Setor produtivo e economistas cobram medidas econômicas
Empresários e especialistas esperam que o Governo do Estado decida por resguardar empregos e investimentos dos negócios cearenses, defendendo um novo decreto que possa socorrer indústrias, comércios e serviços locais
Diante das medidas adotadas, ontem (19), pelo governador do Ceará, Camilo Santana, economistas e representantes de setores produtivos afirmam que é preciso ainda definir ações para amenizar os impactos negativos gerados pelo decreto estadual.
Há ainda a expectativa de, nos próximos dias, o Governo do Estado anunciar mais medidas para conter os efeitos negativos causados pelo coronavírus na atividade econômica.
De acordo com o Lauro Chaves Neto, economista PhD em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, na Espanha, o primeiro ponto é um pacto entre o setor produtivo e o setor público. "Um pacto onde possa haver das duas partes medidas que reduzam a queda da atividade econômica, que permitam a manutenção do nível de emprego e que não zerem a arrecadação do poder público".
Segundo ele, as empresas terão queda no faturamento e vão precisar de capital de giro. "Então, a primeira medida que os governos Estadual e Municipal têm que fazer é uma postergação do recolhimento dos impostos por pelo menos 120 dias. Que esses impostos tenham tratamento diferenciado. Se eles não fizerem isso, as empresas vão quebrar. Na hora que você tem um pacto desse você consegue ter medidas para auxiliar o fluxo de caixa e consegue trabalhar com arrecadação".
Lauro Chaves acrescenta que o Governo do Ceará e a Prefeitura de Fortaleza têm a vantagem, em relação aos demais estados brasileiros e capitais, do equilíbrio fiscal. "Existe margem para essas medidas para a redução do impacto econômico e social para a crise", completa.
Curto e longo prazos
Para o presidente do Conselho Regional de Economia, Ricardo Coimbra, as medidas que estão sendo adotadas pelo Governo estadual terão impacto na atividade econômica no curto prazo. No entanto, o efeito será positivo a médio e longo prazos porque vai reduzir o avanço do novo coronavírus no Ceará. "Essas medidas terão um impacto na atividade econômica no curto prazo. Contudo, o efeito será positivo a médio e longo prazos, visto que se você conter o crescimento da doença, você terá uma possibilidade de recuperação da atividade econômica no ritmo mais rápido após esse período de contenção".
Micros e pequenos
Luiz Trotta, presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef-CE), indica que uma das medidas que poderiam ser adotadas pelo poder público para evitar o colapso da economia cearense seria dar suporte às empresas, principalmente, micro e pequenos negócios.
"O Estado pode dar uma folga para os comerciantes no que diz respeito aos tributos. Poderia também pensar em alguma forma de suporte para os empresários terem fôlego financeiro, como por exemplo, nas contas de energia, impostos estaduais e municipais. Permitir a flexibilização nos horários de trabalho e postergar compromissos para dar um fôlego de caixa", opina.
Debate por ajudas
Maurício Filizola, presidente da Fecomércio/CE, diz que é preciso apoio dos empresários para as medidas do governador Camilo Santana. Ele afirma que é necessário cada um contribuir e em um momento mais adequado será conversado o impacto econômico para as empresas. "E nós, como instituições, estaremos discutindo com o Governo medidas que tragam seguranças para empresas, para manter a saúde financeira das empresas".
Segundo Filizola, algumas medidas ainda vão surgir com o objetivo de amenizar o impacto negativo. "A questão relacionada à parte trabalhista, porque muitas empresas poderão estar com seus trabalhadores em dificuldade. E estando ou não funcionando, os encargos trabalhistas vêm. Nós tivemos casos em que o Governo participa ajudando as empresas a pagarem o salário dos servidores. Isso ocorreu nos EUA. Outro seria a possibilidade do ICMS ser pago em parcelas e outros encargos dos governos, para poder amenizar o fluxo de caixas das empresas. O ISS também ter um prazo diferenciado ou uma taxa menor para o período ou até uma isenção nesse período, porque nós não sabemos o impacto dessa crise, agora é que começou", avalia.
Efeito nos setores
Para economistas e representantes de setores econômicos, o Ceará deverá enfrentar impactos negativos na economia com o decreto estadual. Para Lauro Chaves Neto, isso é difuso e tem diferentes intensidades, dependendo de cada setor. "Se você pega o turismo, ele já está totalmente prejudicado. Não temos nenhuma perspectiva de turismo pelos próximos seis meses em nenhum lugar do mundo. Isso vai parar o turismo de lazer e de negócios", aponta.
Ele diz ainda que o comércio de bens essenciais vai sofrer menos com as medidas. "Isso porque as pessoas precisam comer e comprar remédio. Tem a indústria que produz esses bens que também vai sofrer menos. No outro lado, temos o comércio e a indústria de bens não-essenciais. Esses vão sofrer muito mais. Talvez uma perda não seja tão grande como a do turismo porque, diante da queda da renda e do aumento do desemprego, as pessoas vão ser mais prudentes no seu consumo", avalia.
Para Trotta, a crença na recuperação da economia antes do coronavírus foi abalada. "Muitos empresários estavam fazendo investimentos e agora estão descapitalizados. Sem vendas, isso vai ter um impacto financeiro e vai afetar indistintamente, mas principalmente os pequenos negócios. As micro, pequenas e médias empresas terão seríssimos problemas de caixa porque dependem de vendas. Com a medida, você está estrangulando a capacidade delas de fazerem negócios. Vamos ter uma leva de empresas passando por dificuldades", explica.
Turismo
O setor de turismo já sente os impactos negativos do coronavírus. Segundo Aldemir Leite, vice-presidente da Associação dos Meios de Hospedagem e Turismo (AMHT), hoje, o turismo de negócios é que está mantendo o setor no Estado.
"A partir do momento que fecha todo tipo de comércio, força essas pessoas a irem embora. Isso praticamente acaba com o turismo nesse período no Ceará. A gente tinha uma perspectiva de 70% de ocupação no feriado, depois passou para 50%, e na prática, agora, estamos com 40%. Com a medida, isso vai a zero de ocupação. As pessoas que estão aqui a trabalho vão embora", diz.
Leite afirma que não sabe ainda como ficarão os impostos, como IPTU, ICMS, Simples Nacional, entre outros. "Como fica essa situação? Como ficam os funcionários? Férias você dá no máximo por 30 dias e com isso você não sabe quanto tempo vai durar".
Para Ivana Bezerra, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis Ceará (ABIH-CE), as medidas terão certamente um impacto negativo no setor hoteleiro, mas reforça que são necessárias para conter o novo coronavírus. "Mesmo sabendo do impacto causado em nossos negócios, temos total consciência que o trade turístico é totalmente de acordo com o decreto. Mesmo os hotéis funcionando, nós sabemos que o comércio parado vai impactar no nosso negócio, mas sabemos que o mais importante neste momento são as nossas vidas", desabafa.
O presidente da Fecomércio-CE acrescenta que é possível que haja mais impacto na hotelaria e serviços relacionais ao turismo e eventos. "Nós não temos dados ainda. O empresário só vai ter um olhar mais para o lado da empresa quando isso tiver insuportável. Então, no momento, nós estamos pedindo e analisando, porque é a partir daí que nós teremos um mercado saudável, porque é assim que gera emprego".
O que mais determina o Decreto:
- Indústrias e empresas que funcionam ou fornecem bens para a Zona de Processamento de Exportação do Ceará, o Complexo Industrial e Portuário do Pecém e o Porto do Pecém devem ter as atividades mantidas
- No período de dez dias, a partir de 20 de março, restaurantes, lanchonetes e estabelecimentos congêneres poderão funcionar apenas por serviços de entrega, inclusive por aplicativo
- Não se aplica estas regras ao transporte de carga no âmbito do Estado