Solicitações de leitos Covid-19 aumentam 20% em dezembro; maioria da demanda é por enfermaria

Imunização, testagem e isolamento são ferramentas para evitar avanço na transmissão da doença e sobrecarga dos serviços de saúde

Escrito por Lucas Falconery , lucas.falconery@svm.com.br
UPA Fortaleza
Legenda: Atendimentos são mais constantes desde o início do mês de dezembro
Foto: Natinho Rodrigues

As solicitações por leitos para tratamento de pacientes com Covid-19 cresceram 20% entre os meses de novembro e dezembro no Ceará com destaque para as unidades de enfermaria. Além da adequação das unidades de saúde, o cenário atesta a relevância da testagem e do isolamento em quadros de síndromes gripais.

Nos últimos dois meses de 2021, a demanda por leitos de enfermaria e Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) passou de 788 para 948 - aumento de 20,3%. Os dados são da plataforma IntegraSUS da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).

Os dados mostram também, nesta segunda-feira (3), 69 pacientes aguardando transferência para leitos de enfermaria e outras 37 pessoas para UTI. No Estado, a ocupação de enfermaria está em 21,35% e de UTI em 42,4%. 

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As solicitações por leitos para pacientes com sintomas gripais nos dias 30 e 31 de dezembro serviram como alerta para as autoridades de saúde, que indicaram adequação dos pontos de atendimento.

“A Secretaria da Saúde do Ceará informa que está monitorando e realizando reuniões com gestores das unidades estaduais de saúde para adequar a rede assistencial após o crescimento observado nas solicitações de leitos”, divulgou a Sesa em comunicado.

A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Fortaleza foi procurada para detalhar o cenário na Capital. A reportagem será atualizada quando a Pasta responder ao Diário do Nordeste.

Na prática, como analisam especialistas, o aumento de casos de Covid-19 mostra a relevância das medidas de contenção da doença para evitar qualquer tipo de sobrecarga aos postos, hospitais e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).

UPA
Legenda: Imunização protege contra casos graves da doença e evita internamentos
Foto: Fabiane de Paula

“A gente já vinha acompanhando esse aumento em dezembro, pela quantidade de síndromes gripais nas UPAs. Inclusive, a gente bateu recorde, desde janeiro de 2020, foi o mês com maior número de atendimento”, contextualiza a médica e professora do Departamento de Saúde Comunitária na Universidade Federal do Ceará (UFC) Magda Almeida.

Além de mais pessoas nas UPAs, como acrescenta a especialista, os quadros de gravidade chamaram atenção: cerca de 27% da quantidade de pacientes classificados como prioridade amarela e 12% como laranja no controle de atendimentos.

Ainda não foi divulgado um perfil mais detalhado dos pacientes, mas algo em comum é notado pelos profissionais da saúde. "O que a gente sabe pelas informações dos hospitais é que a maioria dos pacientes mais graves são pessoas não vacinadas”, contextualiza.

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Lições da 1ª e 2ª onda

Análise do comportamento do coronavírus mostra a relevância de evitar o aumento na velocidade de pessoas contaminadas pela doença para que haja condições estruturais de atender os pacientes.

A Covid, na maioria dos casos, é uma doença leve, mas como tem uma transmissibilidade alta adoecem várias pessoas ao mesmo tempo e causa uma demanda mais alta do que os serviços de saúde são capazes de absorver
Magda Almeida
Médica e professora do Departamento de Saúde Comunitária

A especialista alerta que os indicadores do aumento de solicitações por leito podem ser tardios, do ponto de vista epidemiológico, porque correspondem ao crescimento de infecções em momento anterior.

“Não se sabe se a nova cepa (Ômicron) responde da mesma maneira, mas o que se sabe é que os internamentos começam com 7 dias de sintomas da doença”, acrescenta.

Além disso, os assintomáticos também podem impactar nessa cadeia de espalhamento da doença. “A maioria das pessoas vai passar pelo quadro infeccioso com poucos sintomas ou sem sintomas. Mas é importante que se isolem, para quebrar a transmissão, e monitorem a saturação de oxigênio”, recomenda Liduina Rocha, médica participante do Coletivo Rebento.

Estamos vivendo, muito provavelmente, uma terceira onda se aproximando, com uma variante de transmissividade maior, mas com o cenário de mais pessoas plenamente vacinadas
Liduina Rocha
Médica

O Ceará alcançou 69,44% da população com duas doses ou dose única da vacina contra a Covid-19 até este domingo (2). “Uma parte significativa dessas pessoas não vai precisar de atenção hospitalar. Talvez apenas a atenção ambulatorial e as unidades básicas de saúde são fundamentais”, contextualiza Liduina.

Os cuidados constantemente lembrados para o uso de máscaras adequadas, como cirúrgicas e do tipo PFF2, isolamento e higienização, são frisados pela médica. “Do ponto de vista da saúde pública, é um momento de reforçar a importância do isolamento, porque a gente está tendo uma pandemia e uma epidemia (de gripe), ambas de vetor viral pelas vias aéreas".

Conviver com epidemias

Magda Almeida analisa que a população deve adequar à rotina conforme os indicadores. “A gente vai aprender a conviver com essas epidemias, a estratégia de uso de máscaras permanece, não tem jeito. O cuidado com as higienes das mãos, se tiver doente não comparecer ao trabalho”.

Nesse contexto, a vacina contra a Covid-19 desponta como a principal ferramenta para evitar quadros graves, inclusive, da variante Ômicron. “É importante que as pessoas saibam que é uma proteção progressiva: quem tomou só uma dose tem mais risco do quem tem duas doses, que tem mais risco do que quem tem três doses”.

A população também não pode se esquecer da imunização contra a gripe, como lembra a médica epidemiologista, Lígia Kerr. "As crianças e adultos devem tomar a vacina da influenza, porque apesar de não proteger totalmente contra a H3N2 que está circulando, ela tem efetividade”.

Adultos, adolescentes e jovens que ainda não se vacinaram devem se vacinar para frear a transmissão e o surgimento de novas variantes
Lígia Kerr
Médica epidemiologista,

Outra forma de enfrentar o momento de crescimento dos números da pandemia se dá pela testagem.

“Aqui no Brasil nós não temos acesso ao auto teste, que é muito importante nesse momento de flexibilização que vivíamos. Como a gente está com uma variante com um potencial de infectividade muito grande, fazer o auto teste é fundamental para trazer segurança para eventos”, explica Liduina Rocha.

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