Cearenses testam positivo para Covid com sintomas leves, mas alta transmissão gera alerta

Especialistas apontam que os sintomas causados pela variante Ômicron são aparentemente mais leves, mas que a alta capacidade de disseminação representa um risco

Escrito por Theyse Viana , theyse.viana@svm.com.br
Duas enfermeiras fazem teste com swab nasal em um paciente
Legenda: Apesar da proporção de casos positivos, em termos absolutos, junho de 2022, é o 4º mês na pandemia com o menor número testes realizados.
Foto: AFP

Febre baixa em alguns casos, em outros não; garganta “arranhando”; nariz entupido; tosse. O quadro é, via de regra, de uma gripe comum, mas tem sido frequente entre pacientes com Covid no Ceará após festas de fim de ano.

O advogado Átila Alves, 35, por exemplo, chegou a confundir a doença com “uma crise alérgica”, já comum para ele. “Sábado (25/12) fui a uma festa, domingo fui a outra. Na segunda-feira (27), tava com a garganta ardendo muito, e pensei que ia gripar”, relata.

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Dois dias depois, ele foi ao médico, “que tava lotado”, e buscou fazer o exame para diagnóstico do coronavírus em um laboratório privado de Fortaleza. Deu positivo, pela primeira vez desde o início da pandemia, em 2020.

Muita gente que foi pra esse pré-réveillon em que eu estive testou positivo. Muitos estão com sintomas, acham que é só uma gripe, não fazem o teste e ficam passando pros demais.
Átila Alves
Advogado

Nesta terça-feira (4), uma semana após o início dos sintomas – tosse, dor de garganta, febre baixa e perda de olfato e paladar –, o advogado afirma que “é como se estivesse assintomático”, o que atribui à imunização contra a doença.

“Estou com as duas doses da vacina da Covid e tomei também a da gripe. Estou bem, não sinto cansaço, trabalhando em home office normal. Vou fazer outro teste pra voltar às minhas atividades”, descreve Átila.

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Testagem no Ceará

De 1º de dezembro de 2021 até essa segunda-feira (3), foram realizados 56.711 testes de Covid no Ceará, entre RT-PCR e rápidos. Quase 5 mil deles (4.936), o correspondente a 8,7% do total, deram resultado positivo, conforme dados da Secretaria da Saúde (Sesa).

Para fins de comparação, entre 1º de dezembro de 2020 e 3 de janeiro do ano passado, foram feitos mais de 141 mil testes para diagnóstico do coronavírus no Estado. Do total, 37 mil positivaram, cerca de 26% do total.

Onde fazer teste de Covid gratuito em Fortaleza

  • Centro de Testagem para Viajantes no Aeroporto de Fortaleza;
  • Centro de Testagem para Viajantes na Rodoviária de Fortaleza;
  • Praça do Ferreira (antigo Excelsior Hotel), sem necessidade de agendamento;
  • Drive-thru no Hospital Geral (HGF) e no RioMar Kennedy, com agendamento;
  • 116 postos de saúde da cidade.

Também imunizada com duas doses da vacina anticovid e prestes a tomar a dose de reforço, a jornalista Julyana Silveira, 37, testou positivo para a doença na primeira segunda-feira do ano (3), dois dias após aparecerem a coriza, a tosse e o quadro febril leve.

“Não sei como peguei nem de quem, porque não fui pra nenhuma aglomeração. Passei o réveillon na casa de uns amigos, e todos se resguardaram uma semana antes, para evitar exposição”, declara.

Ao receber o resultado do teste confirmando a primeira infecção pelo coronavírus, a jornalista se isolou e comunicou aos amigos com quem teve contato. Duas outras pessoas apresentaram sintomas depois da comemoração de fim de ano.

Estou de máscara N95 em casa, dormindo em outro quarto, e isolei copo, prato, talher, fiz o que pude. É impossível me isolar 100%, porque tenho duas filhas pequenas que me requisitam.
Julyana Silveira
Jornalista

Para a estoquista Luciana Araújo, 28, ver a palavra “reagente” no teste que realizou após uma reunião de amigos no réveillon, em Fortaleza, foi “um baque”. “Dia 2, amanheci com a garganta arranhando, o nariz meio entupido, e já me assustei. Mas não imaginei que era Covid, pensei que poderia ser influenza”, conta.

Com o resultado positivo para coronavírus, veio o isolamento total dos pais, que vivem na mesma casa, e o repouso. Assim como Átila e Julyana, Luciana aposta que a não gravidade dos sintomas é conferida pelas duas doses do imunizante.

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“Ano passado, vários amigos meus adoeceram, alguns graves. Então apesar de ter começado a sair mais, depois da vacina, eu ainda tinha medo de pegar, mantinha os cuidados. Mesmo assim, peguei. É importante manter o alerta e fazer o teste”, finaliza.

Perigo da alta transmissibilidade

Especialistas em saúde observam que os sintomas causados pela variante Ômicron, que já tem transmissão comunitária em Fortaleza, são aparentemente mais leves, mas que a alta capacidade de disseminação dela representa um risco.

“Não sabemos se podemos estar criando novas variantes com esse exagero de transmissão. Vírus quando se replica muito pode gerar isso. A pandemia não acabou. E se quisermos acabar com ela, temos que impedir o vírus de se replicar”, alerta a epidemiologista Lígia Kerr.

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Na última quinta-feira (30), o Coletivo Rebento – Médicos e Médicas em Defesa da Vida, da Ciência e do SUS publicou texto recomendando uma série de providências a serem adotadas pela população e pelo poder público diante da epidemia gripal e da pandemia de Covid no Ceará. 

Um dos alertas dos médicos foi para o fato de que “uma doença mais transmissível costuma causar mais estragos que o contrário”. “Numa quantidade gigantesca de casos, uma menor proporção de complicações ainda será um grande dano”, pontuou o coletivo.

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