Crime sob encomenda: dois PMs e um ex-PM vão a júri por morte de empresário

O homicídio aconteceu em Maracanaú. A família diz esperar por 'Justiça'.

Escrito por
Emanoela Campelo de Melo emanoela.campelo@svm.com.br
trecho de video de camera de seguranca mostrando quando homem armado mira e acerta vitima de homicdio na rmf.
Legenda: O crime foi flagrado por câmeras de segurança.
Foto: Reprodução.

Dois policiais militares e um ex-PM devem sentar no banco dos réus na próxima semana pelo assassinato de um empresário e tentativa de homicídio de um vendedor. O crime aconteceu em Maracanaú, cidade da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Conforme documentos obtidos pela reportagem, a execução teria sido encomendada por outros empresários que, supostamente, pagariam R$ 250 mil aos executores.

Vão a júri popular o sargento Gilson Valério da Silva, conhecido como 'Subvalério'; o PM Eliézio Ferreira Maia Júnior, conhecido como 'Gago'; e o ex-PM Lúcio Antônio de Castro Gomes, o 'Lução'. A sessão está programada para acontecer no dia 26 deste mês, a partir das 9h, no Fórum Desembargador José Evandro Nogueira Lima.

A reportagem não localizou as defesas dos réus

O trio de empresários estaria rivalizando com a vítima Kleber de Brito Quirino e a família dela, porque disputavam espaço no ramo de frigoríficos da região, no ano de 2019. Kleber morreu e o vendedor sobreviveu ao ataque.

Os empresários chegaram a ser investigados e houve busca e apreensão na casa deles, mas não houve provas e eles não chegaram a ser denunciados.

Veja também

A família da vítima diz acreditar "que essas pessoas que estão presas, e vão a julgamento, foram apenas contratadas pelos verdadeiros mandantes. Para nós da família foi uma perda imensurável, e foi muito difícil nos primeiros meses não só pela dor do luto e pela saudade, mas pelo fato de ele ter deixado um bebê".

"Esse julgamento é importante não só pelo fato de esperarmos Justiça ao terrível crime que tirou injustamente a vida do nosso querido Kleber, mas pelo mal que esses homens são capazes de fazer à outras pessoas caso sejam soltos".
Família da vítima

'MATADOR DE ALUGUEL'

Kleber estava no frigorífico no dia 20 de dezembro de 2019, por volta das 14h, quando homens armados chegaram ao local. Um homem chegou perguntando se havia vaga de emprego e quando avistou o alvo efetuou os disparos. O funcionário "também foi atingido, por erro de execução, mas sobreviveu".

Kleber foi atingido com oito disparos "sem qualquer possibilidade de defesa ou reação"

De acordo com documentos a que a reportagem teve acesso, "as investigações começaram a ter um rumo mais concreto quando o pai da vítima foi reinquirido. Na ocasião, ele disse que suspeitava que o crime pudesse ter relação com a concorrência em seu ramo empresarial".

Meses depois, uma mulher foi à Delegacia de Homicídios informando que Jonathas Ferreira Lima, reconhecido como executor de Kleber, foi assassinado. Jonathas morreu poucos dias após o empresário e, de acordo com a denunciante, teria confessado a ela que ele e outros assassinaram Quirino em troca de dinheiro.

A investigação continuou até a Polícia chegar nos nomes dos PMs e do ex-PM. Lúcio Antônio teria sido contratado como 'matador de aluguel' para providenciar três homicídios, os dos administradores do frigorífico 'rival'. A recompensa pelo serviço seria de R$ 250 mil.

"Deste modo, "Lução" operacionalizou a empreitada criminosa, tendo suporte do subtenente Gilson Valério e de Eliézio Ferreira (soldado da polícia militar). Os 03 (três) aliciaram Jonathas Ferreira (ex-guarda municipal) do município de Acarape/Ce para que este executasse os membros da família".
MPCE

O plano foi colocado em prática, tendo os outros alvos não morrido porque não estavam no local no momento da execução.

A família da vítima recorda que "Kleber era uma pessoa alegre, responsável, que se dava bem com todo mundo. Quando aconteceu ficamos sem chão, sem entender como era possível algo do tipo ter acontecido com ele, pois ele não tinha envolvimento com nada de errado, era trabalhador, pai de família, uma pessoa boa".

" O crime aconteceu de uma forma muito covarde em dois sentidos, primeiro porque de acordo com os falatórios da região, o motivo do crime foi devido à inveja e a ganancia da empresa concorrente, e segundo porque o executor chegou conversando e de repente atirou. O que demonstra o tamanho da crueldade das pessoas envolvidas nesse crime"
Família da vítima

FICHA DOS DENUNCIADOS

Gilson Valério e Lúcio Antônio foram presos em abril de 2021. Dois meses depois, Eliézio foi capturado. No mesmo ano, o Ministério Público do Ceará (MPCE) ofertou a denúncia e a Justiça aceitou.

Em 2023, a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) publicou no Diário Oficial do Estado (DOE) portaria instaurando conselho de disciplina contra Gilson e Eliézio acerca do assassinato do empresário. 

Lúcio já tinha antecedentes criminais por outro homicídio em Maracanaú e disse às autoridades que foi expulso da PMCE "em razão de estar de licença e flagrado fazendo segurança".

O outro homicídio ao qual Lúcio se referia era o do comerciante Francisco Valter Portela. Já neste ano de 2025 ele foi absolvido. 

Eliézio também era um nome conhecido na Polícia Civil. Ele é um dos denunciados pela Chacina do Curió, ocorrida há 10 anos.

Estava previsto que Eliézio fosse a júri popular devido à chacina, neste ano de 2025. No entanto, após pedido da defesa e parecer favorável do Ministério Público do Ceará (MPCE) e da assistência de acusação, a Justiça do Ceará suspendeu o julgamento do acusado, que se declarou com 'insanidade mental'.

Este conteúdo é útil para você?
Assuntos Relacionados