“Não me formei para pendurar diploma no cabide”, diz idoso de 74 anos recém-formado em Arquitetura

Natural de Trairi, Francisco Alves Cordeiro quer aplicar o que aprendeu no ensino superior para fomentar a rede hoteleira cearense.

Escrito por Redação ,
Aposentado apresenta projeto de conclusão de curso
Legenda: Seu Cordeiro deseja fomentar turismo no litoral norte. "Área que precisa receber esse tipo de empreendimento", conta
Foto: Arquivo Pessoal

Há quatro anos, com os filhos crescidos e a aposentadoria aprovada, o técnico em edificações Francisco Alves Cordeiro, de 74 anos, resolveu aproveitar o tempo livre para resgatar um desejo antigo: entrar no ensino superior. Por isso, o aposentado ingressou no curso de Arquitetura e Urbanismo em uma faculdade particular de Fortaleza. A conclusão aconteceu no fim de agosto de maneira remota e, agora, "Seu Cordeiro" faz questão de apresentar a titularidade recém conquistada. “Sou arquiteto e urbanista”, conta. 

Do dia da formatura, o novo arquiteto coleciona registros. “Tenho tudo salvo. Minha foto do juramento, meu projeto de conclusão. O diploma ainda não tenho porque foi muito recente, mas vai chegar logo”, explica. O documento é muito esperado e o aposentado garante que não será para enfeite. “Não me formei para pendurar diploma no cabide. Eu já estou desenvolvendo projetos”, garante. 

Juramento de formatura.
Legenda: Por conta da pandemia de Covid-19, Seu Cordeiro participou de formatura virtual.
Foto: Arquivo Pessoal

Destino

Não é a primeira vez que o aposentado investe na carreira de arquiteto. Ainda jovem, nos anos 1970, ele foi selecionado para o curso de Arquitetura na Universidade Federal do Ceará (UFC), mas não seguiu com os estudos. “Falta de tempo", justifica. "Na época, eu tinha emprego. É um curso muito puxado e você precisa estar disponível de dia, de tarde e de noite. Trabalhando não tinha como”. 

Na época, Seu Cordeiro estava entre os funcionários do Banco do Nordeste. “Passei em um concurso público super concorrido depois de muito estudar. Cheguei em Fortaleza ainda menino para isso, para investir na educação”, conta.

Ele, que é natural de Trairi, veio para a Capital com um empurrão do destino. “Um empresário estava devendo uma certa quantia ao meu pai, que era comerciante. Estava demorando muito a pagar. Nisso, minha mãe fez uma sugestão: ‘Leve meu filho para morar com você em Fortaleza para estudar’. Assim, cheguei aqui”, relembra o aposentado. 

Pela estrutura da família que o recebeu, “bem de vida”, Cordeiro estudou em diversas escolas prestigiadas. “Concluí o ginásio. Estudei no Liceu do Ceará, depois ingressei na Escola Técnica no curso de Edificações. Passei mais de 10 anos morando com essa família”, conta. A dívida, brinca o idoso, nunca foi paga. “Que eu saiba, ele nunca  pagou papai. Mas o que ele fez por mim não tem preço. Sou muito grato a toda a família pela oportunidade e sei a diferença que fez na minha vida”, confessa.

Novos olhares

Com a experiência adquirida e vontade de levar o conhecimento para a cidade natal, Cordeiro já projeta os próximos passos da carreira.

“Meu foco é o turismo no Litoral Norte, nos arredores de Trairi. Meu objetivo é urbanizar aquele espaço. A Praia de Flecheiras, bem próxima, recebe mais visitantes que Jericoacoara, com muita gente rica. Quero investir no Trairi, na rede de turismo, senão ele será engolido por Flecheiras”, aponta.

O arquiteto até pensou em usar a proposta de uma intervenção como trabalho de conclusão de curso mas, pelo porte do material, optou por trazer uma estrutura hoteleira menos aprofundada. “É um trabalho que exige uma estrutura, um estudo. Não daria para colocar em seis meses, que era o tempo de trabalho que tinha na faculdade. Eu faço com muito carinho. Quero promover o meu lugar”, explica. 

Além da vontade de dedicar ao turismo e empreendimentos da rede hoteleira, Cordeiro também investe em projetos de moradias com preço acessível. “Essas casas eu vou fazer pela minha região. Casas populares, com possibilidade de receber famílias com renda de R$ 2 mil. Minha intenção é construir duas casas por mês. É uma opção de investimento viável”, explica.