Despesas com transporte marítimo chegam a 26% para produtores

Burocratização dos processos de entrada e saída de cargas no Ceará também onera importadores e exportadores. No fim das contas, consumidores arcam com os elevados custos no deslocamento de mercadorias. Analistas apontam soluções para entraves nos portos do Estado 

Escrito por Hugo Renan do Nascimento , hugo.renan@diariodonordeste.com.br

Os custos com o transporte marítimo, que incluem mão de obra, combustível e deslocamento, e excluem a carga tributária, chegam a 26% da despesa total dos exportadores e importadores cearenses. Além disso, em média os operadores portuários pagam cerca de US$ 21 mil para atracar nos terminais. Para o professor do departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC), Bruno Bertoncini, os gastos elevados impactam diretamente nos preços dos produtos para os consumidores e afetam a competitividade dos portos do Estado.

“O custo da operação portuária no Brasil e no Ceará é muito alto quando a gente compara com operações portuárias de outros países. Pensando na competição internacional isso gera um problema. A gente só consegue ter competitividade pelo volume que produzimos porque se nós fôssemos esperar a competitividade pelos nossos custos o valor que sai o produto daqui para a Europa e Ásia, por exemplo, é muito alto”, acrescenta.

Bertoncini afirma que o modelo atual de operação portuária também necessita ser revisto. “Precisa passar pela modernização, não apenas pela contratação de novos profissionais, mas também pela modernização dos processos. É necessário reduzir todos esses tempos para conseguir as licenças”, acrescenta o professor. Segundo ele, não há um consenso entre os especialistas na avaliação dos custos finais dos produtos para os consumidores. Porém, há concordância de que os valores para o mercado consumidor poderiam ser mais baixos. 

“Tem um custo de atracação que em média custa algo em torno de US$ 21 mil. Então é muito caro. Tem que ver que o navio tem muitos produtos para várias empresas. No valor total de um produto, se a gente tira a carga tributária, 60% do valor desse bem é devido à atividade de transporte. Por exemplo, o chinês está pagando pela soja de 20% a 26% é só o custo de transporte. Isso não é uma questão apenas dos custos portuários. É o custo de deslocamento, do valor do óleo, custo do navio. Claro que um porto que tem valores de atracação mais baratos, mais empresas vão querer usar esse terminal”. 

Burocratização
Para ele, a burocratização dos processos portuários é um dos maiores entraves tanto no Ceará quanto no restante do País. “Os processos nos portos nacionais demoram muito mais tempo do que, por exemplo, no Porto de Roterdã, na Holanda, ou o Porto de Xangai, na China. Eles conseguem tramitar autorizações de licença sanitária, de atracação, de inspeção alfandegária em um espaço médio de três dias. A gente tem levado de três a sete vezes mais”.

O tempo de tramitação acaba não atraindo operadores para o Ceará. Mas, para quem precisa atracar, a solução é procurar alternativas. “Eles buscam criar escalas para conseguir uma janela de atracação. Isso causa dificuldade para o setor de comércio interno. Por exemplo, uma indústria do Ceará que vai fazer uma venda para São Paulo poderia pensar na possibilidade de despachar a carga até Santos, mas o empresário sabe que vai demorar muito conseguir um navio disponível no porto daqui. Dessa forma, ele acredita que compensa transportar no modal rodoviário”.

Soluções
As providências para os problemas nos portos cearenses ainda estão sendo discutidas pelo setor produtivo, órgãos anuentes e governos estadual e federal. No entanto, as soluções para os entraves estão longe de serem apontadas e efetivamente postas em prática. “O único retorno que tivemos até agora foi conseguir fazer a primeira reunião da Comissão Nacional de Autoridades nos Portos (Conaportos), que é uma das medidas solicitadas neste documento. Nós sentamos com a Companhia Docas no fim do ano passado, no Porto do Mucuripe, todos os pontos foram lidos e eles estão com essa pauta na mão para dar uma resposta o mais rápido possível”, explica Heitor Studart, presidente da CSLog. 

Para o professor da UFC, é preciso estudar soluções viáveis para os problemas dos portos. “Se eles (setores produtivos) julgam que a demora dos processos portuários está ocorrendo pela questão da quantidade pequena de mão de obra então claro que se você aumentar a mão de obra você vai trazer melhorias. Mas eu acredito que todo o processo passaria pela divulgação e discussão com o setor produtivo dos planos diretores dos portos”, completa. 

A ideia de Bertoncini é estudar a vocação de cada porto cearense. “O primeiro ponto é reconhecer que os dois portos são muito importantes para o Estado. Dizer que eles vão operar de igual para igual é um grande risco. O processo parte do planejamento. Então a gente vai pensar em soluções como a contratação de mão de obra, compra de equipamentos, divulgação de mercado, parceiros comerciais. Precisa de uma aproximação das entidades industriais, empresariais e de administração portuária para poder saber que caminhos podem ser seguidos. Neste momento, talvez isso seja mais importante”. 

Porto do Pecém
Sobre os entraves nos portos cearenses, o Porto do Pecém informou que não identificou impactos operacionais ou financeiros para o Porto do Pecém. “Atualmente existe uma programação prévia de inspeções que é realizada durante a semana pelos órgãos intervenientes e tem atendido à demanda no porto cearense, porém, vale ressaltar que, por conta da falta de efetivo durante os finais de semana, possíveis intercorrências poderão acontecer”, comunicou.

O secretário do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), Maia Júnior, disse que no momento não prefere se pronunciar sobre o assunto porque ainda está ouvindo as manifestações dos segmentos. “Eu ainda não tenho ninguém nomeado aqui. Estive com o governador e nós estamos definindo os primeiros nomes para compor a equipe para eu organizar o trabalho. Antes de março seria precipitado falar alguma coisa porque eu quero organizar o plano de trabalho para poder resolver os problemas”.

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