: 63 PMs e 100 traficantes já foram denunciados por integrarem quadrilhas no Ceará

Cinco policiais militares foram presos, nas duas últimas fases da Operação, deflagradas na última quinta-feira (2)

Escrito por Messias Borges , messias.borges@svm.com.br
Mandados judiciais contra policiais militares foram cumpridos com apoio da Assessoria de Inteligência da Policial Militar (Asint) e do Comando Geral da Polícia Militar do Ceará (PMCE)
Legenda: Mandados judiciais contra policiais militares foram cumpridos com apoio da Assessoria de Inteligência da Policial Militar (Asint) e do Comando Geral da Polícia Militar do Ceará (PMCE)
Foto: Divulgação/ MPCE

As dez fases da Operação Gênesis, deflagradas pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) e pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) em um prazo de dois anos e quatro meses, já resultaram na denúncia de 63 policiais militares e de mais de 100 traficantes, que se associaram para cometer crimes no Estado.

As denúncias formuladas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), do MPCE, foram aceitas pela Justiça Estadual, e os acusados se tornaram réus, por crimes como integrar organização criminosa, extorsão, roubo, tráfico de drogas e comercialização de armas.

Os 17 policiais militares e 14 traficantes, alvos da nona e da décima fases da 'Gênesis', que tiveram mandados de busca e apreensão cumpridos contra eles, na última quinta-feira (2), estão entre os 163 denunciados.

Os promotores de Justiça do Gaeco pediram pela prisão dos 31 acusados das últimas fases da Operação, mas a Justiça Estadual entendeu que haviam elementos suficiente para a prisão preventiva de apenas 5 denunciados - todos praças (soldado, cabo ou sargento) da Polícia Militar do Ceará (PMCE). A identidade dos réus não pode ser divulgada, porque os processos criminais seguem sob sigilo de justiça.

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Os mandados judiciais foram expedidos pela Vara de Delitos de Organizações Criminosas e pela Vara da Auditoria Militar do Estado do Ceará e cumpridos com apoio da Coordenadoria de Inteligência da SSPDS (Coin); do Departamento Técnico Operacional (DTO), da Polícia Civil do Ceará (PC-CE); e da Assessoria de Inteligência da Policial Militar (Asint) e do Comando Geral da Polícia Militar do Ceará.

De acordo com o coordenador do Gaeco, o promotor de Justiça Adriano Saraiva, o líder das duas organizações criminosas que se entrelaçavam era "um praça da Polícia Militar que organizava o restante dos PMs para realizar abordagens e extorsões. Os alvos tinham um certo poder aquisitivo e geralmente já tinham antecedentes criminais".

Por outro lado, os policiais utilizavam todo o aparato da Polícia, o sistema de informações, para saber quando a polícia estava na região. E recebiam propina para permitir que os traficantes comercializassem drogas e armas livremente."
Adriano Saraiva
Promotor de Justiça e coordenador do Gaeco

Os militares recebiam de R$ 2 mil a R$ 5 mil para proteger traficantes de diversos bairros, em Fortaleza e em três municípios da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) - Caucaia, Maranguape e Pacatuba, detalha Saraiva.

Promotores de Justiça e policiais cumprem 5 mandados de prisão preventiva e 31 mandados de busca e apreensão
Legenda: Promotores de Justiça e policiais cumpriram 5 mandados de prisão preventiva e 24 mandados de busca e apreensão, nas operações Gênesis IX e X
Foto: Divulgação/ MPCE

Outras fases da Operação Gênesis

O Ministério Público do Ceará detalha que a Operação Gênesis teve início no final do ano de 2016, "com o objetivo de desvendar as ações delituosas de grupos ligados a organizações criminosas, responsáveis pelo tráfico de drogas e armas, assaltos e homicídios na capital cearense e Região Metropolitana de Fortaleza. Durante a investigação, foi possível identificar o envolvimento de traficantes com policiais, que se estruturaram de forma organizada para realizar vários crimes".

A organização criminosa era integrada, em sua maioria, por agentes e ex-agentes de segurança pública do Estado, além de pequenos e médios traficantes locais. Juntos, eles praticaram uma série de infrações penais, notadamente os crimes de extorsão, organização criminosa, comércio ilegal de arma de fogo e outras condutas correlatas.

Ao total, já foram expedidos pela Justiça Estadual 104 mandados de prisão preventiva, assim como 137 mandados de busca e apreensão, nas dez fases da Operação Gênesis.

A série de reportagens "Maçãs podres: Quadrilhas formadas por policiais viram alvos das autoridades", publicada pelo Diário do Nordeste entre 1º e 3 de novembro do ano passado, destacou a Operação Gênesis e o trabalho realizado pelo Gaeco no combate a organizações criminosas compostas por agentes de segurança.

Relembre as outras fases da Operação:

  • Primeira fase (setembro de 2020): foram cumpridos 17 mandados de prisão e de busca e apreensão em Fortaleza e em Maracanaú. Do total de alvos, nove eram policiais militares da ativa, três eram policiais civis da ativa e cinco eram civis (sendo quatro homens suspeitos de atuarem como traficantes e um policial civil aposentado, apontado como o líder da organização criminosa). Leia mais.
  • Segunda fase (outubro de 2020): foram cumpridos 16 mandados de prisão e de busca e apreensão em Fortaleza e em Caucaia. Entre os alvos estavam três policiais militares e três policiais civis da ativa, nove suspeitos de tráfico de drogas e um ex-policial militar. Leia mais.
  • Terceira fase (maio de 2021): foram cumpridos 26 mandados de prisão preventiva e de busca e apreensão, sendo 21 contra integrantes de organizações criminosas (oito já recolhidos ao sistema penitenciário estadual) e cinco contra policiais militares do Ceará em Fortaleza e em Caucaia. Leia mais.
  • Quarta fase (julho de 2021): foram cumpridos 12 mandados de prisão preventiva e busca e apreensão, dentre eles sete mandados de condução coercitiva contra policiais militares e um mandado de prisão contra um militar apontado como líder do grupo, além de medidas cautelares restritivas em desfavor de todos dos suspeitos. Leia mais.
  • Quinta fase (setembro de 2021): foram cumpridos 5 mandados de prisão e de busca e apreensão expedidos pela Vara de Delitos de Organizações Criminosas em Fortaleza e Pacatuba. Ainda houve o cumprimento de mandados em três unidades prisionais do Estado. Na ocasião, foi desarticulada uma organização criminosa dedicada ao tráfico de drogas ilícitas, receptação e desmanche de veículos roubados. Leia mais.
  • Sexta fase (fevereiro de 2022): foram cumpridos 6 mandados de prisão preventiva e 9 mandados de busca e apreensão, todos na cidade de Fortaleza, havendo ainda o cumprimento dos mandados em duas unidades prisionais do Estado do Ceará. Nessa fase da operação foi desarticulada uma organização criminosa conhecida nacionalmente, com atuação preponderante no bairro Jangurussu, na capital, e que se dedicava ao tráfico ilícito de drogas. Leia mais.
  • Sétima fase (abril de 2022): foram cumpridos 11 mandados de prisão preventiva e 12 mandados de busca e apreensão na Capital, na Região Metropolitana de Fortaleza e no interior do Estado. Na ocasião, foi desarticulado um núcleo que integrava uma facção criminosa com envolvimento em tráfico de drogas ilícitas, comercialização ilegal de arma de fogo, dentre outros crimes, com atuação preponderante na região dos bairros Serrinha e Itaoca, em Fortaleza.
  • Oitava fase (julho de 2022): 6 mandados de prisão preventiva foram cumpridos, sendo 3 contra policiais militares e 3 contra traficantes que atuavam como "informantes" da organização criminosa. Outros 3 PMs são investigados por integrar a quadrilha, mas a Justiça Estadual negou os mandados de prisão contra eles. Leia mais.
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