De apoio psicossocial a reforço na segurança no júri de PMs: governo recebe 'Mães do Curió' pela 1ª vez

O primeiro júri de acusados da Chacina da Messejana está programado para acontecer em junho deste ano

Escrito por Emanoela Campelo de Melo , emanoela.campelo@svm.com.br
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Legenda: As mães se reuniram com o governador do Ceará, Elmano de Freitas, nessa quarta-feira (19)
Foto: Emanoela Campelo

Pela primeira vez, o coletivo 'Mães do Curió' foi recebido pelo Governo do Ceará. O grupo de mães das vítimas da Chacina do Curió ou da Messejana, junto a representantes da Anistia Internacional Brasil, o Cedeca e demais movimentos populares, estiveram no Palácio da Abolição, em reunião com o governador Elmano de Freitas para debaterem estratégias, como o pedido de reforço na segurança nas primeiras sessões dos júris dos policiais militares réus pelas mortes ocorridas em 2015.

Dentre as reclamações das mães está a ausência de uma assistência psicossocial efetiva aos familiares e sobreviventes do massacre. Conforme o assessor especial da Chefia de Gabinete, secretário Nelson Martins, há promessa por parte do Governo em buscar formas de reparação para as famílias e uma conversa entre o governador e o secretário da Segurança Pública e Defesa Social, Samuel Elânio, com intuito de reduzir a letalidade em intervenções policiais no Estado.

"A reunião foi amistosa. O governador ouviu todos que estavam presentes, começando pelas mães. Para todas as questões levantadas, ele deu respostas objetivas. Para o dia do julgamento falaram em ter logística de segurança para os familiares, para os promotores, defensores públicos, todos que irão participar deste momento. O governador se comprometeu a conversar com o Tribunal de Justiça para ver uma melhor garantia de segurança", disse Nelson Martins.

11 pessoas foram mortas na Grande Messejana, em Fortaleza, entre a noite de 11 de novembro e a madrugada de 12 de novembro de 2015.

Dos 34 PMs que devem sentar no banco dos réus, sete têm as sessões do júri agendadas. Mais de sete anos após a Chacina, a 1ª Vara do Júri de Fortaleza marcou os três primeiros julgamentos para os meses de junho, agosto e setembro deste ano.

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"NOSSOS FILHOS FORAM MORTOS PELA POLÍCIA"

Edna Souza, mãe do Álef Souza Cavalcante, é símbolo da causa 'Mães do Curió'. Para ela há um misto entre expectativa e preocupação à espera do primeiro julgamento.

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Legenda: O encontro aconteceu no Palácio da Abolição
Foto: Carlos Gibaja/Governo do Ceará

"Nossos filhos foram mortos pela Polícia e a gente não pode deixar um crime desse para lá. 11 pessoas assassinadas e sete pessoas sobreviventes, sequeladas. Nós, como mães, temos que dar a voz, correr atrás e lutar sim para que exista a Justiça de fato", disse Edna.

"A gente paga a Polícia para matar nossos filhos? Não tem como. Essa lentidão nos adoece, mas precisamos persistir e insistir e vamos conseguir. Só dele ter nos recebido, é uma porta aberta. Há quase oito anos nós batemos nesta porta. Agora existe uma esperança"
Edna Souza
Mãe do Álef

A coordenadora do Cedeca Ceará, Mara Carneiro, também esteve na reunião. Segundo ela, o momento foi importante e significou 'acolhimento' após anos de busca por uma conversa com o Governo do Estado. 

"Foi a primeira vez que o governador do estado do Ceará em exercício recebeu as Mães do Curió, que estão lutando por Justiça. Foi muito acolhedor, se comprometeu desde questões no campo da saúde mental, de assistência às vítimas e familiares e a segurança dessas vítimas. Uma preocupação dos familiares é em relação à proteção. Tem sido comum no Ceará vítimas de violência policial. É trabalhar para que as famílias e sobreviventes não sejam ameaçadas", afirma Mara.

1.229 pessoas foram mortas
Em intervenções policiais, no Ceará, nos últimos 10 anos (de 2013 a 2022), conforme dados da SSPDS coletados pelo Cedeca

"MEU FILHO AINDA TEM PROJÉTEIS NO CORPO"

Sílvia de Lima é mãe de dois sobreviventes da Chacina da Messejana. Um deles carrega até hoje projéteis alojados no corpo. As sequelas psicológicas são piores do que o fato da vítima de 28 anos ter perdido parte do movimento em um dos braços.

"O psicológico principalmente é ainda mais traumático. Minha filha não tem sequelas físicas, mas ela também é sobrevivente. Ela estava lá e conseguiu correr, dias depois ainda foi ameaçada, ficaram procurando por ela. Até hoje não vão mais ao local por medo. Agora, a gente espera ter respostas", conta Sílvia.

A primeira medida a ser tomada pelo Governo deve ser relacionada à assistência psicossocial. Ainda para esta semana está programada uma próxima conversa, desta vez com a secretária dos Direitos Humanos do Ceará, Socorro França.

As 'Mães do Curió' também relataram ao governador pedido de reconhecimento do trabalho prestado pela Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública (CGD) nesta investigação e em outros casos que envolvem policiais enquanto suspeitos de crimes contra a vida.

"Foi pedida melhoria da estrutura da CGD. Promessa de ainda neste governo reestruturar a CGD, até mesmo com concurso público", conforme Nelson Martins.

 

 

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