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Naumi x Catanho: o que está em jogo no 2° turno da disputa pela Prefeitura de Caucaia

O retorno de um ex-prefeito ou a eleição inédita de um gestor do PT na segunda maior cidade Ceará podem mudar os rumos da política local

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(Atualizado às 09:39)
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Legenda: Naumi Amorim (PSD) e Waldemir Catanho (PT), em ordem na imagem, concorrem ao cargo de prefeito de Caucaia em segundo turno.
Foto: Kid Júnior e Reprodução/Redes sociais

Decidido por apenas oito votos no último domingo (6), o segundo turno da eleição à Prefeitura de Caucaia promete ser acirrado. Ainda que estejam de lados opostos na cidade, Naumi Amorim (PSD) e Waldemir Catanho (PT) representam grupos políticos unidos a nível estadual, mas que contam com a vitória local para objetivos distintos no segundo maior colégio eleitoral do Ceará.

Não é para menos: Caucaia tem importante peso econômico e turístico no Estado, a considerar pela alocação de parte do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) e pelos aportes feitos nas duas últimas gestões na orla da cidade, lembra Emanuel Freitas, professor de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece). 

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“Se uma cidade é importante do ponto de vista econômico, ela se torna também importante do ponto de vista político, como vitrine do governador e do presidente ter um prefeito aliado ali”, observa.

Marcos Paulo Campos, professor das universidades estaduais do Vale do Acaraú (UVA) e do Ceará (Uece), ainda lembra que esse crescimento econômico se reverte em alta da arrecadação de impostos por parte da Prefeitura, aumentando a importância na Região Metropolitana de Fortaleza.

Ocupar um cargo tão visado em um território que abriga mais de 240 mil eleitores ajuda a expandir sua influência pelo Estado, inclusive em eleições proporcionais. 

“Basta a gente dizer que, por mais de uma década, a família Arruda (com Zé Gerardo e Inês) governou Caucaia e manteve sempre uma cadeira na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal. Então é uma cidade que, de fato, guarda uma importância considerável no tabuleiro político do Estado”, lembra Emanuel. 

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Retorno de Naumi

Essa relação Legislativo-Executivo também se reflete em Naumi, que deixou a Assembleia Legislativa após ser eleito prefeito de Caucaia em 2016, para seu primeiro mandato de gestão. Em 2018, elegeu a esposa, Érika Amorim (PSD), como deputada estadual. Ele chegou a buscar a reeleição, mas foi derrotado em segundo turno por Vitor Valim (à época, no Pros, mas, hoje, no PSB). 

A diferença entre os dois, em 2020, foi apertada: o candidato do PSD conquistou 80.045 votos (48,92%), enquanto o adversário recebeu 83.588 votos (51,08%). 

Já em 2022, ainda que existisse a expectativa de eleição de Camilo Santana (PT) como senador, devido à popularidade do ex-governador, Érika decidiu também se candidatar ao Senado e não tentar um novo mandato no Parlamento Estadual. Nas urnas, ela recebeu 193 mil votos e ficou em 3º lugar. 

Sem mandatos eletivos atualmente, o casal prepara o retorno de Naumi à Prefeitura. Para ele, a empreitada pode representar uma reconstrução política, após a derrota de 2020. Marcos Paulo lembra que uma vitória agora seria importante para Naumi porque, inclusive, em 2022, ele concorreu a deputado federal, mas acabou ficando na segunda suplência da sua bancada na Câmara Federal. 

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Legenda: Naumi Amorim é o candidato do PSD em Caucaia.
Foto: Kid Júnior

Para Emanuel Freitas, um resultado exitoso em 27 de outubro representaria “uma vitória adiada em quatro anos”. “(Por outro lado), a derrota significaria para ele um certo comprometimento de seu capital político, uma vez que ele está disputando segundo turno com alguém que não tem história política em Caucaia, que é o Catanho, que veio de fora para disputar e mais ainda, seria até um referendo entre o governo de Naumi e o governo de Vitor Valim, que é um dos principais patronos da campanha do Catanho”, avalia.

Além disso, um resultado positivo em Caucaia ajudaria a reforçar o desempenho do PSD nacionalmente, já que o partido elegeu o maior número de prefeitos em primeiro turno, desbancando liderança carregada pelo MDB por anos. 

No Ceará, contudo, a legenda de Naumi elegeu menos gestores que em 2020, saindo de 28 para 15 vitoriosos nas urnas. O movimento já vinha se desenhando neste mandato, quando o partido perdeu quatro prefeitos para outras siglas da base do governo estadual, como PT e PSB. O próprio presidente do PSD Ceará, ex-vice-governador Domingos Filho, afirmou que Caucaia era “prioridade” para o partido em ocasiões anteriores, uma delas durante a convenção partidária que oficializou Naumi candidato.

Catanho e o PT

Waldemir Catanho chegou à disputa em Caucaia na esteira da desistência do atual prefeito de concorrer à reeleição e do conflito entre alas do PT Fortaleza, que levou à ausência da deputada federal Luizianne Lins na disputa na Capital durante o primeiro turno. 

Assim, a parlamentar decidiu apoiar um aliado antigo, secretário de governo por oito anos na sua gestão em Fortaleza e que, até a indicação a candidato em Caucaia, era o secretário de Articulação Política do Governo do Estado. A transferência de atenção ao município vizinho por Luizianne é vista nos bastidores como uma estratégia para reforçar sua presença em colégios significativos no Ceará, visando feitos maiores, como uma vaga no Senado em 2026. 

Aliado a isso, uma vitória em Caucaia naturalmente interessa lideranças como o ministro Camilo Santana (PT) e o governador, Elmano de Freitas (PT). Apesar de nutrirem boa relação com Naumi – Camilo apoiou o representante do PSD nas duas eleições que disputou à Prefeitura, e Elmano migrou para o lado de Naumi no segundo turno de 2020 –, é inegável que a prioridade é ter um petista na Prefeitura. 

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Legenda: Waldemir Catanho é o candidato do PT em Caucaia.
Foto: Divulgação

“Até porque o PSD pode ter voo próprio nas eleições de 2026, então é mais importante que o Catanho ganhe do que o Naumi”, indica Emanuel Freitas.

Ainda que o partido e os outros componentes do bloco governista tenham elegido o segundo maior número de prefeitos no Ceará em primeiro turno, perdeu alguns dos principais colégios eleitorais para a oposição, como Juazeiro do Norte e Sobral, é o que lembra Marcos Paulo Campos. Devido a isso, a vitória em Fortaleza e em Caucaia “demonstraria a força do grupo estadual”, afirma.

“A candidatura do Catanho representaria uma ampliação de forças, principalmente para a Luizianne, que foi a liderança que mais se envolveu na campanha do Catanho, mas também uma certa base eleitoral para o PT, mais do que para o governador, porque o partido governaria pela primeira vez uma cidade importante como é a Caucaia”, observa, também, Emanuel Freitas. 

“Então seria um teste da influência de Luizianne, para além de Fortaleza, e também uma manutenção de um certo território eleitoral que seria favorável ao governo na campanha de reeleição daqui a dois anos”, completa.

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Legenda: Emilia comentou o impasse pelas redes sociais.
Foto: Reprodução/Instagram

O fator Emília

Naturalmente, o desempenho eleitoral de Emília Pessoa (PSDB) enche os olhos dos candidatos no segundo turno, que, inclusive, já afirmaram o interesse de levar a deputada estadual para o seu lado. Ela ficou em terceiro lugar na disputa por uma diferença de oito votos em relação a Catanho.

No sábado (12), a tucana decidiu declarar apoio à candidatura de Naumi Amorim. "Só quero pedir a cada um de vocês que a gente saia anunciando pra toda a nossa Caucaia que nós não vamos dobrar nem para o trem. Onde o Naumi estiver, nós estaremos", disse a ex-candidata. 

O quarto colocado na disputa, Coronel Aginaldo (PL) já havia declarado apoio à campanha de Naumi.

Naumi Amorim e Coronel Aginaldo
Legenda: Naumi Amorim recebeu apoio de Coronel Aginaldo, do PL, no 2º turno
Foto: Reprodução

“Qualquer dos dois candidatos, se conseguir o apoio dela, terá um apoio fundamental. Ela sai grandiosa dessa eleição e permanecerá em evidência porque é deputada estadual, isso a cacifa ainda mais na reeleição para deputada estadual e mostrou, sim, a sua força política, que é igual à força política da máquina do Estado que estava aí presente na campanha do Catanho, então ela é aquele tipo de derrota que perde ganhando”, avalia Emanuel Freitas.

Além do reforço para uma futura eleição proporcional, os próximos passos de Emília interessam ao próprio partido, o PSDB. “É também importante ver que a Emília está no PSDB, que ensaia uma tentativa de se reconstruir no Ceará ou de não desaparecer por completo. Ela acaba sendo talvez um dos nomes mais importantes, certamente a mulher mais importante do PSDB nesse momento”, conclui Marcos Paulo.

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