Grupo se mobiliza para apoiar financeiramente estudantes de baixa renda em preparação para o Enem

A segunda campanha do Movimento Amplia pretende garantir aos estudantes acesso ao ensino remoto

Escrito por Redação ,
Legenda: Até o dia 18 de agosto, o projeto recebe doações para a campanha ‘Siga Firme’, a fim de beneficiar, por meio de bolsa, o grupo de estudantes da rede movimentos parceiros que atuam na promoção da educação para a população vulnerável
Foto: Helene Santos

Desde que conseguiu o apoio para financiar a inscrição no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 120 estudantes brasileiros, o professor Cristiano Ferraz, de 26 anos, decidiu incrementar as ações do Movimento Amplia e garantir o acesso remoto para os alunos que estão se preparando para a prova.  

Até o dia 18 de agosto, o projeto recebe doações para a segunda campanha, a ‘Siga Firme’, a fim de beneficiar, por meio de bolsa, o grupo de estudantes da rede movimentos parceiros que atuam na promoção da educação para a população vulnerável, a exemplo da Rede Emancipa e do projeto ‘4G para Estudar’.

“O Amplia surgiu com essa potência toda e pensamos que temos muita força pra canalizar essas ações para outras demandas, porque a gente sabe que as barreiras que existem na educação não se encerram com o pagamento da inscrição da prova”, aponta Cristiano, professor da Rede Municipal de Petrolina, em Pernambuco.  

De acordo com dados da pesquisa TIC Kids Online 2019 com apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), 4,8 milhões de crianças e adolescentes no Brasil, na faixa de 9 a 17 anos, não têm acesso à internet em casa, cerca de 17% dos jovens nesta faixa etária.  

Em contato direto com essa realidade, Cristiano explica que a pandemia acentuou ainda mais essas diferenças. “São estudantes que estão numa situação muito difícil. A educação hoje é a última prioridade deles por conta das dificuldades que estão vivendo. Criar essas redes de apoio e sensibilizar a sociedade, porque o Estado tem uma obrigação, mas a sociedade como um todo também precisa se atentar para essas questões”, alerta.  

Beneficiados  

A primeira campanha do Movimento, que financiou a inscrição do Enem, beneficiou 120 estudantes de todo o Brasil, 2 delas são cearenses. Mais de 50 mil pessoas se disponibilizaram a contribuir com o projeto, no entanto, boa parte dos alunos não chegou a enviar o boleto, outros conseguiram a isenção, entre outras dificuldades encontradas pelos voluntários.  

Entre o número total, a maioria (53%) é da Região Sudeste e 31% da Região Nordeste. 93% dos beneficiados se autodeclararam como pretos ou pardos.  

A estudante Ielorha Moreira, de 21 anos, foi uma dos dois únicos cearenses a conseguir o benefício, que veio “no último minuto”, mas não tarde demais. Ela descobriu que a campanha estava prestes a ser encerrado, e chegou a enviar o boleto para pagamento da inscrição no Enem pouco depois do horário-limite.  

“Fiquei muito nervosa pensando que não ia conseguir. No dia seguinte, entraram em contato comigo dizendo que não tinham efetuado o pagamento do boleto porque o formato em que eu enviei estava incorreto. Foram passando as horas, chegando perto do vencimento da inscrição. Foi bem complicado, mas deu certo”, comemora. 

A jovem concluiu os estudos na Escola de Ensino Fundamental e Médio (EEFM) Dr. Ubirajara Índio do Ceará, no bairro Conjunto Ceará, e, desde então, vinha estudando sozinha em casa, com o objetivo de conquistar uma vaga no Ensino Superior. “Eu não tinha mais a gratuidade porque já tinha saído da escola pública. Achei que não ia mais conseguir participar dessa edição do Enem porque estava sem dinheiro. Tive que me mudar com minha família, e todo o dinheiro foi gasto na mudança”, conta. 

Agora, a preocupação de Ielorha se volta para a dúvida de cursar Nutrição ou Psicologia na universidade. “Eu fiquei feliz demais. Pra mim, já não ia acontecer, pensei que tinha estudado à toa. Mas por fim, deu certo”, afirma. 

Para Cristiano, poder ver o impacto real no projeto na vida desses estudantes foi a melhor parte. “Muitos deles falaram que não pretendiam mais tentar o Enem, não tinham isso como prioridade e, quando veio o projeto, deu um outro gás, um estímulo, de saber que tem alguém olhando por eles”, relata.

Além do valor da inscrição, os estudantes foram beneficiados com outras ações. “Com a repercussão, muitas organizações entraram em contato querendo apoiar, cursinhos querendo disponibilizar aulas online, plataformas online pra oferecer simulados”, conta Cristiano.  

O Movimento

O Amplia surgiu no início de junho, quando Cristiano viu a notícia de que mais de 300 mil inscritos no Enem não haviam efetuado o pagamento. Preocupado com a quantidade, resolveu agir. Na internet, descobriu o projeto ‘Pretos no Enem’, criado por dois cearenses, e pensou que também poderia promover ação parecida. Hoje, o movimento conta com 8 voluntários fixos e outros 20 para ações mais pontuais.  

“Comecei a fazer no meu Instagram, que era pra ficar dentro da minha rede e acabou tomando uma proporção muito grande e muita gente querendo apoiar. Em apenas três dias, conseguimos mais de 50 mil inscritos pra ajudar, tivemos pouco tempo pra conseguir que a informação chegasse a esses estudantes, mas conseguimos um número legal”, diz.