Inadimplência cresce em Fortaleza e é a maior dos últimos 12 meses

Levantamento feito pela Fecomércio-CE indicou que 15,4% dos consumidores na Capital possuem dívidas e não têm condições de quitá-las

Escrito por Samuel Quintela , samuel.quintela@svm.com.br
Dívidas
Foto: Waleska Santiago

A inadimplência aumentou quase 5 pontos percentuais em Fortaleza no bimestre de maio e junho deste ano. Segundo dados de uma pesquisa pelo Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Ceará (IPDC) da Fecomércio-Ce, 15,4% dos consumidores que vivem na Capital estão com dívidas em atraso e não têm condições de quitar esses débitos. 

Segundo os dados da pesquisa, o índice de inadimplentes nos dois meses anteriores (março e abril) era de 10,5%, o que já indicava uma leve melhora ante o período de janeiro e fevereiro, quando a taxa era de 12,7%. Os dados da Fecomércio também indicam que esse o maior nível de inadimplência nos últimos 12 meses. 

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Em relação a igual período do ano passado (maio e junho de 2020), a inadimplência, que apresentou o segundo maior índice apresentado pelo estudo, estava em 14,2%. 

Se considerados todos os tipos de dívida, quase três quartos (74,9%) dos consumidores de Fortaleza possui algum débito. Contudo, 44% estão adimplentes.  

Dívidas em atraso 

Já o percentual de fortalezenses com dívidas em atraso, em maio e junho deste ano, passou para 30,9%. O índice segue em alta desde novembro e dezembro do ano passado e subiu mais de 6 pontos percentuais em relação ao bimestre passado (março e abril de 2021). 

Nos dois últimos dois meses, a taxa de consumidores com dívidas em atraso era de 24,4%. Já em janeiro e fevereiro, o número era de 23,4%. Em novembro e dezembro, 21,3%. 

Classificação dos endividados 

As dívidas são mais comuns entre mulheres  e jovens na Capital. As mulheres aparecem com uma taxa de 77% de endividamento contra 73,5% dos homens, enquanto que na faixa etária, os jovens entre 25 e 34 anos acumulava 79,2% das pessoas com dívida. Os dados são referentes aos últimos doze meses.

Considerando a faixa de escolaridade, os consumidores com formação até o Ensino Fundamental é a que apresenta a maior taxa de endividados: 76,5%. 

Já em relação à inadimplência, as mulheres estão empatadas com os homens, com uma taxa de 12,8%. A faixa de idade com maior nível da pesquisa é a de 35 anos ou mais, com 15,6%. 

Considerando a inadimplência por faixa de escolaridade, as pessoas com formação até o Ensino Fundamental, apresentaram a maior taxa, com 17,8%. 

Tendência de melhora

Apesar do aumento da inadimplência, a diretora institucional do Sistema Fecomércio-CE, Cláudia Brilhante, afirmou que a pesquisa apresentou uma perspectiva positiva para o mercado da Capital. Ela comentou que, apesar da piora em certos índices, as taxas de endividamento e do comprometimento da renda apresentaram queda. 

"A pesquisa parece ruim, mas não é. É uma pesquisa com perspectiva de melhora. A gente mostra um aumento da inadimplência, mas uma redução do endividamento total. É um resultado atípico porque estávamos em lockdown e as pessoas acumularam dívidas, e quando começamos a retomada, o consumidor pagou as dívidas pequenas", disse.

Reduzir o endividamento e o comprometimento da renda é importante porque quando temos o salário comprometido, a chance de termos mais endividados aumenta. Nesse cenário, podemos ter menos endividados", completou.
Cláudia Brilhante
diretora institucional do Sistema Fecomércio-CE
 

Gastos com alimentação

Contudo, a diretora institucional do Sistema Fecomércio alertou que os consumidores de Fortaleza tem feito escolhas que podem ajudar no aumento das dívidas. Ela citou a tendência de usar o cartão de crédito para fazer compras no segmento de alimentação. 

Brilhante explicou que, como as pessoas acabam fazendo outros gastos a prazo, o orçamento familiar fica prejudicado e pode levar à inadimplência.

Usar o cartão de crédito para alimentação é um erro. É importante comprar à vista e aos poucos para não comprometer a renda", comentou.
Cládia Brilhante
diretora institucional do Sistema Fecomércio-CE

Efeito sobre os mais pobres 

Outra perspectiva apresentada pela pesquisa é de que os mais pobres foram os mais afetados pela crise gerada pela pandemia. Os dados apontam que a taxa de endividamento na faixa dos que ganham menos que 5 salários mínimos ficou em 75,9%. Entre os que ganham 5 e 10 salários mínimos, a taxa foi de 70,9%.

Já para os que ganham mais de 10 salários mínimos, o dado foi de 62%. 

A inadimplência segue a mesma progressão: 

  • Quem ganha menos de 5 salários mínimos: 13,5%
  • Quem ganha entre 5 e 10 salários mínimos: 7,8%
  • Quem ganha mais de 10 salários mínimos: 8,1%

"Sem dúvida, os mais pobres foram os mais afetados. A população mais pobre não tem reservas, mas imagina a pessoa que vende tapioca nos colégios. Com a fechada da economia essa pessoa perdeu renda e não tinha de onde tirar o dinheiro, então acabou se endividando muitas vezes", explicou Cláudia Brilhante.

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