Homem que esfaqueou ex-namorada vai a júri popular em Fortaleza

A mãe da vítima, de 72 anos, também foi agredida pelo homem no dia do crime e teve três costelas fraturadas.

Escrito por
Geovana Almeida* geovana.almeida@svm.com.br
Homem que esfaqueou ex-namorada vai a júri popular em Fortaleza, ao lado da vítima, Elisângela
Legenda: Francisco Ricardo está preso desde o dia do ocorrido.
Foto: Reprodução.

A 2ª Vara do Júri da Comarca de Fortaleza determinou que Francisco Ricardo Damásio de Oliveira, o 'Pelé', de 61 anos, seja julgado pelo Tribunal do Júri. O homem esfaqueou a ex-namorada Elisângela dos Santos Gomes, de 47 anos, dentro do imóvel onde a mãe da vítima morava

Elisângela sobreviveu, mas ficou com 283 pontos na cabeça e teve a orelha decepada. O caso ocorreu, no bairro Lagoa Redonda, em Fortaleza, em julho de 2025. 

Já a sentença de pronúncia, decisão para que ele seja julgado pelo Júri Popular, foi proferida no dia 1º deste mês. Damásio deverá ser julgado pelo crime de tentativa de feminicídio, mas ainda cabe recurso. 

Segundo o Ministério Público de Ceará (MPCE), o homem também poderá ser julgado pelo crime de lesão corporal contra a mãe da vítima, Maria de Fátima Queiroz dos Santos. A idosa, de 72 anos, teve três costelas fraturadas e o rosto cortado enquanto tentava proteger a filha. 

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Elisângela dos Santos afirmou em entrevista ao Diário do Nordeste que "quando a gente descobriu que Francisco vai a júri popular, a minha esperança aumentou para que ele seja realmente condenado. O feminicídio está se tornando comum. A gente precisa de leis mais severas, pra que eles não façam essas monstruosidades".

"A Justiça vai ser feita"

Francisco foi preso pela Polícia Militar do Ceará (PMCE), no bairro Lagoa Redonda, em Fortaleza, no dia do crime. Ele aguarda a marcação do julgamento no presídio. O homem possuía antecedentes por ameaças e difamação e foi autuado no 30º Distrito Policial. 

"Ele marcou a nossa família para o resto da vida e, infelizmente, a gente nunca vai conseguir se recuperar. Mas sabemos como é importante a força da sociedade no júri popular", afirmou a filha de Elisângela, a estudante de direito Letícia Santos, ao DN.

A advogada de Francisco, Jacilandia Santana, afirmou em nota a reportagem que:

"Existem contradições nos depoimentos apresentados e a defesa está comprometida a mostrar ao júri popular que os fatos não se deram da maneira como foi relatada. Se o réu for condenado será, mas na medida de sua culpabilidade". 

"Nesse dia, eu achei que iria perder minha mãe"

Segundo documentos obtidos pela reportagem, Francisco Ricardo Damásio pulou o muro da casa da mãe de Elisângela, por volta das 16h do dia 21 de julho. O homem correu em direção a vítima e a golpeou com uma faca na região da cabeça e dos braços. A mãe de Elisângela tentou segurar o homem quando foi golpeada e empurrada contra a parede.

Durante o atentado, duas crianças que estavam na residência correram pedindo ajuda. "O vizinho da frente entrou para tentar tirar o Ricardo de cima dela, só que não conseguia, porque ele não queria parar de esfaquear minha mãe", contou Letícia ao DN. 

O vizinho que intercedeu na cena afirmou em depoimento às autoridades que arrastou Francisco pelo pescoço, para o lado de fora da residência e o segurou enquanto os irmãos e cunhados da vítima a socorriam. 

Em depoimento às autoridades, Francisco afirmou que foi até a casa da mãe da ex-namorada para se resolverem diante do término do relacionamento. Segundo ele, Elisângela abriu o portão e afirmou que estaria o traindo.

A mulher então o teria golpeado com uma faca e eles entraram em luta corporal. O réu afirmou estar muito alcoolizado e não lembrar de mais detalhes. A defesa dele alegou que Francisco agiu em legítima defesa. 

Elisângela foi levada ao Instituto Doutor José Frota (IJF), onde ficou por mais de 32 dias internada. A mulher ficou em coma induzido, teve a orelha reconstruída, mas perdeu o movimento de um dos braços atingidos.

Mulher cortada com muitos pontos.
Legenda: A mulher levou 283 pontos na cabeça.
Foto: Reprodução.

Segundo depoimento da vítima, Francisco tentava golpear o seu pescoço e arrancou com faca pedaços do couro cabeludo da mulher, visíveis em imagens capturadas pela perícia. 

"Ele não aceitava o fim do relacionamento"

Elisângela e Francisco moravam no mesmo prédio, os dois mantiveram relacionamento por oito meses. Segundo depoimento de testemunha, Francisco já havia dado um tapa na cara de Elisângela em outra ocasião. "Com certeza a minha mãe não foi a primeira que ele agrediu, xingou, torturou psicologicamente, não foi", comentou a estudante Letícia.

Após o término do relacionamento, a vítima decidiu, por medo, ficar na casa da mãe por alguns dias. Antes de cometer o crime, Francisco mandou mensagens para familiares de Elisângela, dizendo que ficassem tranquilos, pois, "jamais faria mal a ela".

"É desesperador você ligar a televisão, abrir as redes sociais e ver diversos casos diariamente de mulheres que estão sendo mortas, de homens que estão tentando nos calar por nada. Colocar um fim no relacionamento já é motivo de homens tentarem nos matar. Isso não existe. É assustador"
Letícia Santos
Filha da vítima

Elisângela contou emocionada a reportagem que "Francisco, por exemplo, sempre demonstrou ser uma pessoa possessiva, cruel e maldosa, por isso que eu terminei e quero clamar por justiça ". 

A vítima sobreviveu ao ataque, mas tem problemas para dormir, dificuldades para sair de casa e lida com dores fortes. "Minha mãe não é a mesma pessoa de antes. Hoje ela não quer nem ter contato com ninguém que não seja a família. Se ela escuta um barulho diferente no portão, já imagina que é ele. A gente tem vivido um momento de terror", pontuou a estudante Letícia. 

Serviço

Doações para ajudar Elisângela dos Santos

  • Chave PIX - 75592690363
  • Elisangela santos Gomes 
  • Banco: Caixa Econômica Federal
  • Agência 0920
  • Conta 788637036-9

Como denunciar violência contra a mulher

Casos de violência contra a mulher podem ser denunciados às autoridades mediante diversos canais. Em caso de emergência ou para buscar ajuda, utilize os seguintes meios:

  • Ligue 180 (Central de Atendimento à Mulher): Serviço nacional que funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana, e é gratuito.
  • Ligue 190 (Polícia Militar): Em situações de flagrante ou emergência.
  • Procure uma Delegacia de Defesa da Mulher (DDM): Para registrar um Boletim de Ocorrência e solicitar medidas protetivas de urgência, amparadas pela Lei Maria da Penha.

*Estagiária supervisionada pelo jornalista Emerson Rodrigues.

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