Morre Kshamenk, a última orca em cativeiro da América do Sul
Animal viveu 30 anos em tanque e reacendeu debate sobre cativeiro.
Kshamenk, a última orca mantida em cativeiro na Argentina e em toda a América do Sul, morreu no último domingo (14).
O animal vivia há cerca de três décadas em um tanque de concreto no parque Mundo Marino, onde passava os dias nadando repetidamente em círculos. A rotina se resumia a cerca de 500 voltas diárias no espaço reduzido, conforme informações do jornal O Globo.
Na natureza, uma orca pode percorrer até 200 quilômetros por dia. Kshamenk, porém, foi retirado do mar ainda jovem, aos cinco anos, na Baía de Samborombón, e nunca mais voltou ao oceano.
Desde então, o animal foi treinado para apresentações ao público, obedecendo comandos, saltando, espirrando água e se movendo ao som de música, sempre recompensado com peixes.
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A barbatana dorsal caída, característica comum em orcas mantidas em cativeiro, era um dos sinais mais visíveis das consequências do confinamento. Dono de alta inteligência, o mamífero marinho aprendia com facilidade as ordens dos treinadores, a mesma capacidade cognitiva que, por anos, sustentou sua permanência em um ambiente artificial voltado ao entretenimento dos seres humanos.
Na natureza, orcas vivem em grupos com estruturas sociais complexas e até idiomas próprios. Populações diferentes, como as do norte e do sul, não se compreendem entre si. Em aquários, essa incompatibilidade, somada ao estresse do confinamento, frequentemente leva a conflitos entre indivíduos que não pertencem ao mesmo grupo.
A morte de Kshamenk reacendeu reflexões sobre o direito humano de submeter animais sencientes ao cativeiro.
Documentário
Lançado em 2013, o documentário “Blackfish” ("Orca – Fúria Animal", em português) tornou-se uma das produções mais emblemáticas sobre o cativeiro de orcas ao expor os bastidores do parque SeaWorld e as consequências do confinamento desses animais altamente inteligentes.
A obra se concentra na história de Tilikum, orca envolvida em ataques fatais, e relaciona os episódios ao estresse, à privação social e às condições artificiais impostas aos animais, provocando forte comoção pública e uma onda global de críticas à indústria de parques aquáticos.
O impacto do filme influenciou mudanças na imagem e nas práticas do SeaWorld.