Com aumento do preço de passagens aéreas, turistas migram para os ônibus; compare valores

Em pesquisa feita pelo Diário do Nordeste, diferença entre os preços entre os modais pode ultrapassar os 1.200% ou mais de 13 vezes

Escrito por Heloisa Vasconcelos , heloisa.vasconcelos@svm.com.br
Legenda: Passagens de avião estão com alta acumulada de 50,11% nos últimos 12 meses, conforme o IPCA
Foto: Thiago Gadelha/ SVM

As passagens aéreas são atualmente uma das principais vilãs da inflação em Fortaleza e em outras capitais do País. Após meses de deflação, a demanda reprimida do turismo puxou os preços dos bilhetes de avião para cima, o que leva muitos turistas a buscarem outros meios para viajar

De acordo com dados de outubro do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), as passagens aéreas acumulam alta de 50,11% em 12 meses. As principais variações mensais foram em setembro e outubro, quando os preços subiram 28,19% e 27,72%, respectivamente. 

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Na contramão, as passagens interestaduais estão acumulando deflação de 0,48% nos últimos 12 meses. O modal rodoviário tem chamado mais atenção de turistas, sobretudo para trechos entre 500km e 700km, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros (Abrati). 

A diferença dos preços dos bilhetes nos dois meios de transporte chama atenção, e, a depender do caso, pode valer a pena o maior tempo de viagem. Em pesquisa direta realizada pelo Diário do Nordeste, alguns trechos têm discrepância de mais de 1.200% entre os dois modais

Economia vs conforto 

A cozinheira Maria Vasconcelos, de 58 anos, bem que gostaria de viajar apenas de avião, mas a diferença entre o preço do aéreo e rodoviário a faz escolher o ônibus.  

Para viajar de Salvador (BA) a Fortaleza, para visitar seus pais no interior do estado, em Camocim, ela demoraria 1h30 de avião, mas a opção mais econômica a coloca mais de 23 horas na estrada. 

“De ônibus eu gasto uma faixa de R$ 200 a R$ 300 até Fortaleza. De avião sempre que eu estou procurando só acho cara, de R$ 800, R$ 900, R$ 1.000 e mil e pouco. Para mim, fica muito caro”, conta. 

A conselheira da Abrati, Leticia Pineschi, afirma que o transporte rodoviário está passando por uma mudança no perfil dos passageiros. Historicamente, o setor tinha cerca de 30% dos bilhetes emitidos para turistas mas, em pesquisa feita pela associação em setembro, a parcela já saltou para 60% neste ano. 

Pineschi explica que a mudança ocorre de forma mais enfática principalmente nos últimos dois meses – justamente os meses em que as passagens aéreas acumularam maior alta na inflação. Para driblar o desconforto do maior tempo de viagem, os passageiros têm buscado opções de ônibus com leito

“Teve aumento de 15% na procura por esse tipo de serviço e esse é um dado bastante relevante, porque impulsiona a compra de veículos adaptados a esse tipo de turista”, pontua. 

Passagem aérea mais cara  

O gerente do IPCA, Pedro Kislanov, detalha que a alta das passagens aéreas tem relação com dois fatores claros: aumento nos custos e retomada da demanda.  

Muitos dos contratos do setor aeronáutico são atrelados ao dólar, que teve uma valorização expressiva no último ano frente ao real. Os custos com querosene também aumentaram consideravelmente devido à alta do petróleo. 

Outro fator é que principalmente agora nos últimos dois ou três meses uma retomada da demanda e uma oferta de voos que ainda não se adaptou. Com a vacinação, houve uma procura dos voos, mas houve um excesso de demanda principalmente nesses dois últimos meses
Pedro Kislanov
gerente do IPCA

Segundo Kislanov, a regularização dos preços depende intrinsecamente da retomada econômica e da continuidade do aumento do fluxo de circulação de pessoas.

Ele considera que a maior busca pelo turismo nacional devido aos maiores custos de viagens internacionais pode ajudar a demanda, regularizando os preços. 

Em nota, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) informou que a tarifa média para voos domésticos fechou 2020 abaixo de 2019. De acordo com dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o preço médio do bilhete foi de R$ 439,89 em 2019 e de R$ 376,29 em 2020, 15% abaixo. 

A associação afirmou com base em dados de agosto que o valor da tarifa em 2021 está ainda 7% abaixo da média de 2019. Os dados são anteriores às duas grandes altas do IPCA em setembro e outubro. 

Passagens de ônibus mais baratas 

Conforme Pedro Kislanov, a lógica que rege os preços do setor rodoviário é um pouco diferente devido ao perfil que geralmente consome esse tipo de serviço.  

Apesar de também haver uma pressão sobre os custos, sobretudo com a alta do diesel, as empresas tentam segurar os repasses para os consumidores. 

“[Os ônibus] atendem uma parte da população que tem uma renda geralmente menor que o consumidor que compra passagens aéreas. Esse consumidor foi muito afetado pela pandemia e tem uma renda mais comprimida. Apesar do aumento dos custos, eles [empresas] não conseguem repassar tanto, acabam tendo que fazer promoções para atrair o consumidor”, avalia. 

Leticia Pineschi, da Abrati, explica que as tarifas de viagens estaduais são definidas por cada estado, sem poder de decisão por parte das empresas. Mas, para as viagens entre estados, o valor é definido por oferta e demanda entre um mínimo e um máximo definidos pelas companhias. 

“Quando chega mais próximo ao dia de viajar fica mais próximo ao teto. Mas, se for comparar os tetos, não teve aumento relevante nos últimos anos”, diz. 

Otimismo para 2022 

Leticia reforça que o setor está otimista com a mudança do perfil dos passageiros, de viagens por necessidade para viagens a lazer. E, por isso, as empresas têm tentado deixar as condições mais vantajosas para o consumidor. 

“A opção por retardar o crescimento das empresas [não repassando todos os custos] está muito ligada ao otimismo de fidelizar os passageiros, com programas de fidelidade, inclusive”, destaca.  

O volume de bilhetes emitidos em novembro ainda está 25% menor que em igual período de 2019. Apesar disso, a entidade espera que até o fim do ano sejam vendidos 3,1 milhões de bilhetes rodoviários, um volume superior ao registrado em 2019, quando foram vendidas 2,7 milhões de passagens. 

Comparação entre preços

O Diário do Nordeste fez uma simulação de preços para diversos trechos saindo de Fortaleza no período entre 6 e 10 de dezembro. Em todos os casos, foi escolhida a empresa e viagem que oferecesse o menor custo. Confira:

Fortaleza-Natal 

Ônibus: R$ 278 ida e volta com taxas inclusas (executivo) 

Avião: R$ 971 ida e volta com taxas inclusas

Fortaleza-Recife 

Ônibus: R$ 342 ida e volta com taxas inclusas (executivo)

Avião: R$ 795 ida e volta com taxas inclusas 

Fortaleza-Juazeiro do Norte 

Ônibus: R$ 165 ida e volta com taxas inclusas (convencional)

Avião: R$ 344 ida e volta com taxas inclusas 

Fortaleza-Jericoacoara 

Ônibus: R$ 214 ida e volta com taxas inclusas (executivo)

Avião: R$ 2.923 ida e volta com taxas inclusas 

Fortaleza-Teresina 

Ônibus: R$ 245 ida e volta com taxas inclusas (executivo)

Avião: R$ 1.115 ida e volta com taxas inclusas 

Fortaleza-João Pessoa 

Ônibus: R$ 320 ida e volta com taxas inclusas (executivo)

Avião: R$ 2.440 ida e volta com taxas inclusas 

 

 

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