Motivos para sorrir: estudantes estão revelando talento para ciência no Ensino Médio

Aos 17 anos, jovem baiana desenvolve próteses dentárias a partir da casca do ovo

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(Atualizado às 12:33)
Legenda: Estudante Gabriela Moraes de Santana, de 17 anos.
Foto: Acervo pessoal

Uma criança curiosa, uma adolescente fascinada pela área de saúde. A paixão pela ciência ganhou motivação ainda maior quando percebeu que suas ideias poderiam ajudar os menos favorecidos. A estudante baiana Gabriela Moraes de Santana, 17 anos, produziu um projeto científico sobre próteses dentárias criadas a partir da substância da casca do ovo de galinha.

Chamado Pônticos Dentários Confeccionados com Hidroxiapatita Produzida a Partir da Casca de Ovo da Gallus Gallus Domesticus, o projeto visa baratear o custo das próteses dentárias e foi desenvolvido no projeto de Iniciação Científica da Escola SESI Djalma Pessoa, onde Gabriela cursa o Ensino Médio. “Teve um momento da minha vida que eu comia muito ovo e, então, parei para pensar ‘não é possível que o Brasil seja um dos maiores produtores de ovo do mundo e que a gente coma e descarte tanto as cascas. Será que elas não têm utilidade de fato?’, questionava-se a estudante que começou a pensar na possibilidade da pesquisa em casa mesmo.

Professor de Ciências Biológicas e de Iniciação Científica, Marcelo Barreto foi o orientador de Gabriela nesta jornada de descobertas. O educador explica o processo de criação dos projetos científicos. “O aluno vem para a linha de pesquisa e começamos a trabalhar qual problemática ele vivencia para que a gente consiga, a partir da sua realidade, ajudá-lo a desenvolver ciência”.

A primeira descoberta: a casca do ovo de galinha tem substâncias semelhantes ao dente humano. “Quando Gabriela trouxe algo que ela vivenciava, eu e um professor de química pesquisamos sobre o assunto e conseguimos fazer a extração da substância da matéria-prima. Porém tínhamos um problema: ao extrairmos a hidroxoapatita da casca do ovo, ela ficava parecendo giz, porosa e não conseguíamos fazer que ela tivesse resistência para ser utilizada na boca”, detalha o professor.

Com a ajuda do corpo docente de Engenharia de Produção do Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia (Cimatec), professores e aluna conseguiram, ao longo dos últimos dois anos, superar os desafios que surgiram durante o processo. “Eles sugeriram que fizéssemos um biopolímero com a hidroxoapatita, misturando o ácido cítrico e outra substância, para conseguirmos um biopolímero que não derretesse na boca em contato com o ácido e tivesse uma resistência muito grande. Assim, conseguimos ter o objeto, a estrutura”, revela Barreto.

A pesquisa rendeu para Gabriela conhecimentos que extrapolam a sala de aula e o primeiro lugar no Prêmio Jovem Cientistas 2019, realizado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), além da participação entre as finalistas na 18ª Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace). “Quando você vai para a Feira, seja como ouvinte ou como participante, é lindo porque você vê que o jovem é capaz de fazer ciência e, muitas vezes, a gente duvida do nosso potencial por sermos novos demais. Eu via projetos incríveis de pessoas que estavam ali fazendo acontecer, projetos que vêm para agregar e trazer um impacto muito grande na vida das pessoas. Eu sou extremamente grata por ter participado e estar participando até hoje”.

O professor Marcelo Barreto ressalta a importância de que alunos do Ensino Médio tenham acesso à ciência através das instituições de ensino. “Eu era aquele aluno que não era nem muito bom nem muito ruim. Quando me formei professor, queria atingir todos os estudantes, os que precisavam de uma didática diferenciada, como por exemplo a pesquisa, a ciência. Quando vejo um aluno meu saindo da escola com a experiência que eu só tive na universidade, com bagagem, fico feliz demais”.

Com uma bagagem para lá de diferenciada, a estudante Gabriela de Moraes Santana já tem planos definidos: ingressar no curso de Biomedicina e conseguir aprofundar seu projeto de pesquisa na faculdade. Ao olhar para trás, ela hoje tem uma certeza ainda maior do que quer para o futuro: “aquela menina que brincava com os produtos de limpeza de casa está conseguindo”, vibra. 

O desperdício de uma inusitada matéria-prima de um lado, o sorriso banguela no rosto de tantos brasileiros na outra ponta. De acordo com a pesquisa “Percepções latino-americanas sobre perda de dentes e autoconfiança”, realizada pela Edelman Insights, cerca de 16 milhões de pessoas vivem sem um dente sequer no país. Na faixa etária acima dos 60 anos, 41,5% dos brasileiros já perderam todos os dentes. “É um problema que compromete a saúde fisiológica e autoestima das pessoas. Então, é um problema que afeta a qualidade de vida”, resume com orgulho a jovem cientista.

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