Advogado de Bolsonaro ataca jornalista que revelou áudios sobre esquema de rachadinha
Colunista Juliana Dal Piva, do Uol, recebeu mensagens em tom de ameaça após publicar reportagem investigativa
O advogado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Frederick Wassef, atacou a colunista do Uol, Juliana Dal Piva, após publicação de reportagem investigativa que mostra o suposto envolvimento do presidente e de seus filhos no esquema de “rachadinhas”.
Ele enviou mensagens via WhatsApp para tentar intimidá-la. Em tom ameaçador, Wassef faz perguntas retóricas e diz que a jornalista deve se mudar para a China (ler abaixo).
“Faça lá o que você faz aqui no seu trabalho, para ver o que o maravilhoso sistema político que você tanto ama faria com você. Lá, na China, você desapareceria e não iriam nem encontrar o seu corpo”, disse o advogado.
Wassef ficou conhecido por esconder Fabrício Queiroz em sua chácara em Atibaia, em São Paulo. O policial militar é suspeito de participar do esquema de apropriação indevida dos salários de servidores quando trabalhou para o então deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL).
Leia a mensagem enviada à jornalista
"Queria te entrevistar. Voce e socialista ?? Comunista ???? Soldada da esquerda brava ??? E daquelas comunistas gauchas guerreira ??? Voce acredita mesmo que este sistema politico e bom para a sociedade e as pessoas ???? Por que voce nao vai realizar seu sonho comunista em Cuba, Venezuela , Argentina ou Coreia do Norte ??? Por que nao se muda para a grande China comunista e va tentar exercer sua profissao por la ???? Faca la o que voce faz aqui no seu trabalho, para ver o que o maravilhoso sistema politico que voce tanto ama faria com voce . La na China voce desapareceria e nao iriam nem encontrar o seu corpo. O mesmo ocorre na Venezuela , Cuba e outros paraisos comunistas. Entao por que voce luta fanaticamente com suas materias direcionadas e distorcidas da verdade para induzir em erro o publico ??? A esquerda te paga ??? Voce esta feliz e realizada por atacar e tentar destruir o Presidente do Brasil, sua familia e seu advogado ?????".
Entidades cobram providências
Jornalistas e entidades repudiaram o ataque e defenderam a liberdade da imprensa. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, informou que vai determinar que a corregedoria do órgão apure o caso “e tome as medidas necessárias”.
A Anistia Internacional disse que “a liberdade de expressão é um direito humano e deve ser garantido". "A Anistia repudia com veemência todo e qualquer tipo de ameaça contra jornalistas”, publicou.
A Transparência Internacional também repudiou o ataque e disse que "o crescimento do autoritarismo no Brasil representa uma séria ameaça à governança democrática global e deve ser contido".
"O corajoso trabalho da jornalista revelou evidências colossais de corrupção da família Bolsonaro, enquanto as autoridades brasileiras permanecem inertes", finalizou a publicação.
O que diz a reportagem
Em áudios divulgados pela jornalista Juliana Dal Piva, a ex-cunhada do presidente Jair Bolsonaro, a fisiculturista Andrea Siqueira Valle, relata como funcionava o sistema ilegal de devolução de parte do dinheiro recebido por assessores do político.
Na gravação, ela conta que Bolsonaro demitiu seu irmão, o produtor de eventos André Siqueira Valle, porque ele se recusou a cumprir o percentual acordado com os políticos. A quantia equivalia a quase 90% do salário.
"O André deu muito problema porque ele nunca devolveu o dinheiro certo que tinha que ser devolvido, entendeu? Tinha que devolver R$ 6.000, ele devolvia R$ 2.000, R$ 3.000. Foi um tempão assim até que o Jair pegou e falou: 'Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo'", explicou.
Após a divulgação dos aúdios, Frederick Wassef negou ilegalidades e afirmou que já existe uma antecipação da campanha de 2022.
Ele disse que os fatos narrados por Andrea "são narrativas de fatos inverídicos, inexistentes, jamais existiu qualquer esquema de rachadinha no gabinete do deputado Jair Bolsonaro ou de qualquer de seus filhos".
Wassef ainda afirmou que se trata de uma "gravação clandestina à qual não tenho acesso, não conheço o conteúdo e não foi feita perícia".