A revelação de que o apresentador Celso Portiolli foi diagnosticado com câncer de bexiga chamou a atenção das pessoas para a doença.
Portiolli garantiu estar "tudo bem", pois descobriu a enfermidade "na fase mais precoce possível". Mas, afinal, quais as causas, sintomas e tratamentos do câncer de bexiga?
Para entender, é preciso saber primeiro onde a doença surge. A parede da bexiga possui diversas camadas, constituídas por diferentes tipos de células. E o câncer de bexiga atinge justamente essas células que recobrem o órgão.
Conforme o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer é superficial quando se limita ao tecido de revestimento da bexiga.
Já se a doença tem início nas células de transição, pode se disseminar através do revestimento da bexiga, invadir a parede muscular e passar para órgãos próximos ou gânglios linfáticos, transformando-se, portanto, num câncer invasivo. Este, consequentemente, é mais difícil de ser tratado.
Tipos
O câncer de bexiga é classificado de acordo com a célula que sofreu alteração. E há três tipos listados pelo Inca. São estes:
Carcinoma de células de transição
Com início nas células que normalmente compõem o revestimento interno da bexiga, este tipo de câncer de bexiga é o mais diagnosticado.
Também chamado de carcinoma urotelial, esse câncer se origina nas células uroteliais que limitam o interior da bexiga, bem como outras partes do trato urinário, como parte do rim e uretra.
Carcinoma de células escamosas
O carcinoma espinocelular, como também é chamado, afeta as células delgadas e planas que podem surgir na bexiga após infecção ou irritação prolongadas. De diagnóstico mais raro, quase todos os carcinomas espinocelulares da bexiga são invasivos.
Adenocarcinoma
Tem início nas células glandulares (de secreção) que podem se formar na bexiga após irritação ou inflamação prolongadas. De acordo com o Instituto Oncoguia, somente 1% dos cânceres de bexiga são adenocarcinomas e praticamente todos são invasivos.
Causas do câncer de bexiga
Embora não haja causas específicas para justificar todos os diagnósticos, há fatores que aumentam o risco do câncer de bexiga.
O médico urologista Marcos Flávio Rocha* frisa que o câncer de bexiga, assim como o de pulmão, está relacionado, sobretudo, ao tabagismo.
"Esse é um câncer que acomete principalmente pessoas que são expostas ao fumo, que têm o hábito do tabagismo, são fumantes ativos ou passivos. Mais da metade das pessoas que têm câncer de bexiga são tabagistas. E é um hábito que pode ser mudado".
Além do tabagismo, aponta o Inca, homens brancos e de idade avançada também têm maior probabilidade de desenvolver esse tipo de câncer.
Um terceiro fator é a exposição a compostos químicos diversos, como agrotóxicos, aminas aromáticas, benzeno, benzidina, cromo/cromatos, fumo e poeira de metais, óleos, petróleo, droga antineoplásica e tintas.
Portanto, alguns trabalhadores podem apresentar risco aumentado de desenvolvimento da doença, sobretudo aqueles que lidam em segmentos como agricultura, construção, fundição, extração de óleos e gorduras animais e vegetais, sapatos, manufatura de eletroeletrônicos, mineração, siderurgia e indústria têxtil.
"Nessas situações, os trabalhadores usando proteção podem não se contaminar", soma o urologista.
Sintomas
- Necessidade frequente de urinar
- Sensação de dor ou queimação ao urinar
- Urgência em urinar, mesmo quando a bexiga não esteja cheia
- Problemas para urinar ou fluxo de urina fraco
- Sangue na urina
Na maioria dos casos de câncer de bexiga, o sangue na urina (hematúria) surge como primeiro sinal de alerta. Segundo o Oncoguia, nem sempre existe uma quantidade de sangue suficiente para alterar a cor da urina, que pode ter apenas uma cor alaranjada ou apresentar pequenas quantidades de sangue em exame.
Da mesma forma que surge, o sangue pode desaparecer no dia seguinte, mantendo a urina clara durante semanas ou meses. Normalmente, os estágios iniciais de câncer de bexiga provocam pouco sangramento, e pouca ou nenhuma dor.
Contudo, nem sempre a presença de sangue na urina está relacionada ao câncer de bexiga e pode ter como causa uma doença benigna. Para tirar a dúvida, é indispensável procurar orientação médica.
Quando o câncer de bexiga já está em estágio avançado, porém, podem surgir outros sintomas, como:
- Impossibilidade de urinar
- Dor lombar
- Perda de apetite e perda de peso
- Fraqueza
- Inchaço nos pés
- Dor óssea
Tratamento para câncer de bexiga
As opções de tratamento, informa o Inca, vão depender do grau de evolução da doença. O paciente pode ser submetido a três tipos de cirurgia. São estas:
Ressecção transuretral
Neste procedimento, o médico remove o tumor por via uretral
Cistectomia parcial
Neste, há retirada de uma parte da bexiga
Cistectomia radical
Remoção completa da bexiga, com a posterior construção de um novo órgão para armazenar a urina.
Após a remoção total do tumor, o médico pode administrar a vacina BCG dentro da bexiga. O objetivo é evitar a recorrência da doença.
Nos casos de tumores mais agressivos, uma das alternativas é a radioterapia. A técnica é adotada para tentar preservar a bexiga.
Outra possibilidade é a quimioterapia, que pode ser ingerida na forma de medicamentos ou injetada na veia (sistêmica) ou aplicada diretamente na bexiga através de um tubo introduzido pela uretra (intravesical).
O câncer de bexiga tem cura?
Conforme Marcos Flávio Rocha, há cura, sim, para o câncer de bexiga, a depender do momento em que a doença é diagnosticada e do tipo de tumor.
Os tumores "mais agressivos, mais profundos" são mais raros, mas se disseminam mais rápido e são mais difíceis de tratar. Contudo, garante o especialista, a maioria dos tumores de bexiga se mantêm na parte mais superficial do órgão.
"Os tumores que acometem a parte mais superficial da bexiga são curáveis na maioria das vezes, sem precisar tirar o órgão. Faz a cirurgia por endoscopia urinária, retira esse tumor e, às vezes, se faz o uso de medicações dentro da bexiga. A mais efetiva é o BCG, na forma líquida, porque promove uma resposta imunológica".
Os tumores na bexiga mais agressivos também são curáveis, segundo o médico, mas a taxa de cura é bem menor. "Muitas vezes, a gente precisa tirar a bexiga por total para poder curar, além de utilizar quimioterapia para esses pacientes".
*Marcos Flávio Rocha é graduado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e mestre em Cirurgia pela mesma instituição. Hoje, atua como chefe do Serviço de Urologia do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), coordenador médico do núcleo de cirurgia robótica do Hospital Monte Klinikum e integrante do Coletivo Rebento. É ainda o pioneiro no Ceará em cirurgia laporoscópica e robótica.