Pandemia e home office derrubam busca por salas comerciais em 40%
Com a pandemia, locatários se viram obrigados a devolver imóveis e, desde março, a busca por locações comerciais caiu na Capital. A tendência para reaquecer o setor é reduzir preços e espaços, dizem representantes
A inserção crescente do home office no mundo corporativo levou a uma baixa no mercado de salas comerciais em Fortaleza e outras grandes cidades do Ceará. Com as restrições e dificuldades impostas pela pandemia, empresas de grande e pequeno portes tiveram de devolver imóveis. Algumas por falta de alternativa, outras por terem descoberto melhor funcionamento no novo formato.
Neste ano, a queda na demanda por imóveis comerciais foi em torno de 40% em comparação com o ano passado, considerando o período de março a dezembro, estima a diretora secretária do Conselho Regional de Corretores de Imóveis - Ceará (Creci), Silvana Mourão. Segundo ela, não só as salas, mas pontos comerciais de pequeno porte também sofreram o impacto.
Outro problema no setor foi a inadimplência, que cresceu em locações de imóveis comerciais no ano. De acordo com a advogada especialista em Direito Imobiliário e coordenadora jurídica da Quepar Incorporações, Rafaela Ferraro, a inadimplência em Fortaleza está no patamar de 18%.
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A maior parte das devoluções, ela detalha, tem sido de imóveis de grande porte. "Estamos com um estoque muito grande de salas comerciais, principalmente, nas imediações da Aldeota. Grande parte foi vendida, mas não está locada no momento", aponta.
"Onde não foi feito acordo, os locatários não conseguiram arcar com essas despesas, condomínio, IPTU, locação mesmo, e acabaram devolvendo os imóveis. Além dessas empresas terem quebrado, ainda deixaram um rastro de inadimplência perante os credores. Com certeza, os locadores ficaram a ver navios, clientes de mais de vinte anos devolveram imóveis", comenta a especialista.
Perfis
Entre as áreas de atuação dos inquilinos, Silvana Mourão conta que os representantes comerciais fizeram as devoluções em maior número, enquanto profissionais liberais, como contadores e advogados, diminuíram a quantidade de espaços locados. "Tivemos um encolhimento de espaço físico. Inquilinos que tinham o andar todo reduziram pra metade".
Para ela, a redução dos espaços e da oferta é tendência para estabilizar o mercado. "O espaço físico vai ser sempre necessário. Porém, a concepção mudou, vai existir a demanda sim, mas não uma demanda crescente. Porque alguns segmentos descobriram até que a produtividade é maior no sistema de home office. Diminuir a oferta e a redução dos espaços é uma tendência, porque cada vez mais a recepção presencial fica dispensada nas atividades. Com reuniões virtuais, a gente dispensa o espaço das salas", aponta.
Com o impacto trazido pela pandemia, Rafaela Ferraro acredita que os preços de imóveis comerciais para venda caiam até 20%, a depender do produto. No caso dos aluguéis, já é possível sentir a diferença. "Com esses imóveis vazios, os aluguéis ficam mais baixos. Como tem muita oferta de sala, a concorrência é muito grande. Houve essa adoção de renegociações", afirma a advogada.
Locação residencial
Por outro lado, a mesma migração do trabalho para casa que afetou a locação comercial aqueceu o mercado de locação residencial, salienta a diretora secretária do Creci, Silvana Mourão. Os meses de convivência no lar fizeram com que muita gente repensasse as escolhas e procurasse um novo local para morar, considerando, entre os fatores, maior conforto para o trabalho remoto, ela avalia.
"Tem uma procura maior por casa, espaços residenciais maiores. Foi o caminho inverso", aponta Mourão, destacando que a tendência também levou construtoras a apostar na integração de salas de cowor-king em novos lançamentos.
"Hoje, para atender à circunstância atual do mercado, os prédios já estão sendo feitos de maneira que tenham espaço onde as pessoas possam trabalhar tranquilamente. A pandemia veio também para adotar essas alternativas, tanto na incorporação quanto na locação. Foi necessário todo mundo ceder", aponta Rafaela Ferraro.