Lidar com a dinâmica do novo normal de maneira saudável é possível, afirmam especialistas

Leveza e controle emocional são quesitos fundamentais no retorno à vida social neste período de pandemia

Escrito por Zilda Queiroz , zilda.queiroz@svm.com.br
Imagem: Thiago Gadelha
Legenda: Para quem já voltou a vivenciar o movimento das ruas ou ao mercado de trabalho nessa nova dinâmica, a psicóloga Camila Santos diz que praticar atividade física relaxante e terapêutica deixa a pessoa mais leve para encarar o novo normal
Foto: Thiago Gadelha

A distância física na relação com o outro, o uso constante da máscara e a higiene redobrada fazem parte da realidade de quem está retomando à rotina, após cinco meses de distanciamento social. Neste período de pandemia provocada pela covid-19, são fundamentais leveza e controle emocional para lidar com a dinâmica do novo normal. A indicação é da psicóloga Maxmiria Holanda Batista, doutora em Saúde Coletiva e Professora da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Respeitar as recomendações sanitárias, praticar exercícios físicos e de relaxamento; manter contato com a natureza; descansar e dormir o suficiente; alimentar-se de forma balanceada e regular e não tentar diminuir o sofrimento com o uso de álcool ou drogas também são medidas que podem facilitar o convívio no dia a dia.

“Buscar companhia; construir uma rede de apoio para momentos em que estiver precisando de ajuda e/ou afeto; usar fontes confiáveis para obter informações, como o site da Organização Mundial da Saúde ou uma agência de saúde pública local e não hesitar em procurar ajuda, inclusive profissional, caso se sinta sobrecarregado, desesperado, estressado, ansioso, depressivo”, recomenda Maxmiria Batista.

Do ponto de vista da saúde mental, uma pandemia dessa magnitude e o aparato de cuidados de proteção implicam em uma perturbação psicossocial que pode extrapolar a capacidade de enfrentamento da população e, por isso, é esperado um aumento da incidência de transtornos psíquicos. “No entanto, é importante destacar que nem todos os problemas psicológicos e sociais apresentados neste momento podem ser qualificados como doenças. A maioria são reações normais diante de uma situação anormal, provocada pelo medo e o estresse, desenvolvidos diante da vulnerabilidade da contaminação.”, afirma Maxmiria Batista.

Na relação de dicas para manter a saúde mental no novo normal, a psicóloga acrescenta a busca por espaços coletivos de apoio mútuo, expressão, diminuição da tensão, compreensão e atenção. “Garantir esses momentos é uma forma de permitir a reelaboração de recursos psíquicos que foram mobilizados coletivamente”.

Estranhamento

Para a especialista em marketing digital Brenda Cavalcanti lidar com a nova dinâmica de convívio social tem causado estranhamento para além da obrigatoriedade de usar máscara de proteção diariamente, a qual virou acessório e o álcool em gel ganhou espaço garantido na bolsa.

“Voltei ao regime de trabalho por escala e com horário reduzido em julho. Era estranho sair e ver as ruas vazias em horário de pico, comércios fechados e todos de máscara. Isso me fazia refletir a loucura que estávamos vivendo. Era diferente chegar ao escritório e não poder ficar perto das pessoas, ter que usar álcool em tudo que recebia ou pegava”, descreve.

Vítima da covid-19, Brenda Cavalcanti sabe bem a importância do isolamento para evitar a contaminação nos demais familiares, especialmente os considerados do grupo de risco. Mas ela também lembra o quanto foi difícil lidar com a saudade, a solidão, a insegurança e o medo, vividos na quarentena.

“Foram momentos bem difíceis, principalmente para quem mora só como eu, manter a sanidade, controlar a saudade, entre outros sentimentos que ficaram mais aflorados durante esse isolamento e que ainda não podemos vivenciar plenamente, sempre com restrições, regras e medo, sim ainda medo. Tudo muito à flor da pele, além de ter sido um divisor de águas para conhecer o outro, as pessoas mostraram quem são, suas prioridades, posicionamentos, princípios, sem filtros do Instagram. Isso assustou, decepcionou, mas também inspirou, deu exemplo, moveu lutas”, desabafa.

Já a advogada Airles Malveira diz que o retorno às audiências e à vida social no novo normal está sendo mais impactada pelo uso da máscara. Apesar de necessária para proteção da saúde de todos, o acessório que ela procura até combinar com a roupa para melhorar a composição, atrapalha muito na sua rotina. Na minha profissão, o uso da máscara prejudica a compreensão da fala via telefone e o reconhecimento da face.

Outro momento no qual ela fica bastante incomodada ao utilizar a máscara é na prática de atividade física. “Mas sei da necessidade tanto do uso do acessório quanto da higienização das mãos e dos objetos com álcool em gel. Isso é automático. Mesmo assim acredito que vai dar certo. Vamos passar por tudo isso fortalecidos e com enorme aprendizado. Valorizando mais o outro e os pequenos gestos de atenção, compreensão, companheirismo e amor”, finaliza Airles Malveira.

Vivência

Cada um vivenciou a quarentena de maneira diferente. Mas baseada nos relatos da especialista em marketing digital Brenda Cavalcanti e de alguns pacientes, a psicóloga Camila Santos observa que as pessoas estão ansiosas para voltar ao normal e temerosas em se tornaram vetor para os grupos de riscos que estão em casa e isso reflete na maneira como vai atuar no trabalho ou na rua. Por isso, a especialista destaca a importância de cumprir os protocolos. “Ao chegar em casa faça a higienização, fique mais isolado ou distante do grupo de risco. Isso deixa a pessoa mais segura no sentido de ser um possível transmissor do vírus”.

Enfim, para quem já voltou a vivenciar o movimento das ruas ou ao mercado de trabalho nessa nova dinâmica, Camila Santos diz que o ideal é fazer uma atividade física relaxante e terapêutica pela manhã, a exemplo de meditação ou yoga.

Essas ações possibilitam que o profissional chegue ao ambiente de trabalho mais tranquilo. Focar na execução das atividades também reduz o nível de ansiedade. “Manter contato com as pessoas que gosta, mesmo online, faz com que o outro se sinta melhor para enfrentar os desafios propostos pelo novo normal”, aconselha Camila Santos.

Conforme a psicóloga Carla Pinheiro, o número de casos de depressão aumentou consideravelmente nesse período de pandemia. O crescimento da doença veio à tona por conta da ansiedade, sintoma bastante desenvolvido por colaboradores em home office. "A queixa se tornou frequente, as pessoas vivem momentos de incerteza e não sabem como será o amanhã. O fato é que muitos profissionais estão receosos e até resistentes para retornar suas atividades.

Manter os hábitos de segurança e proteção preconizados pelo ministério da saúde ajuda a aliviar a ansiedade, destaca Carla Pinheiro. A psicóloga também dá dicas importantes para que a população possa retornar às atividades com mais leveza mental. 

Lidar com a ansiedade
Lembre-se: sair de casa, ir ao trabalho não significa, necessariamente, que o profissional ficará doente;

Proteja a si e aos colegas de trabalho segundo as orientações dos órgãos oficiais de saúde. Mas cuidado para não superdimensionar esses cuidados e gerar mais preocupações;

Procure manter agenda positiva na rotina diária. Faça pequenas coisas que lhe dê satisfação e prazer, a exemplo de uma caminhada e escutar música que lhe traga boas lembranças;

Seja grato e aceite as emoções compreendendo que elas fazem parte deste momento. Assim, se sentirá mais fortalecido para resolver seus problemas;

Compartilhe os sentimentos com alguém de confiança. Lembre-se que todos estamos passando por esse momento. Portanto, é possível que ao “falar sobre” você possa estar também ajudando ao outro;

Alerta: Ao sentir que o medo e a ansiedade estão paralisando você, a ponto de deixar de sair, ou mesmo parar de produzir, procure orientação profissional.
Fonte: Carla Pinheiro - Psicóloga

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