Por que a alta do diesel deve deixar carne, pão e outros produtos mais caros
Avaliação de especialistas é que altas no combustível devem elevar custos logísticos no País, que ainda depende muito do transporte rodoviário por caminhões
Do preço da carne ao do pão. As consequentes altas do valor de revenda do diesel, impostas por reajustes da Petrobras, devem gerar reflexos diretos em toda a cadeia produtiva no Ceará, afetando as negociações relacionadas à logística e os setores de bens e serviços. A avaliação é de economistas e especialistas ligados ao setor de combustíveis.
Mesmo sem saber precisar o impacto que o consumidor sentirá no mercado, o presidente do Conselho Regional de Economia Ceará (Corecon-CE), Ricardo Coimbra, prevê uma pressão inflacionária em vários setores nas próximas semanas.
"A carne que a gente consome vem do Mato Grosso, a cebola vem de Pernambuco, o trigo vem da Argentina ou do Sul do País, o algodão que usamos para fazer a produção de confecções vem da Bahia e do Sul. Diversos produtos vêm de outras regiões, e devemos ter um aumento de preços porque eles dependem do transporte rodoviário. Mas os aumentos dependem muito de cada setor e de como cada empresa lida com os custos logísticos, então não dá para prever", disse Coimbra.
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A opinião é corroborada pelo consultor da área de petróleo de gás, Bruno Iughetti. "Não ha dúvida que a alta do diesel desencadeia uma pressão inflacionária de todos os produtos que dependem do transporte rodoviário e ferroviário, então há de se esperar o desencadeamento de altas de preços em produtos destinados a usos industriais e pessoais que dependem do uso de caminhão ou trem", afirmou.
Por que o diesel está tão caro?
Segundo o presidente do Corecon-CE, como o Brasil ainda depende muito do transporte de produtos através das rodovias, utilizando o frete por caminhões, os reajustes aplicados no preço de revenda do diesel afetarão diretamente o tráfego de itens de bens e consumo no País.
Além disso, outro segmento que pode sofrer com a alta do combustível é o transporte público, gerando novos aumentos nos preços das passagens de ônibus, por exemplo.
"No transporte público, o aumento do diesel vai elevar o preço dos custos para as empresas e quando chegar no período de reajuste das passagens, as empresas vão apresentar para administração pública e isso pode gerar uma alta. Já os caminhoneiros podem parar porque eles têm contratos para operar trechos por um certo tempo pensando no custo daquele momento, mas se o preço do combustível aumenta ele vai negociar o aumento do preço do frete e isso influencia toda a cadeia", afirmou.
Alternativas de transporte
Coimbra ainda destacou que o Governo Federal precisa pensar, no futuro, em projetos para facilitar alternativas ao escoamento de produtos, seja pela cabotagem (navegação entre portos no mesmo país) ou pela utilização de veículos que usem outras fontes de energia, reduzindo o consumo do diesel.
"Em outros países, você não vê essa dependência tão grande do modal rodoviário, ou modais que dependem tanto do diesel. Essas altas do diesel geram aumentos em cadeia, e fica muito difícil gerar competitividade dos nossos produtos aqui ou lá fora se temos esse incremento de preço. É preciso pensar no médio e longo prazos em termos investimentos em modais para redução de custos logísticos de bens e serviços. É preciso tirar esse nó", explicou.
Variação do dólar
Segundo o presidente do Corecon, um dos fatores que influenciam o preço do diesel no mercado brasileiro é a valorização do dólar e do barril de petróleo cru no mercado internacional. Como a Petrobras adotou um sistema de atualização de preços que se baseia no mercado global, a variação do dólar ante o real pressiona consideravelmente o preço dos combustíveis no Brasil.
Considerando isso, Coimbra afirmou que a previsão é que sejam anunciados novos aumentos do diesel nas próximas semanas.
"A parte de câmbio vem subindo, e isso é determinante para a questão dos preços dos combustíveis. A gente viu a redução dos impostos como PIS/Cofins, mas isso não teve um grande impacto nos preços, então se o Governo não conseguir estabilizar o cenário econômico, com a vacinação, vamos continuar vendo essa pressão do câmbio. Só veremos a estabilização do preço dos combustíveis quanto tivermos uma estabilização interna da política e da questão da pandemia.", disse.
Amortizando impactos
Para tentar mitigar os impactos do diesel no mercado, o consultor Bruno Iughetti afirmou que o Governo Federal está trabalhando em um projeto de amortização das altas do combustível utilizando recursos dos royalties do petróleo. Seriam destinados cerca de R$ 12 bilhões ao projeto.
"O Governo Federal está com um projeto de constituir um colchão para amortizar o valor de alta ou baixa dos combustíveis e isso auxiliaria muito a questão dos preços. Se aplicado à gasolina e ao diesel, seria um desconto de 8 centavos por litro, mas se for só o diesel, seria 20 centavos de redução. É uma medida acertada e a menos dolorida para o assunto no momento", afirmou.