Ceará registra uma ocorrência de expulsão de moradores por facção a cada 3 dias

Fortaleza teve 143 registros, em 1 ano e 9 meses, segundo o relatório da Polícia Civil.

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Redação producaodiario@svm.com.br
(Atualizado às 12:40)
A foto mostra pichações da facção criminosa Comando Vermelho em um muro branco, em Fortaleza.
Legenda: Facções criminosas disputam territórios e ordenam expulsões de moradores no Ceará.
Foto: Yago Albuquerque/ Arquivo DN.

Um relatório da Polícia Civil do Ceará (PCCE) aponta que o Ceará teve 219 ocorrências de expulsões de moradores, por facções criminosas, em 1 ano e 9 meses. Isso representa uma expulsão a cada 3 dias, aproximadamente.

O dado, que abrange o período de janeiro de 2024 a setembro de 2025, faz parte de um relatório do Núcleo de Inteligência Policial (NUIP) do Departamento de Repressão ao Crime Organizado (DRCO), elaborado no último dia 17 de outubro.

[Atualização - 05/11/2025, às 12h40] Após a publicação da reportagem, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) enviou nota em que destaca que "tem empreendido esforços, em conjunto com a Coordenadoria de Inteligência (Coin/SSPDS) e com as Polícias Civil do Estado do Ceará (PCCE) e Militar do Ceará (PMCE), para coibir episódios de ameaças e deslocamentos forçados de moradores".

De agosto a outubro deste ano, 33 suspeitos foram presos, em virtude de cumprimento de mandados de prisão ou por flagrantes, por envolvimento em ocorrências de deslocamentos forçados. No mesmo período, 39 mandados de busca e apreensão foram cumpridos. Atualmente, 21 investigações por parte da PCCE estão em andamento."
SSPDS
Em nota

(Leia a nota da SSPDS na íntegra ao fim da matéria).

Conforme o documento da Polícia Civil, "a maioria das ocorrências está concentrada na Capital, totalizando 143 registros, com destaque para os bairros Ancuri, Prefeito José Walter, Vicente Pinzón e Jangurussu".

Confira os bairros com mais expulsões em Fortaleza:

  • Ancuri - 16 ocorrências de expulsões de moradores;
  • Prefeito José Walter e Vicente Pinzón - 15 ocorrências;
  • Jangurussu - 8 ocorrências;
  • Barra do Ceará e Papicu - 7 ocorrências;
  • Canindezinho: 6 ocorrências.

O relatório que a reportagem teve acesso foi anexado a um inquérito policial, aberto pelo 30º Distrito Policial (30º DP), sobre a prisão em flagrante de dois suspeitos de integrarem a facção carioca Terceiro Comando Puro (TCP) e de expulsarem moradores do Condomínio José Euclides, no bairro Jangurussu, em Fortaleza, no último dia 29 de outubro.

Gleilson dos Santos Rosa e José Vitório Barbosa da Silva também estariam revirando os imóveis e roubando pertences dos moradores expulsos. A dupla teve a prisão preventiva decretada pela Justiça Estadual.

Veja também

Região Metropolitana de Fortaleza

O conflito entre facções e as expulsões de moradores se intensificaram nas cidades da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), nos últimos meses.

Maranguape, considerada a cidade mais violenta do Brasil em 2024 - conforme a pesquisa do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025 - teve o maior número de ocorrências de expulsões de moradores na RMF, segundo o relatório da Polícia Civil do Ceará.

Confira as cidades com mais expulsões na Grande Fortaleza:

  • Maranguape - 19 ocorrências de expulsões de moradores;
  • Maracanaú - 16 ocorrências de expulsões de moradores;
  • Caucaia - 15 ocorrências de expulsões de moradores;
  • Pacatuba - 2 ocorrências de expulsões de moradores.

Somente o bairro Novo Maranguape, localizado em Maranguape, teve 11 ocorrências de expulsões de moradores.

Apesar de apenas duas ocorrências serem registradas pela Polícia em Pacatuba, mais de 30 famílias foram afetadas pelas ordens de uma facção, na comunidade do Jacarezal, no fim de setembro deste ano.

A reportagem recebeu informações que integrantes da facção carioca Comando Vermelho (CV), que pretendem tomar o domínio do tráfico de drogas no Jacarezal, teriam ordenado que moradores saíssem de aproximadamente 30 imóveis. A região era ocupada por membros da facção cearense Guardiões do Estado (GDE).

Três homicídios ocorridos na região, na mesma época, também poderiam estar ligados ao conflito entre as organizações criminosas. Os crimes são investigados pela Polícia Civil.

Ocorrências no Interior do Estado

O relatório da Inteligência da Polícia Civil também aponta que a cidade de Sobral, na Região Norte do Ceará, concentra o maior número de ocorrências de expulsões de moradores no Interior do Estado, em 1 ano e 9 meses: 7 casos.

As ocorrências foram registradas nos bairros Centro (3), Sumaré (2), Caiçara (1) e Santa Casa (1). 

Após Sobral no ranking, está a cidade de Quixadá, no Sertão Central do Ceará, com duas ocorrências de expulsões de moradores.

O Município de Morada Nova também foi afetado pela "guerra" entre facções criminosas. No Distrito de Uiraponga, houve um "abandono em massa de famílias inteiras, obrigadas a deixar suas casas após receberem ameaças de morte caso permanecessem", segundo o relatório policial.

A Polícia cearense trata as expulsões de moradores de casas, por facções, com o nome de "deslocamentos forçados".

"Essas facções vêm expandindo sua tentativa de controle sobre áreas urbanas e periféricas com intuito de controlar o tráfico de drogas na região, explorar serviços clandestinos, extorquir moradores e comerciantes e recrutar jovens", resumiu o Departamento de Repressão ao Crime Organizado, no documento.

Leia a nota da SSPDS na íntegra:

"A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS-CE) informa que tem empreendido esforços, em conjunto com a Coordenadoria de Inteligência (Coin/SSPDS) e com as Polícias Civil do Estado do Ceará (PCCE) e Militar do Ceará (PMCE), para coibir episódios de ameaças e deslocamentos forçados de moradores. De agosto a outubro deste ano, 33 suspeitos foram presos, em virtude de cumprimento de mandados de prisão ou por flagrantes, por envolvimento em ocorrências de deslocamentos forçados. No mesmo período, 39 mandados de busca e apreensão foram cumpridos. Atualmente, 21 investigações por parte da PCCE estão em andamento. A prática, registrada em vários estados do país, que é parte da forma de atuação de grupos criminosos quando há acirramento entre eles, vem sendo combatida no Ceará a partir do mapeamento, monitoramento e prisões de suspeitos.

A PMCE, por meio do Comando de Prevenção e Apoio às Comunidades (Copac), realiza o monitoramento e mapeamento dos imóveis que são parte de ocorrências de ameaças a moradores. Em caso de identificação de casas reocupadas por outras pessoas que não sejam os legítimos moradores, os policiais dão encaminhamento às medidas necessárias. Em um desses casos, houve prisão de suspeitos que teriam recebido dinheiro pela venda de um imóvel. As investigações ficam a cargo da PCCE, com a coordenação da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco).

Desde o último dia 20 de outubro, a SSPDS realiza, por meio da Coordenadoria Integrada de Planejamento Operacional (Copol), a Operação Opus, com o intuito de coibir crimes, bem como desarticular grupos criminosos suspeitos de envolvimento com ocorrências de deslocamentos forçados. As ações, realizadas inicialmente no bairro Prefeito José Walter – Área Integrada de Segurança 9 (AIS 9) de Fortaleza, contam ainda com informações repassadas pela Coordenadoria de Inteligência (Coin/SSPDS) e de dados extraídos pela Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp). Ao todo, oito pessoas foram capturadas em 15 dias de operação.

Denúncias

A população pode contribuir com as investigações repassando informações que auxiliem os trabalhos policiais. As informações podem ser direcionadas para o número 181, o Disque-Denúncia da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), ou para o (85)3101-0181, que é o número de WhatsApp, pelo qual podem ser feitas denúncias via mensagem, áudio, vídeo e fotografia ou ainda via “e-denúncia”, o site do serviço 181, por meio do endereço eletrônico: https://disquedenuncia181.sspds.ce.gov.br/. O sigilo e o anonimato são garantidos."

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