Calopsita: saiba características, como cuidar e curiosidades sobre a ave

Espécie, registrada como Nymphicus hollandicus, é uma das mais populares do mundo

Escrito por Marcelo Monteiro , marcelo.monteiro@svm.com.br
Calopsita de perfil, em plano detalhe
Legenda: Calopsita perde apenas para o periquito-australiano em popularidade
Foto: Shutterstock

Engana-se quem pensa que apenas os papagaios podem falar. A calopsita (Nymphicus hollandicus), uma das espécies mais populares do mundo, tem essa capacidade — e uma série de outras características que a fazem umas das queridinhas dos criadores de aves.

Da ordem psitaciforme, a calopsita é bastante esperta e faz jus à sua popularidade como boa imitadora de sons. Segundo a médica veterinária Estéfanni Pinheiro, a ave vocaliza por meio de assobios e gritos da espécie. "Muitas chegam até a imitar sons que ouvem com frequência", pontua.

Saiba tudo sobre a calopsita 

A profissional enumera, também, que a ave é ativa, alegre, dócil e pequena, o que suscita a procura pela espécie por quem busca um pet com penas para domesticar.

A criação, inclusive, é permitida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que listou a espécie como pertencente à fauna doméstica em portaria de julho de 1998.

Em razão disso, a calopsita pode ser comercializada e vendida como animal de estimação, podendo viver até 15 anos em cativeiro, em média.

Origem

A calopsita é oriunda da Austrália, sendo descrita, inicialmente, conforme Estéfanni Pinheiro, como Psittacus hollandicus, em 1792. No entanto, 40 anos mais tarde, foi reclassificada em um novo gênero, o Nymphicus, em homenagem às ninfas da mitologia grega.

Em 1884, a ave já se encontrava bem estabelecida em aviários europeus, mas só passou a ser introduzida no Brasil a partir da década de 1970.

Atualmente, a calopsita é uma das espécies mais criadas no mundo como ave de estimação, perdendo apenas para o conterrâneo periquito-australiano.

Do inglês "cockatiel", o nome da ave, conforme a veterinária, advém de adaptação de uma palavra holandesa e portuguesa para "pequena cacatua". Ambas pertencem à família dos cacatuídeos, cuja característica principal é o levantamento de crista na cabeça.

Montagem com foto de calopsita sobre dedo, à esquerda, e cacatua sobre mão, à direita
Legenda: Embora calopsita derive da expressão "pequena cacatua", porte não é a única diferença entre os animais
Foto: Shutterstock

Contudo, a calopsita é diferente da ave não só no porte, mas também em uma série de fatores: a cacatua é mais inteligente, tem necessidades nutricionais diferentes, precisa de mais atividades e é mais cara, podendo chegar a custar R$ 10 mil no exemplar mais comum, do tipo alba. "A gente brinca que são o primo rico e o primo pobre", comenta.

Características da calopsita

A ave tem tamanho de médio a pequeno, podendo ser encontrada em diversas cores. A variedade de tons, segundo a profissional, é motivada pelas mutações que a espécie, única, teve ao longo do tempo — e que seguem até hoje.

Montagem com três fotos de mutações de calopsitas diferentes
Legenda: Diversas mutações de calopsitas podem ser encontradas pelo público
Foto: Shutterstock

Dada a grande mistura por cruzamentos de mutações, a ave perdeu características de dimorfismo com coloração. Isso fez com que a descoberta do sexo do animal fosse dificultada com o passar dos anos.

Como saber se é macho ou fêmea

Embora o canto possa sinalizar que o animal seja macho, a Estéfanni Pinheiro situa que hormônios masculinos também existem nas fêmeas, tal como se dá nos seres humanos. "A gente tem fêmeas que têm disfunção hormonal ou têm presença maior desse hormônio e cantam tão bem quanto um macho", aponta.

A médica veterinária alude à calopsita silvestre como uma mutação na qual havia pontos que indicavam a distinção da sexagem da ave. Com a ampliação de cruzamentos de mutações, os referenciais foram se perdendo.

De acordo com Estéfanni Pinheiro, o sexo da ave pode ser descoberto por exame PCR (sigla para Polymerase Chain Reaction, do inglês). "Detectamos, pela reação de PCR, a presença ou ausência de um gene específico, o qual só pode ser encontrado nas fêmeas e nunca nos machos", explica.

No entanto, o proprietário da ave pode descobrir o sexo do animal por características secundárias. "Por exemplo, colocou ovo, com certeza é uma fêmea", garante a profissional.

Como a calopsita aprende a cantar

A ave é bastante inteligente, aspecto que lhe possibilita aprendizado de comandos de voos, truques, cantos, palavras e frases, segundo a veterinária. As ações, porém, precisam ser ensinadas e estimuladas da forma correta.

O animal pode aprender a cantar e falar por repetição e facilidade — termos mais complicados podem não ser assimilados facilmente pela ave. Além disso, o criador deve ter cuidado com o treinamento, a ser realizado de modo restrito.

Calopsita sobre dedo de pessoa
Legenda: Animal deve ter treinamento delimitado e ser recompensado no processo de aprendizagem
Foto: Shutterstock

"Deve-se delimitar momentos de treinamento, recompensar a ave, e observar qual som ela começa a fazer", aponta a profissional, indicando que o proprietário avalie o que é mais acessível à calopsita.

Alimentação

Embora muitas pessoas utilizem sementes na alimentação de aves, a veterinária indica que essa não é a escolha mais correta. "Essas sementes são gordurosas, deficientes em aminoácidos, minerais e vitaminas, não suprindo a necessidade nutricional do animal", ressalta.

Calopsita no chão, próxima a sofá
Legenda: Sob os devidos cuidados, ave pode viver, em média, até 15 anos em cativeiro
Foto: Shutterstock

De acordo com Estéfanni Pinheiro, a alimentação ideal deve ocorrer à base de ração extrusada balanceada e de boa qualidade. O alimento tem ingredientes misturados, aquecidos e cortados uniformemente para facilitar a ingestão dos animais. 

As sementes até podem ser ofertadas de vez em quando, desde que sejam apenas dadas como agrado ou petisco. Além disso, a calopsita pode comer alimentos naturais como verduras verdes escuras, frutas e legumes. 

Alimentos como café, pão, biscoito, além de sementes de uva, maçã ou a granel, devem ser evitados.

Higiene

A calopsita deve ser banhada apenas com água. O banho, porém, pode ser feito de diversas maneiras, como com uso de spray, torneira e até banheira.

Apesar da variedade de possibilidades, a médica veterinária frisa ser necessário cuidado, dado que o animal pode ser afogado durante a limpeza. O dono, inclusive, deve prestar atenção a como o bicho reage: "Não se deve obrigar a ave a tomar banho; deve-se oferecer e ver o comportamento dela", aconselha.

Problemas de saúde

De acordo com a médica veterinária, a maioria das doenças a que a calopsita é suscetível decorre de erro de manejo, principalmente alimentar. As doenças mais observadas na ave são:

  • Obesidade (excesso de peso que compromete órgãos);
  • Lipidose hepática (excesso de gordura no fígado, perdendo capacidade de funcionamento); 
  • Hipovitaminose A (deficiência de vitamina A no organismo);
  • Deficiência de empenamento — que também pode ser causada por estresse —, entre outras.

A profissional salienta que a maioria dos problemas é causada por desconhecimento das necessidades nutricionais e desinformação dos tutores.

A hipovitaminose A, por exemplo, pode ser provocada quando o animal se alimenta exclusivamente de sementes.

Além das disfunções alimentares, a ave também pode sofrer problemas respiratórios por falhas no manuseio. "O pessoal deixa a calopsita na varanda, e a gente tem um vento frio à noite. A ave pode ter um problema de aerosaculite, pneumonia, rinite, entre outros", atesta.

"Já acaba virando uma bola de neve, porque o animal que come mal tem hipovitaminose A, e a deficiência de vitamina A pode comprometer o sistema respiratório. Às vezes, a gente não sabe de onde começou aquela doença".
Estéfanni Pinheiro
Médica veterinária

Riscos de acidentes

A calopsita, bastante curiosa e "danada", conforme a profissional, pode sofrer eventos traumáticos. Por, às vezes, ficarem soltas em casa, as aves sofrem o risco de se envolver em acidentes domésticos.

"Já atendi calopsita que o pessoal bateu a porta e não viu ela atrás; que levantou da cadeira e a calopsita tava atrás; que derrubou algum objeto sobre a ave; que caiu dentro de máquina de lavar, de balde de água quente, de panela", relembra. 

A médica veterinária considera que criação da ave em liberdade doméstica não é errada, mas enfatiza: "É igual a uma criança, precisa estar com cuidado o tempo todo".

Para evitar ocorrências prejudiciais à saúde da ave, a recomendação profissional, além do cuidado, é de check-up a cada quatro ou seis meses, com exames de sangue, imagem, fezes, entre outros.

Onde encontrar

A calopsita pode ser encontrada em lojas do tipo pet shop e por meio de criadores. Os preços, entretanto, variam a depender da mutação.

A mais comum, denominada Lutina, custa em torno de R$ 150 a R$ 200, dado que é uma das mais fáceis de sair em cruzamentos, segundo a médica veterinária. Essa mutação é caracterizada por cor predominantemente amarela, com uma área alaranjada na região lateral da cabeça.

Mutações como cara branca, reversa e albina, mais difíceis de sair, costumam ser mais caras.

O preço da ave também subir caso a criação do animal seja feito com alimentação correta.

Estéfanni de Castro Pinheiro é médica veterinária formada pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), com pós-graduação em Clínica e Cirúrgica de Animais Selvagens pelo Instituto Qualittas. Ela é membro associado da Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens (Abravas) e sócia-proprietária da Clínica Veterinária Geração Silvestre.

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