TI, contadora e cobradora: entenda como funcionava facção que monopolizou jogo do bicho em Itapipoca
Quadrilha levava vida de luxo, com viagens para o exterior, e é suspeita de um homicídio de um vigilante
Uma organização criminosa no pleno sentido da expressão: a facção que monopolizou o jogo do bicho e as apostas esportivas em Itapipoca, na Região Norte do Ceará, tinha membros que atuavam como um profissional de Tecnologia da Informação (TI), uma contadora e uma cobradora.
A quadrilha foi desarticulada na Operação Quebrando a Banca, deflagrada pela Delegacia Regional de Itapipoca, da Polícia Civil do Ceará (PC-CE), na última terça-feira (28). Dez pessoas foram presas e R$ 1 milhão em bens, apreendidos. Mais 11 mandados de prisão restam ser cumpridos, e os suspeitos são procurados. A identificação dos criminosos não foi divulgada.
A Operação foi o tema do 19º episódio do Podcast Pauta Segura, publicado pelo Diário do Nordeste nesta segunda-feira (6). Saiba mais sobre os bastidores da apuração desta reportagem clicando aqui.
A organização criminosa é liderada por um filho de um homem que, no passado, detinha o comando da maioria das bancas de jogo do bicho de Itapipoca. O jovem entrou para uma facção criminosa carioca e depois "rasgou a camisa", para aderir a uma facção cearense. Ele se dedicou a tomar o controle do maior número possível de bancas, em Itapipoca e nos municípios próximos de Acaraú e Pentecoste, de uma forma diferente do seu pai: a partir de extorsões.
"Essa organização criminosa passou a ameaçar os integrantes dessas bancas de jogo do bicho, impondo aos mesmos participação numa associação. Essa participação seria, nada mais nada menos do que 75% do arrecadado passaria a ser de posse dessa organização criminosa, enquanto 25% ficaria a cargo dos contraventores, que há um tempo já trabalhavam nessa atividade", explicou o diretor de Polícia Judiciária do Interior Norte, delegado Marcos Aurélio Elias de França.
Reportagem publicada pelo Diário do Nordeste em outubro do ano passado revelou o envolvimento de facções criminosas com jogos de azar no Ceará, com a prática de extorsões. Os bastidores da série de matérias foram contados no podcast Pauta Segura.
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O quebra-cabeça da organização criminosa
A Polícia Civil detalhou que cinco presos, que integravam um núcleo de comando na quadrilha e da prática de extorsões, tiveram as prisões mantidas pela Justiça Estadual. Enquanto os outros cinco suspeitos detidos na Operação, que eram contraventores donos das bancas de jogo do bicho (que sofriam as extorsões) tiveram a prisão relaxada, em audiência de custódia, com aplicação de medidas cautelares.
No núcleo de comando da facção, abaixo dos dois principais líderes, um homem "tinha uma função técnica. Ele fazia a manutenção das máquinas, do site de apostas, era o 'TI'. Era o responsável por atualizar as apostas no site. Tinha em sua residência bombinas das máquinas", descreveu o delegado Marcos Aurélio.
A companheira do "profissional de Tecnologia da Informação" era encarregada de realizar a contabilidade da quadrilha e de ligar para as bancas de jogo do bicho, para cobrar pagamentos.
Já o recolhimento do dinheiro era feito por outra mulher, que foi presa em flagrante quando chegou a um estabelecimento para cumprir a sua função de cobradora.
Vida de luxo e suspeita de homicídio
Segundo as investigações policiais, o grupo criminoso utilizava o dinheiro obtido com o jogo do bicho e com as apostas esportivas para praticar outros crimes, como o tráfico de drogas, a compra de armas e até homicídios. A quadrilha teria movimentado R$ 5 milhões, em apenas um ano.
Os suspeitos "lavavam" o dinheiro das práticas ilícitas com a compra de veículos de luxo e com viagens para o exterior. Entre os 8 automóveis apreendidos na Operação Quebrando a Banca, estavam um conversível BMW, uma Toyota Hilux, um Toyota Corolla e uma Troller T4.
A Polícia Civil irá aprofundar as investigações, a partir do material apreendido na Operação, e seguir em busca dos 11 foragidos. Outro crime investigado pelas autoridades é a autoria de um homicídio, que teve como vítima um vigilante de um ponto de jogo do bicho, dominado pela organização criminosa.