Com uma passagem relâmpago, mas marcante, no comando do Ministério da Educação (MEC) em 2015, o senador licenciado Cid Gomes (PDT) relembrou, na última sexta-feira (16), a turbulência que passou quando esteve à frente da Pasta - que pode voltar a ser liderada por um cearense.
Cid foi titular do MEC por quase três meses (janeiro a março), no segundo mandato de Dilma Rousseff (PT) à frente da Presidência da República. Ele pediu demissão do cargo em 18 de março de 2015, dia em que foi ao plenário da Câmara dos Deputados explicar uma gravação vazada em que ele fazia acusações aos deputados.
Na ocasião, acabou reafirmando o que disse anteriormente e inflamou ainda mais os ânimos dos parlamentares, que pediram a exoneração do então ministro.
"A turbulência que eu enfrentei lá não teve nada a ver com a atuação do Ministério. Eu fiz uma declaração numa reunião fechada, em que se falava em aportar recurso da Educação. E eu disse que não podia fazer isso, porque o Orçamento nem tinha sido votado - naquele ano o orçamento foi votado só no fim de março e era janeiro. Eles insistiram dizendo que o Orçamento não foi aprovado por culpa do Executivo e eu disse que não não era culpa do Executivo. (...) Aí eu disse: 'não é bem assim, no Congresso tem muitos deputados e parlamentares que, para eles, quanto pior, melhor. É a oportunidade deles achacarem'", explicou sobre o episódio que acabou culminando em sua demissão.
"E essa essa minha conversa foi gravada e divulgada publicamente. Eu fui convocado a ir na Câmara e fui destratado - e não há nada que faça eu me submeter a destratos"
A turbulência envolvendo Cid no comando do MEC foi relembrada nesta sexta-feira (16), após reunião interna do PDT para decidir a posição da legenda no Governo de Elmano de Freitas (PT) no Ceará.
Relembre o caso
O grande estopim da rápida passagem de Cid pelo MEC foi quando ele se desentendeu com a própria base da presidenta Dilma e com o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (à época do PMDB-RJ). Naquela época, a gestão da petista já enfrentava desgastes após manifestações contrárias ao seu Governo.
Na gravação vazada à época, feita durante uma visita de Cid à Universidade Federal do Pará (UFPA) em fevereiro de 2015, ele disse que, no Congresso "tem uns 400 deputados, 300 deputados que, quanto pior, melhor para eles. Eles querem é que o Governo esteja frágil porque é a forma de eles achacarem mais, tomarem mais, tirarem mais dele, aprovarem as emendas impositivas".
As frases renderam uma convocação do ministro à Câmara dos Deputados para explicar o áudio. Na primeira convocação, agendada para 11 de março, ele faltou por estar doente e apresentou atestado médico. A sessão para ouvir o ministro foi remarcada para o dia 18 de março, mas a subida de Cid na tribuna do Parlamento Federal acabou piorando a situação - que culminou em um pedido de demissão no mesmo dia.
Na ocasião, ele disse que a gravação foi feita quando ele estava no gabinete do reitor da UFPA e que as falas refletiam sua opinião pessoal, e não a de ministro. Todavia, ao tentar se explicar, acabou repetindo as acusações e acrescentou novas críticas aos deputados.
"Partidos de oposição tem o dever de fazer oposição. Partidos de situação tem o dever de ser situação, ou então larguem o osso, saíam do Governo, vão para a oposição. Isso será mais claro para o povo brasileiro"
Ainda durante a sessão, Cid fez críticas diretas a Eduardo Cunha, do então PMDB (hoje o partido é MDB), que tinha a maior bancada na Câmara. Enquanto falava, Cid apontava o dedo para Cunha, que estava sentado na cadeira de presidente da Mesa Diretora - há poucos metros de distância do então ministro.
"Eu prefiro ser acusado por ele de ser mal-educado do que ser como ele: acusado de achaque, achaque, que é o que diz a manchete da Folha de S. Paulo"
Depois disso, deputados e partidos pediram a demissão de Cid. O plenário da Casa estava lotado.
O relator da convocação de Cid à Câmara para prestar esclarecimentos, ex-deputado Mendonça Filho (também do PMDB à época), subiu a tribuna da Casa e disse que "ou o ministro se demite do cargo, ou a presidente demite o ministrou ou os 400 deputados da base do Governo assumem que são achacadores".
Diante dos bate-bocas inflamados, Cid deixou a sessão e pediu demissão do cargo. Pouco tempo depois, Cunha anunciou a exoneração do então ministro ainda na mesma sessão.