Com o fechamento de lojas da Tok&Stok, qual o futuro do varejo de móveis e decoração?

Fechamento é reflexo de um momento complicado no varejo, sobretudo para segmento de bens duráveis e semiduráveis

Escrito por Heloisa Vasconcelos e Bruna Damasceno , negocios@svm.com.br
Legenda: O fechamento da loja da Tok&Stok na Washington Soares levou clientes a fazerem filas em busca de descontos
Foto: Ismael Soares

A Tok&Stok anunciou nesta semana o fechamento de duas lojas em Fortaleza. O movimento veio menos de dois anos após a concorrente Etna também ter encerrado as atividades na capital cearense e, em seguida, fechado as portas. 

Depois de um período próspero durante a pandemia, o varejo vem enfrentando um momento delicado de retomada, e o segmento de móveis e decoração não escapa dessa tendência. 

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Com a inflação e taxa de juros altas e a renda das famílias reduzida, tem se notado um desaquecimento nas vendas, sobretudo de bens duráveis e semiduráveis. Por terem um valor de aquisição mais alto, as famílias não priorizam a compra de móveis nesse momento, trazendo, em alguns casos, prejuízo para as empresas. 

De acordo com economistas, para manter as operações com altos custos, o segmento de móveis deve apostar em alavancar as vendas no meio digital e reduzir o tamanho de lojas físicas. 

Fechamento de lojas 

O líder do Centro de Excelência em Varejo da FGV, Maurício Morgado, explica que o varejo tem tido dificuldade de rolar dívidas no contexto atual de inflação e juros altos. Dessa forma, uma solução rápida é fechar as lojas que não estão sendo rentáveis, já que não há tempo de esperar que elas voltem a trazer lucro em meio aos altos custos. 

Ele aponta que o segmento de móveis é um dos que mais sofre com esse cenário, já que o consumo das famílias é reduzido em momentos de alta inflacionária. 

São compras mais longas, compromissos mais longos, geralmente parcelados. Normalmente são os setores que primeiro sofrem (móveis e automóveis). Eles demoram um pouco mais para se recuperar porque têm um investimento grande”.
Maurício Morgado
Líder do Centro de Excelência em Varejo da FGV

Apesar disso, ele afirma que as situações da Etna e da Tok&Stok não são iguais. 

“O caso da Etna era diferente, porque o conceito dependia muito de mercadoria importada, muita novidade. Tem que considerar também que os donos da Etna são os mesmos donos da Vivara, entre o negócio mais tranquilo que eles tinham e esse outro, é relativamente fácil de entender por que eles desistiram”, pondera. 

O professor do curso de economia da Universidade Mackenzie, Julian Portillo, relaciona que o endividamento das Americanas também teve um papel importante no cenário complicado que o varejo atravessa. 

“Tem o caso da Americanas que leva um pouco uma percepção do mercado, quem vai querer investir em ações de varejo pensando que pode acontecer algo análogo à questão da Americanas?”, questiona. 

Segundo ele, o fechamento de lojas pode ter relação com um despreparo das empresas para lidar com a volta da atividade econômica e com os novos hábitos de consumo pós-pandemia. Ele também destaca que o custo do aluguel nos shoppings se tornou mais alto, tornando inviável manter lojas não lucrativas. 

Reacomodação aos novos tempos 

Para Portillo, o varejo como um todo passa por um momento de reacomodação, no qual pode ser normal a priorização de certas lojas para readequar o público de consumo. Parte dessa adaptação também pode incluir um foco ou migração para canais digitais. 

Ele traz como exemplo a Mobly, startup de móveis que surgiu apenas online e que agora está começando a abrir lojas em São Paulo. Esse também pode ser um caminho para a Tok&Stok. 

Como o caso da Mobly, que surgiu no digital e hoje tem loja física, pode ser que a Tok&Stok mude seu perfil e vá mais para o digital. Tem que ver como vai ser essa reestruturação no médio e longo prazo, não dá para afirmar agora”.
Julian Portillo
Professor de economia da Mackenzie

Para Maurício, a tendência é que ocorra uma redução no tamanho das lojas, utilizando o online como apoio e reduzindo a necessidade de estoque físico. 

“O que tem mais chance de acontecer é uma diminuição do tamanho das lojas. A possibilidade da venda online faz com que as lojas grandes percam o sentido. Vale a pena estudar o online dessas lojas grandes, que pode funcionar como um ponto de troca e informação sem a necessidade de ter tanta mercadoria nas lojas”, coloca. 

A Tok&Stok fechará duas das três unidades na Capital. No Ceará desde 2001, a rede varejista de móveis e decoração ainda continuará com uma operação no Shopping RioMar Fortaleza.  

A notícia gerou alvoroço entre os consumidores cearenses, que lotaram as lojas da marca em busca das promoções de encerramento, na manhã dessa quarta-feira (12). 

Histórico da Tok&Stok no Estado

Com investimento de R$ 7 milhões, a primeira loja da marca foi instalada na Avenida Washington Soares, em dezembro de 2001. Na época, a chegada empresa saiu nas páginas do jornal impresso do Diário do Nordeste. Veja:

Jornal Impresso
Foto: Arquivo Diário do Nordeste

Já em 2014, a varejista abriu a segunda unidade no RioMar, a qual será mantida na Capital. Após sete anos, em 2021, após o boom de vendas na pandemia, a Tok&Stok abriu a primeira loja no modelo conceito, no Iguatemi. 

Quais outras empresas do setor saíram de Fortaleza? 

Em agosto de 2021, a varejista Etna também fechou a única loja que mantinha em Fortaleza. No ano seguinte, a empresa anunciou a saída do País. 

A Eugênio Móveis, lembrada até hoje pela propaganda que marcou os cearenses, também fechou as portas. O estabelecimento ficava na Avenida Jovita Feitosa, no bairro Parquelândia, na Capital. 

 

 

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