Roupas em matagal, tatuagem e DNA: o que se sabe sobre ação de PMs em morte de empresário em Fortaleza

Policiais presos pela morte de empresário em Fortaleza se negaram a fornecer amostras de DNA para os investigadores

Escrito por
Emanoela Campelo de Melo e Emerson Rodrigues producaodiario@svm.com.br
(Atualizado às 13:42)
empresário morto em fortaleza vinicius dono de radio
Legenda: Vinícius estava sozinho quando foi abordado pelos criminosos, saindo de uma reunião na padaria.
Foto: Reprodução/Redes Sociais

Os autores da morte do empresário dono de rádio Vinícius Cunha Batista deixaram 'rastros' por onde passaram. A reportagem do Diário do Nordeste apurou 'particularidades' observadas pelos investigadores que ajudaram as autoridades a chegar aos três policiais militares suspeitos pelo assassinato.

As roupas dos executores encontradas em um matagal na Cidade dos Funcionários, próximo ao local do crime; uma tatuagem no braço de um dos PMs; e imagens obtidas de câmeras nos locais por onde os suspeitos passaram no dia do homicídio e em dias anteriores a execução foram importantes para apontar a participação dos PMs. Esses e outros detalhes, somados, permitiram que os investigadores identificassem os três primeiros suspeitos.

Os agentes detidos na condição de investigados são Wellington Xavier de Farias, Rodrigo Aguiar Braga e Rebeca Júlia de Almeida Canuto. Para cada um deles foi expedido mandado de prisão temporária, com prazo de 30 dias, conforme documentos obtidos pela reportagem.

A reportagem apurou ainda que eles usaram dois veículos para praticar o homicídio do empresário: uma moto, onde estavam os executores, e um automóvel, que deu apoio para a empreitada criminosa. Os veículos foram apreendidos na operação da semana passada.

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A defesa dos agentes, representada pelo advogado Kaio Castro, disse que "manifestar-se-á em momento oportuno, quando for retirado o sigilo".

BUSCAS E APREENSÕES

Os mandados de prisão foram expedidos pela 5ª Vara do Júri após parecer favorável do Ministério Público do Ceará (MPCE). A Justiça considerou que existem elementos concretos e objetivos quanto à materialidade e indícios de autoria. Ao serem levados para a delegacia, os agentes se mantiveram em silêncio durante depoimento e negaram autorizar a coleta de amostra de DNA para comparar com o material genético que há nas roupas.

Equipes do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e da Delegacia de Assuntos Internos (DAI) estiveram nas sedes dos batalhões onde os PMs trabalham e fizeram buscas nos armários dos policiais.

Por nota, a Polícia Civil disse que os suspeitos foram presos nas próprias residências deles, nos bairros Boa Vista e Jangurussu, em Fortaleza. Quatro armas de fogo, celulares, HD externo e um veículo Ônix foram apreendidos.

Vinícius Cunha Batista foi morto a tiros quando saía de uma padaria no bairro Engenheiro Luciano Cavalcante, em Fortaleza.

No local foram encontradas munições calibre 9 milímetros, Ponto 40 e 380.

O Diário do Nordeste apurou que a principal linha investigativa adotada pelas autoridades sobre a motivação da morte é que o empresário foi assassinado devido à ligação dele com processos licitatórios em prefeituras no Interior do Estado.

FICHA DOS PMS PRESOS 

Rodrigo e Rebeca são atualmente lotados no Batalhão Especializado em Policiamento do Interior (Bepi), enquanto Wellington atua no 19º Batalhão de Policiamento Militar. 

O soldado Wellington Farias responde criminalmente por um duplo homicídio e tortura, com desaparecimento de vítima, enquanto o cabo Rodrigo Aguiar tem antecedentes criminais por tentativa de homicídio (na mesma região onde Vinícius foi morto) e participação no motim de PMs, no ano de 2020.

Já a soldado Rebeca Almeida chegou a ser investigada no ano passado por um extravio de arma de fogo e munições de um militar, na Caucaia. Recentemente, a Justiça Militar decretou extinta a punibilidade neste caso.

Foi o governador do Ceará, Elmano de Freitas, quem anunciou as prisões dos PMs, na manhã da última sexta-feira (9): "nossa polícia prendeu hoje cedo três policiais militares acusados de envolvimento na execução do sr Vinicius Cunha, no último dia 30, em Fortaleza. Ao mesmo tempo em que lamento que agentes públicos se envolvam em práticas criminosas, enalteço o trabalho da nossa polícia séria e comprometida, a imensa maioria, para combater a bandidagem", escreveu Elmano nas redes sociais.

Ainda em mensagem, o governador do Ceará falou sobre punir quem for necessário em prol da segurança do Estado. "Não deixaremos crimes impunes e prenderemos quem quer que seja, um a um, para garantir mais segurança e justiça para nossa população".

CRIME ACONTECEU NO DIA DO ANIVERSÁRIO DA VÍTIMA

Vinícius estava sozinho quando foi abordado pelos criminosos, saindo de uma reunião na padaria. O empresário tinha completado 47 anos na data do assassinato. 

A família da vítima disse, por meio da sua assessoria jurídica, que a esposa de Vinícius desconhece "eventual motivação do crime, cabendo às autoridades policiais o trabalho de investigação e, certamente, de punição" e que confiam  "no trabalho das autoridades, resta a imensa dor da perda e a saudade, pelo que se requer respeito em razão do delicado momento do luto".

Além de sócio-proprietário do Sistema Uirapuru de Comunicação, a vítima também era sócio-diretor da Provale Energia e Grupo Reluz, com sede em Limoeiro do Norte. Segundo fonte entrevistada pelo Diário do Nordeste, as empresas de energia de Vinícius costumavam concorrer em processos licitatórios em prefeituras no Interior do Estado, no ramo de iluminação pública.

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