UFC inicia análise de manchas de óleo que surgiram no Litoral Leste do Ceará

Pesquisadores do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) começaram a desenvolver, nesta segunda-feira (31), estudo de verificação de amostras coletadas em seis praias

Escrito por Lígia Costa , ligia.costa@svm.com.br
pedaços de vestígios oelosos na faixa de areia
Legenda: As manchas de óleo foram vistas inicialmente no dia 25 de janeiro na Praia de Canoa Quebrada, em Aracati
Foto: Reprodução

Após coletarem amostras (óleo, areia e água do mar) das manchas de óleo que se espalharam recentemente por, pelo menos, 15 praias do Litoral Leste cearense, pesquisadores do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC) iniciaram, nesta segunda-feira (31), o estudo de similaridade química com o material que atingiu a costa brasileira em 2019

O professor e pesquisador do Labomar, Rivelino Cavalcante, estima que o resultado da verificação deve ficar pronto dentro de "duas a três semanas"

Em nota, o Labomar detalha que os pesquisadores visitaram, na última sexta-feira (28), praias de Fortaleza (Sabiaguaba e Porto das Dunas), Beberibe (Praia do Canto Verde), Fortim (Pontal do Maceió), e de Aracati (Praia do Cumbe - foz do Rio Jaguaribe e Canoa Quebrada).

A partir da coleta das amostras, também será possível avaliar os níveis de hidrocarbonetos de petróleo nessas áreas e, consequentemente, a qualidade desses ambientes.

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Características apontam para material antigo

Os pesquisadores do Labomar encontram os vestígios oleosos nas seis praias visitadas. Devido às características de grande parte do material, não descartam se tratar de um material antigo.

"Em todas as praias visitadas foi verificado a presença do material, com uma maior incidência de material oleado com tamanho reduzido (vestigial), sem odor, e aparentemente sem viscosidade e umidade. Isso remete à possibilidade de um material antigo que sofreu as intempéries do ambiente, fortalecendo a possibilidade de o mesmo estar depositado no fundo do oceano (plataforma continental) e ter sido trazido pelas correntes marinhas nas últimas semanas", aponta nota do Instituto.

Influência de eventos oceanográficos

Considerando as características físicas do material e a sua distribuição na faixa de praia, os pesquisadores iniciaram estudos para também avaliar a possível influência dos eventos oceanográficos nas últimas duas semanas que antecederam a ocorrência do óleo no Ceará.

"A ação conjugada das ondas swell, amplitudes de marés elevadas e intensificação dos ventos de Norte, poderiam remobilizar o material depositado em algum trecho da plataforma continental interna, transportando-o para regiões mais próximas da linha de costa. Esse material, presente em áreas rasas, pode sofrer a ação das correntes longitudinais e ser transportados para outras praias mais a Oeste na costa do Ceará. Outras hipóteses estão sendo analisadas com base em processos morfodinâmicos e sedimentares que ocorrem na própria faixa de praia", diz outro trecho.

mão com luva mostra material oleoso misturado a algas
Legenda: Ibama no Ceará realizou uma vistoria em Icapuí-CE, seguindo no sentido Fortaleza, na quinta-feira (27)
Foto: Divulgação/Ibama-CE

Novo derramamento não está descartado

Como os vestígios oleosos - reportados desde o último dia 25 de janeiro no Ceará - estão praticamente todos concentrados no Litoral Leste, os pesquisadores do Labomar não descartam a possibilidade de um novo derramamento, anterior ou posterior ao maior vazamento já registrado na costa brasileira, em 2019. 

Assim como também não descartam a "ressuspensão do óleo de 2019, ou possivelmente material já lançado e que está depositado na plataforma continental de estados adjacentes à costa Leste do Ceará".

Monitoramento

Tendo em vista o novo surgimento de vestígios oleosos no Estado, o Instituto alerta para a importância de um "monitoramento sistemático dos impactos do derramamento de óleo nas praias, e principalmente no mar ao longo de toda a costa do Ceará, envolvendo equipes multidisciplinares".

E endossa a importância da pesquisa, da análise e da geração de dados, a longo prazo. É por meio disso que se torna possível fazer "a validação de hipóteses de forma mais rápida, a criação de cenários dos impactos remanescentes do evento de 2019, e principalmente a elaboração de estratégias de mitigação mais rápidas e eficazes no caso de futuros derramamento de óleos com impacto no litoral".

Além do professor Rivelino Cavalcante, assinam a nota os professores Lidriana Pinheiro, Alexandre Medeiros de Carvalho, André Henrique Barbosa de Oliveira e Antônio Rodrigues Ximenes Neto.

"Medidas mitigadoras" discutidas em reunião

Em comunicado divulgado à imprensa, a Secretaria do Meio Ambiente (Sema) informou que uma reunião virtual de alinhamento está sendo realizada, na tarde desta segunda-feira, para o estabelecimento de protocolos quanto ao surgimento de manchas de óleo no Litoral do Ceará.

O encontro é coordenado pela Sema e conta com a participação de órgãos de defesa ambiental, pesquisadores da universidade e ONGs, entre outros que integram o Grupo de Articulação Interinstitucional para tratar o tema.

“Juntos, vamos discutir a situação das nossas praias e as medidas mitigadoras e protetivas”, garante o titular da Sema, Artur Bruno.

Pelo menos 15 praias atingidas

Até o momento, a existência do material foi confirmada oficialmente em, pelo menos, 15 praias cearenses. São estas:

  1. Cumbe (Aracati);
  2. Canoa Quebrada (Aracati);
  3. Majorlândia (Aracati);
  4. Quixaba (Aracati);
  5. Lagoa do Mato (Aracati);
  6. Fontainha (Aracati);
  7. Canto da Barra (Fortim);
  8. Pontal do Maceió (Fortim);
  9. Porto das Dunas (Aquiraz);
  10. Prainha (Aquiraz);
  11. Praia do Iguape (Aquiraz);
  12. Prainha do Canto Verde (Beberibe);
  13. Praia do Futuro (Fortaleza);
  14. Sabiaguaba (Fortaleza)
  15. Abreulândia - Cofeco (Fortaleza).

 

 

 

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