Ceará amplia exportação de polpa de frutas em 2021; EUA e Alemanha entre os destinos

Empresas cearenses do segmento investem na exportação para diversificar mercados

Escrito por Carolina Mesquita ,
Legenda: Além das exportações, Ceará possui um forte mercado local para polpa de frutas e abriga 164 indústrias de fabricação de conserva de frutas
Foto: Divulgação

Além de ser um tradicional exportador de frutas, especialmente de melão, o Ceará também tem obtido resultados crescentes na exportação de polpa de frutas. Empresas locais estão investindo no mercado externo e os envios entre janeiro e agosto deste ano já somam US$ 779,45 mil, valor 13% ao registrado em todo o ano passado.

A informação foi revelada pelo Sindicato das Indústrias da Alimentação e Rações Balanceadas do Estado do Ceará (SindiAlimentos) com base nos dados do Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec).

André Siqueira, presidente do SindiAlimentos, revela que o Estado possui 164 indústrias de fabricação de conserva de frutas em 54 municípios, concentradas principalmente na Região Metropolitana de Fortaleza e nas cidades de Jaguaribe e Pereiro.

Veja também

A produção atende à demanda local, de outros estados, assim como o mercado externo, que tem se fortificado com a adoção de inovações tecnológicas pelas empresas cearenses.

"Podemos citar como exemplos duas empresas cearenses de polpa: Nossa Fruta e Frutã, além da Itaueira, que exporta fibra de caju. Elas já vêm desempenhando um excelente papel levando seus produtos para fora do Brasil", afirma Siqueira.

Ele ainda pontua que a busca do consumidor por um estilo de vida mais saudável tem impulsionado a demanda por produtos naturais, que reflete na venda de polpa de frutas.

Crescimento de 100%

No mercado desde 2008 e presente nos nove estados do Nordeste, a Nossa Fruta realizou a primeira experiência em exportação em 2019 com um contêiner enviado para a Alemanha. Esse ano, a perspectiva é chegar a oito contêineres com destino a Alemanha e Estados Unidos, um crescimento de 100% em relação a 2020.

"A gente já vinha sendo sondado para exportar. Muita gente via nosso trabalho no mercado interno, de embalagem e qualidade e, dessas conversas, a gente passou a ter o desejo de exportar", conta João Lima, diretor comercial da Nossa Fruta.

Para adequar a empresa aos requisitos de exportação, a Nossa Fruta investiu quase R$ 10 milhões nos últimos três anos em áreas como logística e armazenagem a certificações. Ao todo, a marca gera 325 empregos diretos e é parceira de 500 agricultores familiares.

Lima revela que a capacidade de armazenagem passou de 400 para 2 milhões de quilos, além de terem inaugurado uma das maiores câmaras frias do Nordeste.

"A exportação exige muito da empresa. Pra gente, foi um aprendizado importante. Quando se fala em exportação industrial, são outros volumes. Hoje estamos preparados pra atender essas demandas", afirma.

Legenda: Nossa Fruta investiu quase R$ 10 milhões nos últimos três anos em áreas como logística, armazenagem e certificações para viabilizar exportações.
Foto: Divulgação

Sobre a expansão dos destinos, o diretor comercial indica que a empresa está sentindo o mercado depois das restrições da pandemia, ainda sem a volta das feiras e rodadas de negócios presenciais.

Ele também lembra outros complicadores decorrentes da crise sanitária, como o aumento em 30% do preço do frete marítimo e a restrições persistentes em alguns portos do mundo.

"Até janeiro de 2020, nós tínhamos um custo x com frete. Hoje, ele chega a ser 2x ou até 2,5x. Isso impacta o comprador, porque dependendo da negociação encarece muito o produto. Temos compradores interessados, mas sentimos que o mercado está esperando a estabilização dos fretes"
João Lima
Diretor comercial da Nossa Fruta

Aproveitamento completo

Outra empresa do segmento que está apostando na exportação é a Itaueira Sucos. O processo iniciou em 2015, quando a empresa ainda se chamava Natvita e já estava no mercado local desde 1999.

Conforme o gerente comercial para exportações da companhia, Roberto Castelo Branco, o primeiro envio foi suco clarificado de caju para a Polônia e, depois, para a França. Posteriormente, também foram enviadas cargas de acerola processada para a França.

Em 2019, a Natvita foi incorporada ao Grupo Itaueira. Com uma fábrica de maior porte à disposição, a empresa iniciou o trabalho para exportação de produto a base de caju, tanto a polpa, quanto a fibra, utilizada como base para carne vegetal.

"Nós fazemos o aproveitamento integral do caju. Tira a castanha, na fábrica, processamos a polpa do caju e, com a retirada da fibra, beneficiamos para se tornar a base de carne vegetal", explica o gerente.

Os principais clientes da Itaueira Sucos atualmente são da França, Bélgica, Holanda e Estados Unidos, além de eventuais compras da Alemanha e Leste Europeu. Entre os produtos mais demandas estão as polpas de acerola verde e madura, bem como a cajuína e a carne de caju.

A empresa deve encerrar o ano com pelo menos cinco contêineres de produtos exportados.

Castelo Branco também ressalta a dificuldade de atingir novos mercados durante a pandemia, mas a Itaueira Sucos foi selecionada para participar de um programa da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) em preparação para o ingresso na China.

Legenda: Além das polpas de acerola verde e madura, a Itaueira também está exportando carne de caju
Foto: Divulgação

Foco na exportação

A Frutã nasceu em 2002 já com foco na exportação, apesar de ter atuação na fruticultura na época. Benício Júnior, sócio-proprietário da empresa, conta que somente em 2006, após a entrada de mais um sócio na empresa, tiveram a ideia de fazer o beneficiamento de parte da produção, especialmente da graviola, banana prata e mamão formosa.

"Fomos para a Embrapa e descobrimos que já existiam 158 CNAEs (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) de polpa de frutas no Estado. A gente seria só mais um. Então, o pesquisador disse que topava o projeto se trabalhássemos com polpa de fruta pasteurizada", lembra.

Ele explica que a técnica é basicamente igual ao do leite: a polpa passa pro um processo térmico, é resfriada a baixas temperaturas em um curto espaço de tempo que elimina 98% dos microorganismos e conserva as características da fruta.

Em 2007, a empresa iniciou a comercialização da única polpa de fruta pasteurizada no Estado, o que já era considerado um diferencial para exportação. Após um longo processo de adequação de volume da produção e certificações, a Frutã realizou a primeira exportação em 2015 para a Alemanha.

"Entre 2016 e 2019, participados de diversas feiras em parceria com a Apex. Chegamos a exportar para França, Bélgica, Portugal, Austrália. Atualmente, temos clientes na Alemanha, Estados Unidos, Porto Rico e Emirados Árabes", destaca.

O carro-chefe da empresa são as polpas de maracujá, abacaxi, acerola e graviola.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
Assuntos Relacionados