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Quem é Sandro Fantinel, vereador gaúcho que ofendeu baianos

Nesta quarta-feira (1º), Polícia Civil de Caxias do Sul instaurou inquérito para apurar crime de racismo nas falas do parlamentar

Escrito por Redação ,
Sandro Fantinel
Legenda: Sandro Fantinel é vereador pelo Patriota e é apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro
Foto: Bianca Prezzi/Câmara Caxias

Após as declarações xenofóbicas do vereador Sandro Fantinel (Patriota) contra baianos, a Polícia Civil de Caxias do Sul (RS) instaurou, nesta quarta-feira (1º), inquérito para apurar crime de racismo nas falas do político, segundo informações do jornal O Globo

Na terça-feira (28), Fantinel discursava em defesa de empresas agrícolas que contrataram trabalhadores resgatados em condições análogas à escravidão, quando pediu aos produtores da região que "não contratem mais aquela gente lá de cima", se referindo a trabalhadores vindos da Bahia. Segundo o vereador, os funcionários da Argentina que seriam "limpos, trabalhadores e corretos".

Quem é Sandro Fantinel?

Empresário ligado ao agronegócio, Sandro Fantinel é apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e está no seu primeiro mandato como vereador. 

Eleito com 1.756 votos, em 2020, o empresário de 54 anos define o "Escola Sem Partido" como um dos objetivos de seu mandato como vereador de Caxias do Sul (RS).

Ele chegou a se candidatar a deputado federal nas eleições de 2018, mas renunciou à corrida eleitoral para dedicar-se exclusivamente à campanha de Bolsonaro. Em 2022, ele concorreu ao cargo de deputado estadual no Rio Grande do Sul, mas não foi eleito. 

O vereador é criador da Comissão Pró-Bolsonaro 2018, um grupo de apoio à candidatura do ex-capitão formado por empresários de direita. Nas redes sociais, o Fantinel tem fotos com o ex-presidente e posa com um fuzil.

Vereador
Legenda: O vereador Sandro Fantinel diz ter conhecido fuzil de grafeno em publicação no Instagram
Foto: Reprodução Redes Sociais

Comissão de ética

O vereador já enfrentou um processo na Comissão de Ética Parlamentar (CEP) após ter criticado a vacinação contra a Covid-19 no país e defendido que parlamentares que não pretendem se vacinar estariam preocupados com possíveis sanções da prefeitura.

Sandro teria insinuado que 16 vereadores haviam coagido o prefeito de Caxias do Sul, Adiló Didomenico (PSDB). Os parlamentares apontados assinaram indicação ao Executivo pela adoção do chamado passaporte sanitário para acesso a estabelecimentos no município.

Foi constatado que o vereador teria contrariado o Código de Ética ao acusar os parlamentares de coação. O processo, no entanto, foi avaliado pela comissão e arquivado.

Trabalhadores Resgatados

O discurso xenofóbico de Sandro Fantinel ocorreu após três trabalhadores entrarem em contato com a polícia, na última quarta-feira (22), após escaparem de local onde eram mantidos de forma compulsória, em Bento Gonçalves (RS). No mesmo dia, a corporação realizou uma operação em vinícolas da região, resgatando mais de 200 pessoas, que, assim como os homens, eram submetidos a trabalho análogo à escravidão em vinícolas gaúchas, no período de colheita das uvas.

Parte dos trabalhadores resgatados retornaram à Bahia na segunda (27), enquanto outra parcela preferiu permanecer no Rio Grande do Sul.

Sandro Fantinel chegou a dizer que os acontecimentos envolvendo a situação análoga à escravidão em Bento Gonçalves (RS) eram "exagerados" e "midiáticos".

Acusação de xenofobia

Durante seu discurso no plenário da Câmara Municipal, o parlamentar sugeriu que agricultores e empresas agrícolas contratem trabalhadores argentinos que, segundo ele, são "limpos" e "corretos", e não mais "aquela gente lá de cima".

"Não contratem mais aquela gente lá de cima. Conversem comigo, vamos criar uma linha e vamos contratar os argentinos. Porque todos os agricultores que têm argentinos trabalhando hoje só batem palma. São limpos, trabalhadores, corretos, cumprem o horário, mantêm a casa limpa e no dia de ir embora ainda agradecem o patrão pelo serviço prestado e pelo dinheiro que receberam", disse. 

O vereador afirmou que os baianos "vivem na praia, tocando tambor" e, por isso, "era normal que se fosse ter esse tipo de problema", em referência aos funcionários resgatados das vinícolas.

"Em nenhum lugar do estado, na agricultura, teve um problema com argentino ou com um grupo de argentinos. Agora, com os baianos, que a única cultura que eles têm é viver na praia tocando tambor, era normal que se fosse ter esse tipo de problema. Que isso sirva de lição, deixem de lado aquele povo que é acostumado com carnaval e festa para vocês não se incomodarem novamente", afirmou.

Fantinel alega ter sido mal interpretado

O vereador de Caxias do Sul disse ao Globo ter sido "mal interpretado" e ter dado as declarações "no calor da discussão". Ele afirmou ainda que pediu à Câmara para retirar sua fala dos anais.

"Fiz uma fala que foi um pouquinho infeliz. No calor da fala a gente diz coisas que depois se arrepende. Depois, no pequeno expediente, eu disse que eu jamais tenho alguma coisa contra os baianos, inclusive tenho amigos e primos que moram no nordeste, na parte mais norte do país. Não tenho absolutamente nada contra o povo baiano, citei (os baianos) porque estavam envolvidos no processo que está ocorrendo em Bento Gonçalves", afirmou o vereador. 

O parlamentar também negou ter chamado os baianos de sujos, dizendo estar se referindo à falta de limpeza em um alojamento que visitou em sua cidade.

 

 

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