Boatos sobre demissões em massa agravam confiança na economia

Informações falsas sobre desligamentos em empresas cearenses circularam nas redes sociais - propagação de boatos pode aumentar ainda mais a crise na economia ao afetar expectativas. Grupos anunciam contratações

Escrito por Redação ,
Legenda: Estabelecimentos mantêm lojas fechadas durante quarentena no Estado
Foto: Foto: Camila Lima

A difusão desenfreada de notícias falsas, as fake news, pode piorar ainda mais a situação econômica, diante do quadro de crise provocado pelo novo coronavírus. O economista Allisson Martins avalia que, mesmo sendo difícil mensurar os impactos econômicos causados por boatos, a disseminação dos mesmos atinge a confiança de trabalhadores, consumidores e empresários.

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"Percebemos que o sistema econômico já está bem deteriorado, de modo que essas informações falsas, quando aparecem, só aprofundam essa queda de confiança no sistema econômico, bem como as expectativas", diz.

Ele explica que a economia é baseada nestas relações entre consumidores e empresários. "Consumo e produção são afetados com essas notícias falsas. A recomendação é buscar a grande imprensa através dos meios de comunicação para confirmar essas notícias", aponta.

Na última segunda-feira (23), após a circulação em redes sociais de falsas informações sobre demissões no Colégio Ari de Sá Cavalcante, a instituição publicou nota esclarecendo que "a Escola não fez e nem pretende fazer demissão de qualquer professor ou funcionário neste momento de crise", destaca a direção.

De acordo com o diretor presidente do Colégio, Oto de Sá Cavalcante, o autor dos boatos já admitiu o erro. Ele aponta que esse tipo de informação acaba gerando instabilidade em segmentos diversos da economia local.

"Acho que todos os trabalhadores, quando veem uma notícia como essa, ficam inquietos. Porque se o Colégio Ari de Sá, que é um colégio de muito conceito, estivesse fazendo isso, todo mundo iria demitir. Lamento muito".

Oto reforça que os pagamentos de março já foram realizados. "Uma postagem dessa natureza desestabiliza toda a nossa comunidade. O que as pessoas menos querem neste momento é perder salário", aponta. "A hora é de tentar acalmar as pessoas e isso (boatos) é a pior coisa que pode acontecer no momento", alerta.

Outro estabelecimento que foi alvo de boatos sobre demissões nos últimos dias foi o restaurante Coco Bambu. O proprietário do estabelecimento, Afrânio Barreira, lamenta o ocorrido e afirma que os mais de 7 mil empregos diretos gerados pelos restaurantes Coco Bambu no Brasil estão mantidos através da concessão de férias coletivas e celebração de acordos com os sindicatos.

"Buscamos alternativas que visam fazer com que nosso funcionário permaneça empregado durante este período de turbulência e, principalmente, a longo prazo, após a superação desta fase de crise. Estas são nossas prioridades", diz o empresário.
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De fato, vivemos um momento sem precedentes na história moderna. E as informações circulam em uma velocidade jamais vista, o que muitas vezes se torna desinforma-ção diante da quantidade de fake news que circulam nas mídias sociais, então é preciso ter muito cuidado para não ser impactado por algo falso", arremata Afrânio.

Assim como o Colégio Ari de Sá, que mantém as atividades curriculares por meio de aulas remotas, o restaurante, mesmo com os salões temporariamente fechados, continua atendendo os clientes, em todo o País, por meio do serviço de entrega.

Contratações

Diante do cenário das notícias falsas de demissões em massa, há setores que estão mantendo seus quadros de funcionários e até mesmo contratando mão de obra extra para suprir a demanda crescente. São os casos, por exemplo, da indústria alimentícia, química e do setor supermercadista, que viram o consumo de diversos produtos aumentar exponencialmente de uma hora para outra.

De acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias da Alimentação e Rações Balanceadas do Estado do Ceará (Sindialimentos), André Siqueira, foi notório no primeiro momento que as pessoas corressem para os supermercados para fazer estoque de alimentos.

"Mas isso está se normalizando. As pessoas estão comprando mais para irem menos ao supermercado. O setor está em pleno funcionamento e adotamos uma série de medidas para conviver com o risco de contaminação", aponta.

Segundo ele, para manter os empregos, algumas empresas optaram por dividir as equipes, com uma parte trabalhando de casa, dos setores administrativo e comercial, por exemplo, e a outra parte, dentro das fábricas. "Isso para diminuir a densidade dentro da fábrica, até porque fechar empregos é muito complexo. Neste momento, a gente tem que ser criativo, não podemos ser irresponsáveis", acrescenta .

Mercado

Para Erle Mesquita, analista de Mercado de Trabalho do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), neste momento de crise, com fake news, demissões em alguns setores e mercado de trabalho fragilizado, o ideal é um pacto tripartite, entre governos, entidades patronais e entidades trabalhistas para construírem uma estratégia.

"A gente tem que entender que todos vão perder com a crise. Alguns setores vão ter perdas mais expressivas. Mas em um contexto de instabilidade, é preciso um ambiente estável para lidar com essa crise", alerta.

Mesquita chama esse pacto de diálogo social que ajudaria a superar a crise econômica. "A gente tem que realmente ter um diálogo social muito forte que transcende vários fatores, não só econômicos. Um diálogo para traçar estratégias para resolver os problemas", acrescenta.

Segundo ele, o cenário atual é de precarização das relações de trabalho. "Isso traz consequências em curto e médio prazos para a estabilidade dos trabalhadores. Cada vez mais as pessoas estão incertas com o mercado de trabalho. Antes mesmo da Covid-19, o Brasil e o Ceará já estavam em crise, e o desemprego ainda estava alto".

 

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