Acusados de planejar ataques no Pirambu após morte de traficante no RJ são condenados a 51 anos
A Polícia identificou um grupo de Whatsapp chamado 'Pirambu Vermelhão', no qual os denunciados participavam

Um grupo acusado de planejar ataques na região do Grande Pirambu foi condenado a 51 anos de prisão por integrar a facção criminosa carioca Comando Vermelho (CV). De acordo com documentos que a reportagem teve acesso, os réus coagiram comerciantes no bairro e planejaram ataques a órgãos públicos em represália à morte de Fábio de Almeida Maia, o 'Biú', morto em confronto com o Bope no Rio de Janeiro.
Os juízes da Vara de Delitos de Organizações Criminosas julgaram procedente a denúncia e condenaram Anderson de Souza Lima, Carlos Diogo dos Santos, Jardel Almeida de Mesquita, Josemberg Lopes da Silva e Rhandryson Oliveira Tavares. Somadas, as penas somadas chegam a 51 anos de prisão.
Segundo a denúncia do Ministério Público do Ceará (MPCE), os réus eram membros ativos do CV, com atuações diferentes dentro do grupo. A Polícia identificou os nomes deles a partir da prisão em flagrante de Paulo Anderson Vieira da Silva, que após ser detido teve celular apreendido e submetido a uma perícia, "revelando elementos probatórios determinantes para o deslinde da presente ação penal".
A defesa de Jardel e Carlos Diogo optou por não se pronunciar sobre a condenação. As demais defesas não foram localizadas.
'PIRAMBU VERMELHÃO'
A extração de dados do dispositivo apreendido indicou a existência de um grupo de WhatsApp denominado 'Pirambu Vermelhão', no qual participavam 41 pessoas. No grupo, criminosos organizavam atividades ilícitas, segundo o MPCE.
Veja também
"Dos 41 participantes, apenas seis foram identificados, levando à decretação de prisão preventiva e busca e apreensão contra eles. A operação, realizada em 23 de maio de 2024, resultou no cumprimento de todos os mandados, comprovando a atuação dos investigados na facção, estruturada para extorsões, tráfico de drogas e armas, homicídios e outros crimes", disse a acusação.
Os denunciados coagiam vítimas, seja por meio das redes sociais ou presencialmente, com uso de armas de fogo, determinando fechamento de lojas.
"Além disso, a facção organizava atentados contra órgãos públicos e particulares, incluindo um ataque à Delegacia do 7º Distrito Policial, em represália à morte de Fábio de Almeida Maia, vulgo "Biu" ou "Paizão", morto em confronto com o BOPE da PMERJ em 31 de janeiro de 2024, no Rio de Janeiro, onde se encontrava foragido da Justiça. Paralelamente a esses eventos, um intenso conflito armado se desenrolava na região entre as facções Comando Vermelho e Massa Carcerária/TDN, agravado pela deserção de dois líderes do CV, Josué Ferreira Batista Filho, vulgo "Bê/B", e Lucas Araújo dos Santos, vulgo "Coruja", que migraram para a facção rival"
No início de 2024, o fechamento do comércio com ameaças no Pirambu foi confirmado à reportagem por uma fonte da Inteligência da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) e por um policial que trabalha na região.
VEJA AS PENAS INDIVIDUALIZADAS
Anderson foi apontado como membro ativo do CV, sendo responsável por determinar ataques incendiários nas Avenidas Leste-Oeste e Dr. Theberge. A pena dele é de nove anos, sete meses e 15 anos de reclusão, em regime fechado e concedido o direito a recorrer em liberdade.
De acordo com o MP, Carlos Diogo fazia parte do 'Pirambu Vermelhão' e se comunicava para alertar sobre movimentações policiais, incluindo a localização de viaturas da Polícia Militar.
"Seu histórico criminal inclui roubos qualificados, associação criminosa, corrupção de menores e posse de drogas. Mesmo em liberdade provisória na época dos ataques no bairro Pirambu, ele teria participado das ações criminosas. Exercia a função de olheiro dentro da facção, colaborando com sua logística e segurança", disse o MP. A pena de Anderson ficou em 11 anos, dois meses e 20 dias de prisão, sendo negado direito de recorrer em liberdade.
Quem também recebeu pena de 11 anos foi Josemberg Lopes da Silva, que já estava recolhido no sistema prisional na época dos fatos. "Sua função dentro da facção era a de sentinela, monitorando a região e prevenindo ataques de facções rivais para garantir o domínio territorial do tráfico de drogas no Pirambu. Além disso, Josemberg demonstrava alta radicalização contra ex-integrantes que migraram para facções rivais, buscando armamento para neutralizar inimigos do grupo".
Jardel e Rhandryson receberam, cada um, pena de nove anos e sete meses de reclusão.
Jardel, segundo a acusação, tinha participação que "envolvia reforço da estrutura criminosa, evidenciando lealdade e vínculo ao Comando Vermelho", enquanto Rhandryson era "olheiro da facção, auxiliando no monitoramento da área e na organização da estrutura criminosa".
QUEM ERA ‘BIÚ’
Fábio de Almeida Maia, o 'Biu', foi morto em uma operação policial no Complexo da Penha, no Rio de Janeiro. Ele era procurado pela Polícia cearense por ordenar homicídios no Pirambu - como um ataque criminoso que terminou na morte de uma criança de 5 anos e o assassinato de um blogueiro - e por comandar o tráfico de drogas na região.
A Secretaria de Estado de Polícia Militar do Rio de Janeiro enviou nota sobre a operação, sem confirmar a identificação do cearense morto. Mas a informação que 'Biu' foi baleado pela Polícia e não resistiu aos ferimentos, em terras cariocas, já chegou às autoridades cearenses, o que foi confirmado pelas fontes ouvidas pela reportagem.
“A operação da Secretaria de Estado de Polícia Militar realizada na manhã desta quarta-feira (31/01), causou um prejuízo de mais de um milhão de reais à principal facção criminosa do Estado do Rio de Janeiro. Ao todo, os agentes apreenderam oito fuzis, 576 kg de maconha e cinco criminosos foram presos pelos policiais. A ação contou com a participação de militares do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), Batalhão de Ações com Cães (BAC), 18° BPM (Jacarepaguá) e da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP)”, disse a Secretaria de Estado de Polícia Militar do Rio de Janeiro.
Uma fonte da Inteligência da SSPDS afirmou que parte do material apreendido seria enviado para o Ceará, por ordem de 'Biu'.
Ainda segundo a Secretaria de Estado de Polícia, "a ação foi desencadeada por determinação do Comando da Corporação após o levantamento de informações colhidas pelos setores de inteligência das polícias Civil e Militar. As forças de segurança do Estado conseguiram ter acesso aos planos da quadrilha que ocupa os pontos de vendas drogas da região do Complexo da Penha e que desejava expandir a sua área de atuação até as localidades da Zona Oeste da Capital, como as comunidades da Cidade de Deus, do Gardênia Azul, Muzema, Rio das Pedras e Morro do Banco".
>> Acesse nosso canal no Whatsapp e fique por dentro das principais notícias