Técnica de enfermagem é suspeita de atender integrantes da facção Comando Vermelho feridos em confrontos no Ceará

A mulher e um guarda municipal de Fortaleza, suspeitos de integrar a facção, foram soltos pela Justiça Estadual, em audiência de custódia, no dia seguinte à prisão em flagrante

Escrito por
Messias Borges messias.borges@svm.com.br
Polícia Militar prendeu três suspeitos em abordagem a veículo, em Caridade. Uma arma de fogo foi apreendida
Legenda: Polícia Militar prendeu três suspeitos em abordagem a veículo, em Caridade. Uma arma de fogo foi apreendida
Foto: Divulgação/ PMCE

Uma técnica de enfermagem, presa com o companheiro e um guarda municipal de Fortaleza, em uma abordagem policial em Caridade, no Interior do Ceará, na última segunda-feira (24), é suspeita de utilizar o seu conhecimento técnico para atender integrantes da facção carioca Comando Vermelho (CV) feridos em confrontos criminosos. A mulher e o guarda foram soltos pela Justiça Estadual, em audiência de custódia.

Conforme documentos obtidos pelo Diário do Nordeste, o alvo da ação da Polícia Militar do Ceará (PMCE) era o companheiro de Maria Izadora Alexandre Cavalcante, Ythalo Barbosa de Oliveira Irineu, que tinha dois mandados de prisão em aberto por roubos.

Entretanto, ao abordarem um veículo Chevrolet Cruze na BR-020, os policiais militares encontraram o casal e o guarda municipal de Fortaleza Francisco Joanes Silva Costa - que estava armado com uma pistola calibre 380, sem o porte de arma de fogo.

Os três suspeitos foram presos em flagrante e levados para a delegacia da Polícia Civil do Ceará (PCCE), onde foram autuados por integrar organização criminosa. A defesa dos suspeitos não foi localizada para comentar o caso, mas o espaço segue aberto para futuras manifestações.

As primeiras investigações policiais apontam que Ythalo Barbosa é integrante do Comando Vermelho e teria participado de ataques a provedores de internet em Caridade, que deixaram parte da população sem o serviço durante alguns dias. 

Já a companheira de Ythalo, a técnica de enfermagem Maria Izadora, é suspeita de ter saído "de Fortaleza para cuidar de membros do Comando Vermelho em Caridade, cuja finalidade era não procurar hospitais da região, caso fossem lesionados em confronto", afirmaram os PMs que atenderam a ocorrência, no inquérito policial.

Francisco Joanes, que está em estágio probatório na Guarda Municipal de Fortaleza (GMF), é suspeito de ajudar integrantes do Comando Vermelho. "Segundo informações, não é a primeira vez que ele faz esses 'corres' para membros do CV, utilizando de seu posto de guarda municipal para fazer esses 'corres'", informaram os policiais militares.

A Secretaria Municipal da Segurança Cidadã de Fortaleza (Sesec), responsável pela Guarda Municipal de Fortaleza, ressaltou, em nota, que "não compactua com desvios de conduta dos seus servidores e informa que o guarda municipal Francisco Joanes Silva Costa será submetido a um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) instaurado pela Corregedoria da instituição com objetivo de apurar a conduta do agente, colaborar com as investigações e aplicar as punições necessárias".

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O que disseram os suspeitos

Ao serem interrogados pela Polícia Civil, os suspeitos negaram as informações que integram uma facção criminosa e que participaram dos ataques a provedores de internet em Caridade. Três dias depois, uma operação da PCCE e do Ministério Público prendeu oito suspeitos de cometerem essas ações criminosas.

Ythalo Barbosa afirmou ainda que não conhecia o guarda municipal Francisco Joanes e que ele e a companheira pagaram R$ 50, cada, ao servidor público, para "pegarem uma carona" para Fortaleza. A versão foi endossada por Maria Izadora Cavalcante e por Francisco Joanes Costa.

A técnica de enfermagem confessou que já atendeu pessoas baleadas na cidade de Caridade. "Que não tem porque mentir se tem foto e tudo; que atendeu um indivíduo baleado; que retirou o projétil e deu o ponto; que depois disso não teve mais contato e nem procurou saber de mais nada; que não sabe dizer se ele é CV; que só as pessoas que levaram ele até a interrogada podem responder", descreve o Termo de Interrogatório de Izadora que a reportagem teve acesso.

O guarda municipal - que devia estar de serviço no dia em que foi preso, mas informou que apresentaria atestado médico - reforçou que não conhecia Ythalo, que Izadora era cliente da ótica de sua propriedade, em Caridade, e que receberia R$ 100 pela "carona" dada ao casal. O servidor público alegou que não sabia do suposto envolvimento dos outros presos com facção e que parou o carro assim que viu a Polícia se aproximar.

Soltos em audiência de custódia

O Plantão do 4º Núcleo Regional, da Justiça Estadual, decidiu relaxar a prisão em flagrante de Francisco Joanes Silva Costa, Maria Izadora Alexandre Cavalcante e Ythalo Barbosa de Oliveira Irineu, em audiência de custódia realizada na última terça-feira (25).

O juiz plantonista entendeu que a prisão em flagrante do trio estava "maculada por vícios (sem comprovação de materialidade e autoria)" e acatou os pedidos da defesa dos presos e do Ministério Público do Ceará (MPCE) para soltar os suspeitos. Porém, Ythalo Barbosa seguiu preso, em razão dos dois mandados de prisão preventiva por roubos.

A reportagem apurou que a Justiça também enviou ofício à Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário do Ceará (CGD) para apurar supostas agressões policiais, no momento da abordagem, contra Maria Izadora e Francisco Joanes.

O exame de Lesão Corporal em Situação de Flagrante, elaborado pela Perícia Forense do Ceará (Pefoce), constatou que Izadora estava com "dois hematomas subgaleais de três centímetros em região cefálica - couro cabeludo, perceptível à palpação". Já o exame realizado em Joanes não identificou lesões.