Casal de palhaços de Fortaleza faz paródia sobre auxílio emergencial: "boletos que não têm fim"

Miolo Mole (Wescley) e Bitoca (Raquel) são palhaços há 12 anos e tem buscado meios para se adaptar ao trabalho na pandemia

Escrito por Redação ,
Legenda: Juntos, Raquel e Wescley trabalham como Bitoca e Miolo Mole, respectivamente, desde o início do casamento
Foto: Foto: divulgação/LeClick Fotografia

A paralisação no trabalho por conta do novo coronavírus pegou os palhaços Miole Mole e Bitoca de surpresa. Deixar as festas de lado, por conta das aglomerações, já previa um cenário de dificuldade ao casal e artista e, hoje, a principal preocupação é saber quando o auxílio emergencial, do governo federal, poderá aliviar o peso da falta de renda das apresentações em Fortaleza. Nessa espera, fizeram paródia com o assunto e repercutiram nas redes sociais.

A inspiração  veio do filme infantil Toy Story, com canção do personagem Woody. Se na versão original, a amizade entre os brinquedos é o alvo, na versão dos dois cearenses foi o problema financeiro que ganhou contornos engraçados, na medida do possível. “Auxílio estou aqui, Governo estou aqui. Essa fase tá ruim e são tantos boletos que não tem fim”, cantaram os dois em live no Youtube no último sábado (5), com mais de 1.800 visualizações simultâneas no Youtube.

"O tempo vai passar, as contas não vão parar. Eu Já baixei até o caixa tem, mas sempre que eu olho, ela diz: não tem!", cantam no trecho seguinte da música. É dessa maneira, fora da alegria que transmitem no ofício, que Wescley Rodrigues e Raquel Alves têm lidado com as incertezas do amanhã vindas junto da pandemia. “Nosso ramo foi um dos primeiros a pararem por causa da aglomeração. Como não temos um salário fixo, nossa renda é muito rotativa, trabalhamos hoje para comer amanhã,  ou seja, estamos sem festas, sem contratos, sem contratos, sem dinheiro”, revela Raquel.

Há 12 anos no ramo da palhaçaria, os dois, que são casados há 13 e têm dois filhos juntos, já haviam vivenciado por situação difícil entre eventos na Capital. Ano passado, com “uma das maiores crises no setor de festas”, conta Raquel, o marido teve que começar a trabalhar como motorista de aplicativo. Mesmo assim, após essa fase, conseguiram consolidar agenda de 15 a 20 apresentações por mês, fizeram vídeos humorísticos para as redes sociais e chegaram à marca de um milhão de visualizações.

“E aí veio o tal do Corona!”, lamenta Raquel. Segundo ela, que interpreta Bitoca, o auxílio apareceu como uma luz no fim do túnel diante da dificuldade.

“A primeira parcela conseguimos receber sem nenhum problema,  mas na segunda, eu tive que ir à agência e, mesmo assim, não consegui resolver. O dinheiro entrou com mais de um mês de atraso da data prevista, e sobre a terceira, que já era pra ter entrado, não existe nenhuma previsão”, comenta.

Adaptações

Mas não só a paródia para brincar com o problema virou uma estratégia dos dois palhaços. Raquel explica que uma das soluções a curto prazo foi “criar promoção para quem fechar contrato e enviar proposta de lives animadas para escolas”. Assim, quem compra os serviços de Miole Mole e Bitoca ainda tem a opção de marcar festa até dezembro de 2021.

“Muitos clientes depositaram o restante do pagamento das suas festas com a intenção de nos ajudar. Então começaram a aparecer as famosas lives”, diz ao relatar que, no início, tudo foi muito simples, na sala de casa, mas logo se tornou uma produção maior com a ajuda de colegas de profissão.

“Procuramos alguns profissionais do ramo de festa, como cerimonialista, filmagem, foto, buffet, que já nos conhecem e fizemos a proposta. Eles toparam na hora, e  entraram no projeto de cabeça. Foi surreal, muito além do que a gente esperava e então meu marido começou  a preparar as paródias” conta com felicidade. Segundo ela, “tudo é baseado na realidade atual e nos testemunhos vistos por aí”.

Ao longo da apresentação no último sábado, Raquel diz que doações para o trabalho do casal foram feitas, mas o montante ainda não foi contabilizado. Ainda assim, ela pontua, trabalhar com o ramo no qual se estabilizaram ainda recém-casados e amam até hoje continua sendo algo gratificante.

“Os depoimentos de como tem sido divertido nos acompanhar nessa quarentena, que temos tornado esses dias mais leves, que nosso trabalho tem ajudado muita gente é maior e melhor que qualquer dinheiro”, finaliza. Agora, segundo ela conta como Bitoca, a intenção é continuar com as paródias e insistir na felicidade inclusive em momentos tão difíceis como o atual.

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