Após bloqueio de verbas, Cascavel suspende transporte de universitários para Fortaleza
O Município deixou de oferecer o serviço após bloqueio de recursos da gestão pela Justiça em processo sobre pagamento de precatórios
Estudantes universitários de Cascavel, na Região Metropolitana de Fortaleza, foram surpreendidos pela Prefeitura, na noite de domingo (9), com a suspensão do serviço diário de transporte gratuito até a Capital, onde estudam. Com dificuldade para chegar às suas instituições de ensino, muitos alunos perderam aula na segunda-feira (9). A retirada dos ônibus de circulação ocorre após bloqueio e sequestro de recursos do Município pela Justiça, devido à ausência de pagamento de precatórios a servidores públicos.
Dois dias após o comunicado, segundo a Associação dos Universitários de Cascavel (AUC), a gestão teria recuado e decidido restabelecer o deslocamento de alunos a partir da noite desta terça-feira (10). O secretário municipal de Educação, Rômulo Andrade, teria entrado em contato com a entidade informando sobre o desdobramento, de acordo com a nota divulgada pela AUC. Contudo, o PontoPoder buscou a Prefeitura de Cascavel para confirmar a informação, mas não obteve retorno.
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Era a entidade que realizava as viagens desde 2014, antes da Prefeitura começar a ofertar o serviço gratuitamente, em 2022. Pela experiência, em caráter emergencial, a associação conseguiu fretar dois ônibus para o translado com recursos próprios. Foram cumpridas duas rotas na manhã desta terça e programada mais uma para a tarde.
A AUC até chegou a recolher uma cota dos estudantes interessados no frete a fim de custear o deslocamento, mas o dinheiro será devolvido em breve, ainda conforme o comunicado.
O PontoPoder buscou a Prefeitura de Cascavel, gerida por Tiago Lutiani (PT), para esclarecimentos sobre os últimos desdobramentos relacionados ao deslocamento de estudantes para Fortaleza. Quando houver retorno, a matéria será atualizada.
Bloqueio de recursos
O revés judicial foi noticiado pelo PontoPoder no último dia 29. A decisão, aplicada no início de novembro, diz respeito a uma dívida de R$ 13,5 milhões em precatórios a 120 servidores da saúde e da coleta urbana, que moveram uma ação em 2003 contra o Município pelo não pagamento de adicional de insalubridade nos quatro anos anteriores. Até o fim do mês passado, segundo a Prefeitura, R$ 8 milhões já tinham sido retidos dos cofres municipais.
A gestão explicou anteriormente que a ação inicial englobava o período de 1998 a 2002, mas com a inadimplência dos governos seguintes, o montante aumentou até 2011, quando o caso transitou em julgado. A fase de liquidação e execução da sentença seguiu até 2022, quando o Município tomou conhecimento do precatório em R$ 10 milhões para pagamento até dezembro de 2023. A Prefeitura, então, pediu que o valor fosse parcelado, mas a Justiça negou “por ausência de previsão na Lei, bem como pelo fato de ter sido pedido após o vencimento do prazo para pagamento dos precatórios".
A resposta só foi enviada em julho deste ano. Após o vencimento, o sindicato que representou os servidores no processo solicitou o bloqueio e sequestro dos valores.
Segundo a gestão de Lutiani, o débito “supera qualquer expectativa financeira que se tenha em termos de arrecadação” e torna-se mais difícil de quitar no período de fim de ano, quando surgem obrigações financeiras como o pagamento do 13º salário para os servidores e o repasse de duodécimo da Câmara Municipal.
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Por isso, já existia o temor de que o serviço de migração pendular ofertado desde 2022 fosse afetado, mas nada havia sido confirmado até então. A suspensão levou temor à comunidade acadêmica local, considerando que o deslocamento até a Capital com a frequência necessária é bastante oneroso. É o que comenta Rayna Nunes, estudante de Direito na Universidade Federal do Ceará (UFC).
“A passagem do ônibus que tem aqui da rodoviária mesmo é muito cara, fora de cogitação. A gente não consegue ir a semana toda pagando R$ 30 todos os dias, sabe? Então, sexta-feira eu já tenho prova para fazer e não sei como vou conseguir ir”, disse Rayna, em relato ao PontoPoder na segunda-feira.
“Acabaram cortando o serviço do transporte universitário sem um aviso, um tempo considerável de antecedência para que a gente pudesse se organizar, procurar outros meios, porque é complicado para a gente achar uma saída aqui em cima da hora para conseguir chegar até a universidade, levando em consideração que é 1h30min para chegar até lá”, observou.
Além da UFC, a Universidade Estadual do Ceará (Uece) e o Instituto Federal do Ceará (IFCE) recebem alunos vindos de Cascavel diariamente, que também sofreram com o impasse sobre o transporte coletivo.
Contrapartida
Dois atos de defesa foram ingressados pela Procuradoria Geral do Município, um agravo interno e um mandado de segurança, este último ingressado no Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJCE).
A reportagem contatou o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), que acompanha e fiscaliza assuntos relacionados com as gestões públicas. O órgão, por sua vez, afirmou que acompanha o caso por meio da 1ª Promotoria de Justiça de Cascavel.
“No momento, o MP aguarda posicionamento da prefeitura acerca da previsão orçamentária para a realização do pagamento e sobre quais providências foram adotadas pelo Executivo Municipal para evitar a paralisação dos serviços públicos”, explicou o MPCE.
Já o TJCE informa que "o mandado de segurança encontra-se na seara de competência do desembargador relator que, de forma independente, vai decidir sobre o deferimento ou indeferimento do pedido".