Briga familiar afeta guarda de crianças desaparecidas na Amazônia colombiana; entenda caso
Parentes maternos acusam pai biológico de maus-tratos e brigam pela guarda das quatro crianças
Enquanto as crianças resgatadas na Amazônia colombiana se recuperam em hospital, o pai biológico e os parentes maternos brigam pela guarda deles. Conforme a Folha de S.Paulo, os familiares dos irmãos indígenas acusam o pai Manuel Miller Ranoque de maus-tratos e suposta tentativa de abuso sexual.
Os quatro irmãos — Lesly Jacobombaire Mucutuy, 13 anos, e os irmãos Tien Noriel, 9, Soleiny, 5, e Cristin, 1 — ficaram quase 40 dias perdidos na floresta amazônica. Eles foram encontrados na última sexta-feira (9), e agora se recuperam em um hospital militar de Bogotá.
A mãe deles morreu no acidente, e eles estão sob a guarda do governo de Gustavo Petro, atual presidente da Colômbia.
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Acusações na imprensa
O caso repercutiu depois do pai biológico dos dois irmãos menores - ele é padrasto dos maiores - trocar acusações na imprensa com a família da mãe, Magdalena Mucutuy.
Eles afirmam que Ranoque praticava maus-tratos com os filhos e com Magdalena. Ele negou as acusações. Segundo o jornal El Tiempo, o avô materno Narciso Mucutuy afirmou que o sogro teria batido no pescoço da filha dele com um facão.
Por conta do comportamento agressivo de Ranoque, Narciso pediu a guarda das crianças ao Instituto Colombiano de Bem-Estar Familiar. Ele deseja que os netos sejam criados por ele e Fátima, sua esposa e avó dos indígenas.
O Instituto Colombiano de Bem-Estar Familiar afirmou que está apurando as denúncias, mas que não vai emitir nota sobre o assunto no momento. A decisão está sendo feita de modo confidencial e irá considerar vários fatores.
Ranoque rebate acusações
O pai negou as acusações, alegando que críticas dos familiares buscavam obter benefícios econômicos. Conforme ele, a família Mucutuy deseja levar as crianças para que possam "pedir recursos, fazer confusão. Porque é a única coisa que eles sabem fazer".
"Posso garantir que não tenho nada a ver com nenhum abuso familiar. São tentativas desesperadas porque querem tirar meus filhos de mim e levá-los. As pessoas que estão falando assim nem estavam comigo procurando as crianças enquanto eu estava mal", acrescentou ao El Tiempo.
Além disso, ainda criticou a visita do presidente Petro no último sábado (10), que teria ocorrido sem a permissão dele.
"Como eles expõem meus filhos como objeto de chacota? Se eu, que sou o pai, não estou fazendo isso, por que as pessoas que estão dormindo e comendo bem vão lá, os deixam entrar, tiram fotos dos meus filhos, os colocam nas redes sociais. Isso é injusto", finalizou.
Entenda o caso
Os irmãos estavam desaparecidos na Amazônia colombiana desde maio deste ano, quando um avião do modelo Cessna 206, com sete pessoas a bordo, que ia do aeroporto de Araracuara, em Caquetá, a San José del Guaviare, sofreu uma possível falha mecânica e caiu.
No acidente, três adultos, incluindo o piloto e a mãe das crianças, morreram. Os corpos foram encontrados dentro da aeronave. Os irmãos, no entanto, resistiram ao impacto, e passaram a sobreviver na selva.
Indígenas, mais de 100 soldados e cães farejadores seguiram os rastros deixados pelas crianças na floresta, que circularam pelo lugar em busca da sobrevivência.
A imprensa colombiana divulgou que as crianças foram encontradas desidratadas, com picadas de insetos e levemente feridas, especialmente nos pés, porque percorreram longas distâncias descalças. Agora, estão em recuperação.