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Disputa eleitoral em Maracanaú pode ter oposição unida e prefeito tentando alcançar 4º mandato

Grupo político liderado por Roberto Pessoa comanda a cidade há quase 20 anos e pode enfrentar uma candidatura unificada da oposição

Escrito por Luana Barros , luana.barros@svm.com.br
Pré-candidatos de Maracanaú
Legenda: Roberto Pessoa, Júlio César Filho, Lucinildo Frota e Júnior Mano são pré-candidatos à Prefeitura de Maracanaú
Foto: Divulgação/SVM

Como vencer um grupo político que está há quase duas décadas no comando da prefeitura? Esse é o desafio imposto à oposição de Maracanaú, que se prepara para enfrentar, nas eleições municipais de 2024, a possível candidatura à reeleição do prefeito da cidade, Roberto Pessoa (União Brasil) — líder do grupo político que governa o município desde 2005. 

Pessoa encerra, neste ano, o terceiro mandato à frente da Prefeitura de Maracanaú — os dois primeiros foram entre 2005 e 2012. Logo depois, elegeu o agora deputado estadual Firmo Camurça, que também foi prefeito por dois mandatos. Em 2021, Pessoa retornou ao cargo e, iniciando o último ano de mandato, disse estar "à disposição" do União Brasil para concorrer novamente à Prefeitura. 

Ele deve enfrentar, a princípio, três pré-candidaturas da oposição. Os deputados estaduais Júlio César Filho (PT) — que concorreu nas duas últimas eleições municipais de Maracanaú — e Lucinildo Frota (PMN), além do deputado federal Júnior Mano (PL). Pode ser, no entanto, que nem todos os nomes cheguem às urnas em outubro. 

Os três pré-candidatos têm dialogado com a perspectiva de unificar a oposição em uma única candidatura, chegando assim com mais força para o embate eleitoral contra Roberto Pessoa. Isso, porque, assim como na ampla maioria dos municípios cearenses, Maracanaú não tem 2º turno, com a eleição sendo definida logo no 1º turno. 

A escolhida deve ser "a (candidatura) mais viável", explica Júlio César Filho. Uma análise que deve perpassar não apenas quem performar melhor nas pesquisas de intenções de votos, mas também tiver "com mais condições de disputa" e "mais possibilidade de agregar", completa Lucinildo Frota. 

A definição deve ficar para o período mais próximo à janela partidária, que inicia no dia 7 de março e vai até 5 de abril, com abertura para troca de partido entre parlamentares municipais sem prejuízo para o mandato. Até lá, cada pré-candidatura de oposição possui desafios próprios para viabilizar o nome em busca de ser a candidatura escolhida para a disputa. Por outro lado, Pessoa deve enfrentar o desgaste gerado por cinco gestões seguidas ligadas ao mesmo grupo político — ponto que deve ser explorado pelos adversários. 

'Nome de consenso'

Potenciais adversários de Roberto Pessoa na corrida eleitoral apontam o "desgaste natural" da gestão como um dos principais pontos que pesam contra o atual prefeito. Ex-aliado a Pessoa, Lucinildo Frota reconhece que "o município avançou" durante as gestões ligadas ao prefeito, mas que houveram problemas nos últimos anos. "(Quero) mostrar que o município pode ter tido avanços, mas está deixando áreas primordiais em segundo plano", afirma.

Júnior Mano considera que existe "um sentimento de mudança" na população. "Até pelo período de vários anos à frente do Poder", pondera. "A população demonstra cansaço", concorda Júlio César Filho. 

O desgaste apontado pelos adversários, no entanto, não foi demonstrado nos resultados eleitorais obtidos pelo grupo político nas últimas eleições. Além da vitória nas cinco últimas disputas pela Prefeitura de Maracanaú, aliados a Pessoa tiveram bons desempenhos em 2022. 

Filha do prefeito, Fernanda Pessoa (União) foi a candidata a deputada federal mais votada no município, com mais de 27,4 mil votos. Já o ex-prefeito da cidade Firmo Camurça (União) foi o deputado estadual com melhor votação no município, com 26,9 mil votos. 

Indagado sobre a pré-candidatura à reeleição, Roberto Pessoa preferiu não cravar. "Se Deus permitir e meu partido me indicar, estarei à disposição", afirmou o prefeito, por meio da assessoria de imprensa. Presidente estadual do União Brasil, Capitão Wagner foi mais definitivo sobre o assunto: "Não há nem discussão em relação a outro nome. É o nome de consenso", disse. 

"A gestão do Roberto é super exitosa. Tem números favoráveis na infraestrutura, na Educação, na Saúde, também alavancou diversos setores. (...) Estamos focados em realizar as entregas e ter uma reeleição tranquila", continuou Wagner, que atualmente é secretário de Saúde de Maracanaú

No município, Roberto Pessoa também conta com ampla aliança de partidos — com a expectativa de mantê-los como aliados para a disputa eleitoral. A base aliada a ele tem, atualmente, partidos como o MDB, o PMN, o PCdoB, o PSDB e o Republicanos. 

Impasse no PT Maracanaú

Um dos partidos aliados à gestão Roberto Pessoa, no entanto, vive impasse quanto à disputa eleitoral de 2024. O PT integra a base aliada ao prefeito, inclusive fazendo parte do Governo. A Secretaria de Juventude e Lazer de Maracanaú é comandada por Nailton Marques, membro da Executiva Municipal do PT. A informação é do próprio Roberto Pessoa. 

A ala do PT Maracanaú, da qual faz parte, inclusive, a presidente do diretório municipal, Terezinha dos Santos, defende o apoio à reeleição de Pessoa. No entanto, o deputado Júlio César Filho já lançou a pré-candidatura à Prefeitura pelo PT. 

Ele afirmou que tem tido "diálogos" constantes dentro do partido para viabilizar a própria candidatura. "Buscando convencer da oportunidade do PT não ser mais um partido coadjuvante na política de Maracanaú, e sim principal. Está na hora de governar Maracanaú", ressalta Júlio César. 

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Resolução aprovada pela Executiva nacional do PT também pode ter repercussão no impasse vivido pelo partido em Maracanaú. No texto aprovado em outubro, ficou estabelecido que a homologação das candidaturas em municípios com mais de 100 mil eleitores — como é o caso do município cearense — será feita pela Comissão Executiva Nacional. 

O elemento "decisivo" dessa articulação, no entanto, deve ser o "posicionamento e a influência dos líderes (petistas)", aponta o deputado estadual. Ele cita o ministro da Educação, Camilo Santana (PT), e o governador Elmano de Freitas (PT) como fundamentais para a discussão. 

Além dos dois, ele também está conversando com o líder do Governo Lula (PT) na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT), e com o deputado federal José Airton Cirilo (PT), que possui ligação com o diretório municipal do PT Maracanaú. 

Júlio César tem ainda a expectativa de conseguir reunir, em torno do seu nome, aliança semelhante a que dá sustentação ao governador Elmano a nível estadual. Entre os partidos que ele disse já estar dialogando, estão PSD, Solidariedade e Podemos, além do PV e PCdoB, legendas que fazem parte da federação com o PT. 

O Diário do Nordeste entrou em contato com a presidente do PT Maracanaú, Terezinha Santos, e com o presidente do PT Ceará, Antônio Filho, para ter mais informações sobre como estão os diálogos dentro do partido sobre as eleições em Maracanaú, mas não obteve resposta. 

Às articulações internas no PT, somam-se as negociações com os outros dois pré-candidatos de oposição, Lucinildo Frota e Júnior Mano, para avaliar a viabilidade dos nomes e, então, "unir (a oposição) em uma candidatura só". "Apresentando um projeto alternativo a esse liderado, há quase 20 anos, pelo Roberto Pessoa", pontua.  

Desafios da oposição

Também em busca de tornar-se esse nome viável para a candidatura única, Lucinildo Frota como Júnior Mano tem desafios bem distintos durante os próximos meses. 

Com berço político em Nova Russas, onde possui a sua principal base eleitoral e cidade na qual já foi vice-prefeito, Mano terá que se tornar conhecido em Maracanaú — em 2022, por exemplo, ele teve apenas 1,4 mil votos na cidade. Para o deputado, no entanto, isso pode ser uma vantagem em relação aos demais pré-candidatos. 

"É um nome novo, não tão conhecido como eles. A rejeição é bem menor", argumenta. "Na unificação pode ter esse critério", exemplifica. Ele cita ainda que tanto Júlio César como Roberto Pessoa também não são naturais de Maracanaú. "Na Região Metropolitana, vários prefeitos não são enraizados”, argumenta. 

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Próximo ao prefeito de Eusébio, Acilon Gonçalves (PL), ele explica que o lançamento da pré-candidatura dele no Município faz parte de uma movimentação para disputar em diversos municípios da Região Metropolitana. Acilon e o filho, Bruno Gonçalves, prefeito de Aquiraz, devem tentar a reeleição, enquanto outras pré-candidaturas devem chegar para disputar o comando de cidades como Maranguape, Horizonte, Itaitinga e Pacajus, cita Júnior Mano. 

Este grupo, no entanto, não possui mais a presidência do PL no Ceará — que passou ao deputado estadual Carmelo Neto (PL), da ala mais ligada ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Júnior Mano, no entanto, diz que a própria pré-candidatura está confirmada "mesmo antes da mudança de presidência (estadual)" com o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto. 

No primeiro mandato como deputado estadual, Lucinildo Frota não tem o mesmo problema de Júnior Mano, já que construiu a carreira política em Maracanaú. Antes de chegar à Assembleia Legislativa, ele foi eleito para cinco mandatos como vereador da cidade. Ele considera, inclusive, que é o "nome mais competitivo dos três" colocados como oposição a Roberto Pessoa, com perspectiva de "empolgar mais" do que os demais.  

No entanto, o deputado ainda está sem um partido para sustentar a pré-candidatura. Eleito em 2022 pelo PMN, Frota já apresentou pedido de desfiliação partidária por justa causa à Justiça Eleitoral. Ele irá usar mecanismo da legislação que permite ao parlamentar se desfiliar sem perder o mandato caso o partido não tenha atingido a cláusula de barreira. 

Ele espera receber a autorização da Justiça Eleitoral em fevereiro, quando o Judiciário retorna do recesso. Os diálogos com novos partidos, no entanto, já têm ocorrido. Entre as possibilidades, estão o PSB, o PP e o MDB. "Irei fazer análise, até o prazo de filiação, para que possa tomar decisão acertada e disputar a prefeitura com condições reais", disse. 

Como fica a posição do Governo?

Tanto Júnior Mano como Lucinildo Frota confirmam as conversas sobre unificar a oposição, lançando apenas uma candidatura para enfrentar Roberto Pessoa, assim como mencionado por Júlio César Filho. "Nós estamos dialogando com essas outras pré-candidaturas no sentido de viabilizar uma aliança de oposição, unificando em uma candidatura única, a mais viável", explica Júlio César.

As pesquisas de intenção de voto devem nortear a escolha, mas não necessariamente por aquele pré-candidato com maior percentual de intenção de voto, considera Frota. Outros fatores como ter mais condições de disputa, menos rejeição e possibilidade de agregar aliados também devem influenciar. 

Alguns outros pontos devem ter impacto nessa definição. Um deles é como será a resolução do impasse dentro do PT Maracanaú e se existe uma possibilidade de aliança entre PT e PL — possibilidade descartada pelo presidente estadual do PL, Carmelo Neto. "A pré-candidatura do PL em Maracanaú nasce por um sentimento de mudança, de alternância de poder. Com o PT, nós não estaremos juntos, mas até a convenção com certeza vamos dialogar com outras forças", reforça. 

Existe ainda outro elemento que deve ter influência sobre a disputa: o posicionamento do governador. Júlio César Filho e Lucinildo Frota são da base aliada na Assembleia Legislativa. Apesar de serem de partidos opositores a Elmano, Júnior Mano e Roberto Pessoa também mantêm proximidade com o petista. 

O cenário não é incomum, com outros municípios tendo candidatos adversários, mas pertencentes à base aliada à gestão estadual.

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Em entrevista ao Diário do Nordeste, Mano falou sobre o "bom trânsito" que tem com o governo estadual. "Não impede que tenhamos o apoio", considera. Por sua vez, Roberto Pessoa disse que seria uma "honra" ter o apoio de Elmano à reeleição — em entrevista em março, o prefeito de Maracanaú ressaltou ter uma "amizade pessoal" com o governador cearense — mas disse ter "respeito à vontade dele, seja ela qual for".

Indagado, Lucinildo Frota disse ter conversado com Elmano e que o governador teria garantido que a relação com Roberto Pessoa é "institucional, nada de compromisso político", citou Frota. O deputado considera que o governo irá apoiar uma candidatura de oposição e que "com um prefeito alinhado (ao Governo Elmano), o município só tem a ganhar".

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