O conselho de Cid Gomes para Camilo e Izolda caso ocupem o Ministério da Educação

Em 2014, nesse mesmo período, vivíamos a expectativa do governador que se despedia da gestão assumir o poderoso Ministério da Educação no Governo Dilma

Legenda: Cid Gomes, Izolda Cela e Camilo Santana são aliados há anos no Ceará
Foto: Reprodução/Twitter

Em 2014, quando deixava o Poder Executivo no Ceará, Cid Gomes (então no Pros, hoje no PDT) foi anunciado pela presidente reeleita, Dilma Rousseff (PT), para a pasta que carregava o foco de um governo, que tinha como lema “Brasil, pátria educadora”. No dia 1º de janeiro de 2015, enquanto Cid estreava no poderoso Ministério da Educação, os hoje cotados para o mesmo ministério, Camilo Santana (PT) e Izolda Cela (sem partido), davam os primeiros passos no caminho antes trilhado por Cid: o Governo do Estado. 

Quase oito anos depois, os caminhos seguem unindo as trajetórias. Camilo Santana e Izolda Cela são os nomes mais fortes para assumir a Educação no terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ambos têm na bagagem a trajetória de sucesso da área no Ceará, como Cid à época, e contam com a força eleitoral que agregaram, no Estado, à campanha de Lula pela presidência, o que Cid também havia feito por Dilma. 

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Mas tem um ponto que certamente nem Cid, nem Camilo, nem Izolda, nem ninguém espera ver se repetir: o completo caos que se tornou a passagem do pedetista pelo Ministério por um desgaste que, em nada, teve a ver com a gestão da educação. E é nesse ponto que Cid faz um alerta ao próximo ministro ou ministra:

“Muito cuidado com o que fala, porque pode ter alguém gravando”. 
Cid Gomes

“Às vezes a gente pensa que está falando internamente, e isso é natural, é da natureza humana. Você quando está falando em público, não é só na política, você tem certos recados; quando você está falando internamente, você se dá o direito de fazer um palavrão ou, enfim, de ser excessivamente sincero, que é o que chamam de ‘sincericídio’”, alertou Cid, na sexta-feira (16), após reunião com lideranças do PDT em Fortaleza. 

E para quem não se lembra bem do estopim da turbulência envolvendo Cid no Governo Dilma, foi justamente a gravação de uma declaração do então ministro que resultou em seu pedido de demissão do cargo.  

A gravação que resultou na demissão 

Pouco após assumir o ministério, durante visita à Universidade Federal do Pará, Cid deu a seguinte declaração em um evento fechado: “Tem lá (no Congresso) uns 400 deputados, 300 deputados que, quanto pior, melhor para eles. Eles querem é que o governo esteja frágil porque é a forma de eles achacarem mais, tomarem mais, tirarem mais dele, aprovarem as emendas impositivas”. 

Na época, havia um impasse envolvendo a aprovação do Orçamento e uma queda de braço do recém-eleito presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (MDB), com a presidente Dilma Rousseff.  A gravação de Cid imediatamente gerou burburinhos. 

Cid ainda tentou explicar que sua declaração não foi sua “opinião pública”, que a teria feito a um grupo de estudantes, dentro da sala do reitor da Universidade Federal do Pará, depois de ser questionado sobre a falta de recursos para a pasta. Ele lembrou também que, durante seu governo, manteve boa gestão com o Legislativo. Mas de nada adiantou. 

Cid Gomes na Câmara dos Deputados em março de 2015
Legenda: Cid Gomes na Câmara dos Deputados em março de 2015
Foto: Agência Câmara

Cid foi convocado para prestar esclarecimentos no plenário da Câmara dos Deputados e foi alvo de uma série de ataques de lideranças partidárias de oposição. O então ministro ainda pediu desculpas “a quem se sentiu ofendido”, mas, em certo momento, voltou a tecer críticas. Apontando ao presidente da Casa, Cid disse: “Prefiro ser acusado por ele de mal-educado do que ser acusado como ele de achaque, como diz a capa da Folha de S. Paulo”. 

O tumulto que se prolongou a partir dali resultou no ministro deixando o plenário após ser chamado de “palhaço” pelo deputado Sergio Szveiter (PSD-RJ) e ter o microfone cortado por Cunha. No mesmo dia, Cid anunciou seu pedido de demissão da pasta, em 18 de março de 2015.  

Na sexta-feira, o hoje senador lamentou o episódio. "Eu fui convocado a ir na Câmara e fui destratado - e não há nada que faça eu me submeter a destratos”, disse Cid. Neste domingo (18), a repórter Alessandra Castro resgata o episódio em matéria do Diário do Nordeste e traz a fala completa de Cid sobre a passagem no Ministério da Educação

Nesta nossa conversa, seguiremos falando do MEC daqui para frente. 

Vai ser Izolda ou Camilo (ou alguém que corre por fora)? 

Eis a resposta de milhões! E se você não conseguiu acompanhar também como os dois líderes cearenses foram parar nesse embate, aproveito para relembrar. Desde as eleições, Izolda era favorita para a pasta, dado o apoio a Lula, principalmente na reta final do 1º turno.  

Nos últimos dias, pressão interna do PT – que tenta emplacar o nome do deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG) - jogou os holofotes sobre Camilo Santana. Um convite direto do presidente eleito – como informou o colunista do Diário do Nordeste Inácio Aguiar – deixou Camilo num impasse: aceitar o convite ou arriscar indicar Izolda e perder a pasta para outro nome do PT. 

Nesse entorno, muitas críticas têm sido feitas ao PT por minar o nome de uma mulher altamente qualificada para o cargo por interesses político-partidários.  

A semana se encerrou, no entanto, com Camilo em alta nas apostas para o Ministério. Nesse fluxo, duas possibilidades são ainda ventiladas em paralelo: uma que Lula decida dividir a Educação em duas áreas (educação básica e ensino superior), o que facilitaria a acomodação; e outra que o ex-governador seja o ministro com Izolda na Secretaria de Educação Básica.  

Camilo, Izolda, Lula e Elmano durante campanha eleitoral
Legenda: Camilo, Izolda, Lula e Elmano durante campanha eleitoral
Foto: Divulgação

E onde está Cid nessa conversa? 

Na torcida, segundo ele. 

“Sinceramente, eu não conheço (os bastidores). O importante é que nós teremos dois cearenses, né? Um à frente do ministério, e o outro com uma... Não sei nem qual é, se já foi divulgada, é educação básica, que é a secretaria que tem maior interação com estados e municípios”, ressaltou o senador licenciado. 

Cid, claro, não poupa elogios à dupla e defende as indicações.  

"Eu acho ótimo para o Brasil, porque o que se tem hoje é uma compreensão de que o modelo cearense de Educação é o melhor modelo para servir de referência. Nessas áreas, você não inventa moda, né? O que se mostrou aqui no Ceará é que é possível, mesmo na dificuldade de recurso, você atingir índices de Educação que são referenciais para o Brasil. Então espero que essa dupla possa estender a boa experiência cearense para todos os estados e para todos os municípios do Brasil", ressaltou. 

Há outro conselho 

E ele acrescentou ainda mais um conselho, que vale para Camilo, Izolda ou quem quer atue na gestão da educação no país: 

“O conselho que eu dou ao Camilo e a Izolda é que implantem um modelo aqui, focar na alfabetização, ajudar os municípios, dar suporte aos municípios. Dessa forma a gente trabalha na linha de escola em tempo integral, que é o que o Ceará está fazendo, né?”. 

Que venham, então, as decisões nessa próxima semana. 

Ah, só mais uma curiosidade: 

A novela de Cid com Eduardo Cunha só se encerrou judicialmente em abril deste ano, quando o ministro Marco Aurélio Bellizze, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), encerrou uma ação judicial por danos morais movida pelo ex-presidente da Câmara dos Deputados. 

Foi mantida decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, que entendeu não ter havido ataque à honra de Cunha. 

*Esse texto foi publicado em primeira mão no sábado (17) na newsletter exclusiva para assinantes. Se você também quer fazer parte desse time, assine hoje o Diário do Nordeste.

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