Risco à saúde: Queimadas podem ocasionar crises asmáticas e até AVC, apontam especialistas

O segundo semestre do ano concentra 92% dos focos de incêndio no Ceará. Neste ano, as ocorrências devem ter maiores proporções por conta da vegetação mais densa

Escrito por Rodrigo Rodrigues , rodrigo.rodrigues@svm.com.br
Legenda: As queimadas podem ocasionar problemas de saúde aos moradores no entorno do local atingido.
Foto: Divulgação

O segundo semestre do ano concentra mais de 90% das queimadas no Ceará. Além de empobrecer o solo e prejudicar o ecossistema atingido, o método arcaico da chamada 'brocada', mas ainda utilizado para preparo do solo e descarte de lixo, também traz danos à saúde de moradores no entorno. O impacto vai desde intoxicação a um possível acidente vascular cerebral (AVC). A fumaça e fuligem produzidas podem ocasionar, também, problemas como asma, conjuntivite e irritação dos olhos e garganta, apontam especialistas.

Nos primeiros 10 dias de agosto, os incêndios em vegetação já superam o total observado em todo o mês de julho, no Ceará.

O neurocirurgião José Jr. Correia, ressalta que as queimadas, principalmente quando para descarte de lixo, acabam favorecendo o surgimento de fuligem, dióxido de enxofre, nitrogênio, ozônio e até ácidos aerossóis. “Prejudica a pele, a conjuntiva de crianças, vascularização sanguínea, aumentando a coagulabilidade e fatores de inflamações”, lista. “O mais comum são doenças pulmonares, enfisemas pulmonares, irritações, pneumonias e crises asmáticas”.

“Aumenta o índice de infartos, AVCs isquémicos, até de crescimento de aneuromistas tanto intracerebrais como extracerebrais”, aponta. 

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Em crianças, os danos podem ser graves. O pediatra Guilherme Vernachi recomenda que, caso a criança apresente febre, tosse ou irritação na região nasal, seja levada a um médico pediatra. “O ideal é evitar a automedicação para que seja evitado um problema mais grave”, ressalta. A urgência é ainda maior no contexto de pandemia. A ida ao especialista proporciona o diagnóstico mais preciso.

O ideal, segundo o especialista, é que, diante de um desses incidentes, os responsáveis deixem os menores em casa, com ingestão de bastante líquido.

Legenda: Juazeiro do Norte registrou pelo menos cinco incêndios nesta segunda-feira (10).
Foto: Divulgação

Queimadas

Na região de Iguatu, os primeiros dias de agosto já ultrapassaram o total de registros de todo o mês de julho (31 ocorrências). O Corpo de Bombeiros em Limoeiro do Norte atendeu, nos primeiros dias de agosto, pelo menos 14 incêndios em vegetação. Já Juazeiro do Norte, no Cariri, somou pelo menos 49 queimadas em 10 dias. Crato registrou nove. A maior parte é decorrente de interferência humana. 

Em Sobral, na região Norte, já foram 75 ocorrências de incêndio em vegetação nos primeiros 10 dias de agosto. Em todo o mês de julho, o Corpo de Bombeiro registrou 113.

Especialistas apontam que o segundo semestre concentra 92% dos incêndios florestais no Ceará. Neste cenário, o interior do Estado concentra as maiores incidências. O tempo seco, altas temperaturas, baixas umidades e ventos fortes favorecem a ocorrência dos focos. Neste ano, por conta da quadra chuvosa acima da média, a vegetação também ficou mais densa, o que pode favorecer incidentes de maiores proporções.

As queimadas contribuem, ainda, para o efeito estufa e os provocados pela baixa umidade do ar nos períodos secos. O Major Mardens, comandante do Comando de Engenharia de Prevenção de Incêndio de Sobral, explica que os danos são "irreparáveis ao meio ambiente", atingindo fauna e flora da região afetada. "Na zona rural, podem destruir plantações e, no meio urbano, uma edificação, provocando incêndios de grandes proporções".

"Nunca use fogo para queima de lixo ou limpeza de plantação. Colocar fogo em lixo e terreno é crime. Nunca use qualquer fonte de calor, por menor que seja, em locais de vegetação, principalmente se estiver seca e nem para limpar um terreno".
Major Mardens descata que, "ao perceber que está havendo uma queimada, entre em contato com o Corpo de Bombeiro o mais rápido possível, pelo telefone 193".

Emergência ambiental

O Ceará decretou no último dia 27 de julho estado de emergência ambiental para reforço no combate aos incêndios florestais e queimadas, mais frequentes no segundo semestre do ano. A medida vale para os meses de julho a janeiro de 2021. É a primeira vez na história que isso acontece para combate aos incêndios florestais, já que, normalmente, a medida é adotada em outras adversidades, como escassez hídrica ou inundações

Veja mais dicas para evitar incêndios:

  • Não jogar resto de cigarro ainda aceso ou qualquer outra fonte de calor em locais onde haja vegetação; 
  • Não jogar lixo pela janela do carro. Este material poderá servir de alimento para o fogo;
  • Fogueiras de acampamento devem ser feita em locais onde não haja vegetação. É preciso observar o sentido do vento para que as centelhas do fogo ou fumaça não iniciem um possível incêndio florestal;
  • Não soltar balão, maiores causadores de queimadas;
  • Nunca usar fogo para queima de lixo ou para a limpeza de plantação;

Legenda: Os últimos meses do ano concentram o maior número de queimadas no Ceará.
Foto: Honório Barbosa



 

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