Menino negro de 7 anos é acusado injustamente de roubo em loja de SP: 'Não roubei nada'
O garoto estava acompanhado dos pais na ocasião, quando foi abordado pelo gerente do comércio
Uma criança negra de 7 anos foi acusada injustamente de comer um pacote de bolachas sem pagar em uma loja de doces na Zona Leste de São Paulo. O caso ocorreu na última quinta-feira (22) e repercutiu nas redes sociais nesta semana. "Não roubei nada", defendeu-se o menino durante a acusação, feita pelo gerente do estabelecimento. As informações são do portal g1.
O garoto estava acompanhado dos pais na ocasião. Segundo a mãe da vítima, o funcionário, descrito como um homem branco, abordou a família na fila do caixa, apontando o menino como suspeito de roubo na frente de outros clientes e funcionários.
A mãe da criança, a comerciante Giovanna Santos de Oliveira Brasil, de 25 anos, gravou parte do diálogo com o gerente e chegou a chorar durante a discussão. Ela fez uma denúncia contra o homem por racismo.
Imagens de câmeras de segurança registraram a forma de abordagem do funcionário com a família na fila do caixa da Magic Doces, em Cidade Tiradentes.
Entenda o caso
Ao abordar a família, o gerente argumentou que o suposto roubo do garoto foi registrado por câmeras de segurança da loja. As imagens, no entanto, não mostram o que foi relatado pelo funcionário, e a própria loja admitiu o fato por meio de nota.
Na ocasião, a mãe disse, emocionada, que acreditava na inocência do filho. "Eu sei que você não roubou, meu amor. Eu sei... mamãe sabe que você não roubou. A mamãe sabe o filho que ela educa, viu?! [...] Não precisa ficar assustado, não, tá bom? A mamãe tá aqui, tá?", afirmou a comerciante.
"O gerente disse: 'A gente viu pelas câmeras seu filho pegando as bolachas, comendo e escondendo o pacote vazio atrás das prateleiras'", disse a mãe sobre a abordagem do funcionário da Magic Doces.
Veja também
Giovanna destacou ainda que ela, o filho e o marido eram as únicas pessoas negras na fila e que sofreram racismo e constrangimento. Segundo veiculado pelo g1, a família havia comprado mais de R$ 500 em doces para a festa de aniversário do menino.
"Pedimos as imagens. Ele subiu para olhar as imagens e, quando voltou e perguntei sobre as imagens, ele disse que, infelizmente, não tinha imagens, houve engano e pedia desculpas. Somos os únicos negros aqui na fila e vocês chegaram só na gente", lembrou.
"Sofremos constrangimento e racismo. Nós nunca passamos por isso na vida. Olhar racista a gente sofre, mas de chegar nesse ponto de ser abordado na frente de todo mundo jamais tinha ocorrido. Se ele tivesse tido bom senso de chegar na gente de cantinho... mas ele já chegou acusando."
O advogado da família, José Luiz de Oliveira Júnior, afirmou que o objetivo da mãe ao registrar o ocorrido foi denunciar a "desconfiança embasada exclusivamente na questão racial". Ele disse ainda que pretende procurar a Delegacia de Crimes de Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) para investigar o caso mais profundamente.
A Polícia Civil registrou a ocorrência somente como "calúnia" no 44º Distrito Policial (DP), em Guaianazes. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que a polícia vai analisar os vídeos e que essas apurações podem mudar o rumo das investigações.
Empresa se pronuncia
A Magic Doces divulgou uma nota de esclarecimento sobre o caso por meio das redes sociais. No comunicado, a empresa reconheceu que o funcionário errou ao acusar o garoto sem provas e disse que apura a denúncia. A empresa ainda declarou que "não compactua, sob nenhuma circunstância, com atitudes discriminatórias ou preconceituosas".
"Ocorreu um incidente em nossa loja envolvendo uma criança que foi abordada por um funcionário, suspeitando do consumo de um produto sem pagamento. Diante disso, revisamos as imagens de segurança e, após análise detalhada, o fato não foi constatado", informou a Magic Doces.
O que diz a defesa
A defesa da Magic Doces afirmou que "é um absurdo acusar o gerente de racista" e que a loja "tem funcionário da pele preta e a grande maioria dos seus clientes são negros".
"Em nenhum momento o gerente acusou de roubo", afirmou o advogado Alexandre Aivazoglou.
Sobre a nota de esclarecimento divulgada pela empresa, que diverge da versão argumentada pela defesa, Alexandre diz que "quando isso estourou nas redes sociais, a empresa quis prestar esclarecimentos e não fez o uso correto das palavras", finalizou.