EUA oficializam tarifa sobre aço e não poupam o Brasil

As tarifas passarão a valer em 15 dias. Apenas os vizinhos México e Canadá foram excluídos da medida

Escrito por Redação ,
Legenda: O Brasil tentava renegociar a sobretaxa do aço com o governo norte-americano, mas não exclui a possibilidade de levar a questão à OMC

Washington (EUA)/Brasília. Numa medida de repercussões globais, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou, ontem (8), ato que estabelece tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio que importam. O país é um dos maiores compradores mundiais desses insumos, e o Brasil, segundo maior exportador de aço para os EUA, não foi poupado. A sobretaxa deve desequilibrar a indústria siderúrgica brasileira, que emprega cerca de 100 mil pessoas.

As sobretaxas passarão a valer em 15 dias. Por ora, apenas os vizinhos México e Canadá foram excluídos, a depender de como forem as renegociações do Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte). Mas as conversas com outros países estão abertas. "Vamos ver quem nos trata com justiça e quem não", afirmou o presidente.

O governo brasileiro protestou e avisou que, apesar de preferir o diálogo e a parceria, reagirá para preservar seus direitos e interesses. O Mdic (Ministério da Indústria e Comércio) e o Itamaraty soltaram nota conjunta afirmando que o Brasil tomará ações bilaterais e na OMC (Organização Mundial do Comércio).

Em visita a Nova York, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, criticou a decisão. "Disseram que estão abertos a negociações. Precisamos saber que negociação é essa", declarou. "Mas é uma atitude protecionista. Negativa para todos os envolvidos, bastante negativa até para a indústria americana. Prejudica e custa empregos para quem usa aço e alumínio", disse Meirelles.

O governo brasileiro disse que recorrerá a "todas as ações necessárias" para preservar seus direitos e interesses após o presidente Donald Trump assinar decreto impondo sobretaxas na importação de aço e alumínio. "Ao mesmo tempo em que manifesta preferência pela via do diálogo e da parceria, o Brasil reafirma que recorrerá a todas as ações necessárias, nos âmbitos bilateral e multilateral, para preservar seus direitos e interesses", afirma nota assinada pelos ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e de Relações Exteriores.

Promessas

Na cerimônia que oficializou a cobrança, Trump estava cercado por trabalhadores de siderúrgicas dos EUA, aos quais prometeu o aumento da produção e do emprego. Trump também destacou preocupação com os déficits comerciais do país -uma espécie de obsessão do republicano, aos quais atribui a perda de empregos na indústria.

Por causa justamente dessa questão, a real disposição do republicano em negociar as tarifas é vista com suspeita. "É jogo de cena. O objetivo, no final das contas, é diminuir o déficit", afirmou a economista Monica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute, em Washington.

Eleito com a promessa de colocar a "América em primeiro lugar", o republicano tem intensificado as políticas protecionistas dos EUA. Uma de suas primeiras medidas foi retirar o país da Parceria Transpacífico, considerado o maior acordo comercial da história. Entidades internacionais também se posicionaram contra. A diretora do Banco Mundial, Kristalina Georgieva, disse que "a história mostra que esse remédio não funciona", e que as consequências de um encolhimento do comércio mundial são especialmente prejudiciais aos mais pobres.

Em entrevista nesta quinta, horas antes do anúncio, o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, disse que medidas unilaterais de comércio são "perigosas" e que qualquer disputa deveria ser decidida de forma negociada.

O que eles pensam

Medida deverá ser respondida

"O Ceará exportou em janeiro e fevereiro deste ano, cerca de US$ 366 milhões, sendo US$ 180 milhões de produtos siderúrgicos. A grande expectativa que nós tínhamos para 2018 era que as exportações das placas atingissem o limite máximo de sua capacidade produtiva. Com a medida, convém ao governo brasileiro utilizar os meios necessários para responder"

Ana Karina Frota
Ger. Do Centro Internacional de Negócios/Fiec

"Foi uma medida muito radical, olhando para o que se vinha avançando nos últimos anos em termos de comércio internacional. E em nosso caso, que hoje as exportações são puxadas por produtos de siderurgia, causa preocupação muito grande. Alguns países já anunciaram retaliação. A grande preocupação é o efeito cascata com novas instruções de outros países"

Alex Araújo
Economista

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