Ceará poderá receber primeira produção brasileira de pistache na Serra da Ibiapaba
Uma das sementes mais caras do mundo, pistache virou tendência culinária nos últimos anos
Tendência culinária dos últimos anos, o pistache é uma das sementes mais caras do mundo. Com possibilidade de tornar a fruta originada do Oriente Médio mais acessível, a Embrapa estuda produzir a oleaginosa no Ceará.
A Serra da Ibiapaba, no noroeste cearense e na divisa com o Piauí, pode ser o primeiro local do Brasil a ter uma produção do pistache.
A região foi escolhida pela Embrapa devido ao clima ameno, em comparação com o restante do Estado, explica o chefe-geral da Embrapa Agroindústria Tropical, Gustavo Saavedra.
O especialista explica que a árvore do pistache, natural da Ásia menor (Síria, Irã e Turquia), precisa ser cultiva em um local com clima temperado - com estações bem definidas e invernos frios. A planta precisa de pelo menos 60 dias com temperaturas abaixo de 10 °C para hibernar e perder as folhas.
Embora as temperaturas na Serra da Ibiapaba não cheguem a níveis tão baixos, o experimento no Ceará deve se embasar em estudos de que o pistache pode ser adaptado ao clima tropical, como outras frutas secas.
A ideia surgiu inicialmente na Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (FAEC), após vista à Califórnia, estado dos EUA que possui condições de solo e clima semelhantes ao Ceará e tem grande produção da semente.
“Precisamos saber se na serra haverá dias de frio em quantidade suficiente para induzir a floração das árvores. Como se vê, há diversos detalhes tecnológicos que precisamos lidar para poder viabilizar a produção de pistache”, explica Saavedra.
REFLEXO NOS PREÇOS E COMPETITIVIDADE
A produção local do pistache pode tornar a semente mais acessível nas prateleiras dos supermercados. Como ainda depende exclusivamente da exportação, a venda no Brasil sofre constante alteração do preço do dólar.
Na penúltima semana de dezembro, o quilograma do pistache f vendido a uma média de R$ 120 nas Centrais de Abastecimento do Ceará S/A (Ceasa). O preço sofreu alta de 20%, devido à alta da moeda norte-americana, que ultrapassou R$ 6,20.
Odálio Girão, analista de mercado da Ceasa, aponta que, com a proximidade do mercado produtor, os preços podem baixar significativamente.
Ele lembra que, além de impactar nos preço do produto, a flutuação do dólar encarece os custos de frete e logísticas, também repassados para o consumidor final.
“Existem muitos locais adequados no Ceará para o cultivo do pistache, que podem transformar essas importações em exportações para outros estados e até mesmo outros países. E poderia mudar o quadro para o consumidor local”, avalia.
O potencial cearense é reiterado pelo professor Francisco José Tabosa, do departamento de Economia Agrícola da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Ele destaca a oportunidade de o Estado ser o primeiro a atender internamente o mercado brasileiro. “Existe demanda interna, dentro do Ceará, e no mercado nacional. O clima, o solo e a temperatura são equiparados aos da Califórnia e Irã, que são os maiores produtores”, explica.
Caso os produtores cearenses invistam na oleaginosa, podem monopolizar a venda nacional e garantir forte competitividade.
“Atender ao comprador interno pode uma grande vantagem, pela falta de concorrência local. Já para a exportação, terá o atrativo do dólar, mas irá concorrer com EUA e Irã, que são os maiores produtores”, comenta.
As importações brasileiras de pistache tiveram um salto nos últimos meses. Somente em 2024, foram importadas mais de 970 toneladas do grupo. A movimentação foi de R$ 13,9 milhões - mais de oito vezes mais que em 2020.
IMPORTAÇÃO DE SEMENTES
Para que o pistache possa ser produzido em solo cearense, é necessário importar o material genético de outro país produtor. Gustavo Saavedra, chefe-geral da Embrapa Agroindústria Tropical, explica que se trata de um longo processo.
Devido às semelhanças do solo, os Estados Unidos devem ser escolhido para fornecer os germoplasmas - material genético de espécie transmitido como semente ou muda.
"Há todo um processo de importação, por parte do Ministério da Agricultura, que dura pelo menos um ano. Depois disso, temos ainda uma quarentena de cerca de seis meses na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, que se localiza em Brasília (DF)”, aponta.
Além do desenvolvimento da produção, o Ceará precisa estruturar a cadeia de processamento do pistache - etapa que deve ser cumprida pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec) e Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Ceará.
Segundo a Faec, os estudos para a definição do material genético a ser utilizado no Ceará devem avançar em 2025.
Se a espécie se adaptar ao Ceará e as ações inicias forem concluídas, a projeção da Embrapa é que a primeira safra da semente seja colhida em cerca de dez anos.
“É um processo de longo prazo, haja vista que a cultura do pistache é perene como a do cajueiro e a da mangueira. Os primeiros resultados só serão conhecidos na década seguinte. A primeira safra experimental de pistache, se tudo der certo, deverá ocorrer por volta de 2035. Entre 2035 e 2040, poderíamos ter os primeiros cultivos comerciais”, aponta Gustavo Saavedra.