Parceria com o Porto de Roterdã deve dinamizar ações no Pecém

Entraves portuários, como a falta de mão de obra de órgãos anuentes e de infraestrutura, devem ser minimizados com a entrada da companhia holandesa. Expectativa é a atração de mais investimentos para a Região

Escrito por Hugo Renan do Nascimento , hugo.renan@diariodonordeste.com.br
Legenda: Porto do Pecém possui espaço para expansão e instalação de mais indústrias no Complexo
Foto: Foto: Natinho Rodrigues

A entrada do Porto de Roterdã, da Holanda, na parceria com o Porto do Pecém, de São Gonçalo do Amarante, vai dinamizar as operações e reduzir os entraves e burocracias do terminal cearense. Segundo o professor do departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC), Bruno Bertoncini, a companhia holandesa possui expertise dos processos portuários e isso vai beneficiar os trâmites no Pecém.

"Eu acredito que quando realmente a gente tiver essa parceria eu acho que vai ter uma nova dinâmica. Do ponto de vista público, o rito de uma contratação, um investimento, é mais demorado do que na iniciativa privada. Então a gente vai ter esse ganho. Por exemplo, a contratação de uma equipe de profissionais que vão poder olhar para o porto ou então de um novo equipamento para fazer a fiscalização. Isso vai ter uma dinâmica totalmente diferente de um porto que é exclusivamente da esfera pública porque esse rito é diferente", explica ele.

De acordo com o professor da UFC, a iniciativa privada participando das resoluções juntamente com o Governo do Estado terá um efeito bastante positivo no sentido de reduzir os tempos dos processos portuários. "Além do que também a iniciativa privada vai percorrer o Brasil para vender o porto para os investidores, coisa que o Estado em si não tem a mesma dinâmica e nem essa rotação que um setor empresarial profissional teria", complementa.

Bertoncini afirma que os ganhos efetivos serão mais visíveis porque há de forma clara o papel de cada parceiro. "Onde um vai explorar comercialmente o porto e o outro vai fiscalizar essa exploração para não ocorrer nenhum desvio, privilégio para um setor em detrimento de outros, e dar um olhar sustentável da exploração portuária. O mais difícil o Estado já fez que foi conseguir assegurar a construção e o lançamento de porto. É o principal ganho que a gente tem", diz.

Infraestrutura

Outro ponto levantado pelo professor da UFC é a questão da intermodalidade. Para ele, é preciso olhar com mais atenção a questão do acesso ao porto. "O navio vai chegar ao porto. A questão-chave é saber como esse produto vai chegar ou vai sair do terminal. Hoje a gente basicamente pensando na ligação Pecém-Brasil a gente vai ter mais a via rodoviária. E ainda assim com algumas questões como o Anel Viário que até hoje não está concluído, a questão da conclusão da Transnordestina".

Segundo ele, o funcionamento da Transnordestina vai dar uma nova dinâmica ao Porto do Pecém. "E vai ser uma rota para desafogar outros portos do Brasil e vai melhorar a competitividade das indústrias cearenses porque elas vão acabar tendo uma outra opção de escoamento de sua produção", acrescenta.

Para Carlos Alberto, gerente comercial da Tecer Terminais, a finalização da Transnordestina é necessária para dinamizar as operações no Pecém. Além disso, na opinião dele, o porto cearense necessita de mais navios e mais consistência na sua movimentação global. "E isso está sendo construído com a questão do hub portuário. É o que a gente fez com as pás eólicas, com o granito e com diversas outras cargas que a gente começa com pouca movimentação e vai crescendo".

"O que a Cipp SA está buscando com a parceria de Roterdã é um maior volume de serviços de navios, mais companhias, trazer rotas e armadores. No Porto do Pecém a gente tem ainda muito potencial de crescimento nas linhas de navegação. A questão é aumentar a participação nessas linhas de navegação e o apoio da intermodalidade para finalizar a Transnordestina", acrescenta Carlos Alberto.

"O Porto do Pecém ainda tem margem para expansão. A gente tem um diferencial para atrair parceiros e empresas que possam olhar e vê esse diferencial. Além do que a área do porto foi construída para ser uma área industrial, e não é só porto. Isso é um ganho incrível", completa o professor Bruno Bertoncini.

Mucuripe: concessão pode trazer ganhos

Nesta semana, o ministro da Infraestrutura do Governo Bolsonaro, Tarcísio Gomes de Freitas, disse que Joaquim Leyy, do BNDES, já vai começar a analisar o processo de desestatização da Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa). Com esse processo em andamento, há grande possibilidade dessa alternativa ser estendida para o Porto do Mucuripe, administrado pela Companhia Docas.

"O processo de concessão da administração portuária pode trazer ganhos positivos do ponto de vista econômico. Contudo, é importante destacar que um terminal portuário é um componente do sistema de transportes e elemento chave ao processo de desenvolvimento econômico nacional, em especial elemento chave para a balança comercial. Então, a concessão dos terminais precisa ser acompanhada de um processo estruturado de planejamento e precisa também receber fiscalização, para garantir que os critérios e metas estejam sendo atingidos", opina Bruno Bertoncini, professor do departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Segundo ele, um dos aspectos positivos da concessão pode estar na capacidade de captação de novos negócios por parte da nova administração. "É uma possibilidade, pois a administração pode buscar novos parceiros e mercados ainda não explorados. Mas tem que estar atrelado a um plano, pois pode gerar problemas de conflitos entre atores e setores.

Talvez, neste primeiro momento, uma parceria público-privada pode ser um caminho de entrada interessante", avalia.

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Diário do Nordeste / Estadão Conteúdo / Agência Brasil
03 de Dezembro de 2024