Polícia trabalha com duas linhas de investigação para mortes de jovens dentro de carro que pertence a suíço; saiba quais
As duas jovens de 18 anos estavam em um Jeep Compass quando foram baleadas e mortas. Um suspeito foi preso

As mortes das jovens Gabriela Sousa da Silva e Krislla Maria Freire Jorge, de 18 anos, na última terça-feira (25), no bairro Jangurussu, em Fortaleza, podem ter sido motivadas por dois fatores: ciúmes do ex-namorado de uma delas ou por não obedecerem à ordem da facção que domina a região de baixar os vidros do carro ao passar pelas ruas.
A prisão de um dos suspeitos do crime em uma ação dos policiais do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil, e o depoimento de uma testemunha, começaram a desvendar as possíveis causas da morte. Poucas horas depois do duplo homicídio, a equipe do DHPP localizou e prendeu em flagrante Kairo Gabriel Rodrigues Dias, o ‘KG’, 20 anos.
Com a prisão de Kairo, os Oficiais Investigadores de Polícia (OIPs) conseguiram identificar mais dois suspeitos de participar do crime. A dupla continua foragida. Kairo teve a prisão em flagrante convertida em preventiva em audiência de custódia nesta quinta-feira (27).
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Segundo a decisão que a reportagem teve acesso, a magistrada considerou ter ficado "demonstrado o perigo gerado pelo estado de liberdade do flagranteado, pois o contexto da prática criminosa a ele imputada (ele e outros comparsas mataram duas jovens com diversos disparos de arma de fogo) e a provável reiteração delitiva destacam sua periculosidade social, circunstâncias aptas, repita-se, a justificar a segregação cautelar para garantia da ordem pública".
O advogado Roberto Castelo, que representa Kairo, disse que “a defesa técnica entende que a prisão foi prematura, eivada de vícios e sem fundamentação legal”. Ele afirmou ainda que “a verdade e inocência do nosso cliente será provada no curso da instrução processual, devendo neste momento prevalecer o princípio da presunção de inocência”.
Castelo finalizou informando que “a defesa se solidariza com familiares das vítimas” e disse esperar “que o clamor público não obstacularize a busca pelos verdadeiros culpados e a verdade real”.
O CRIME
Por volta das 22h30, da última terça-feira, o suíço Eduard Hass, 58, dormia na casa de Gabriela Sousa, com quem ele mantinha um relacionamento. O veículo Jeep Compass, de propriedade de Hass, estava estacionado na porta da casa e a jovem chamou a amiga Krislla e outro rapaz para darem uma volta no bairro.
Gabriela não tinha habilitação para conduzir veículos. Segundo o dono do carro, ela já havia saído no Jeep Compass sem autorização dele em outra oportunidade.
Documentos obtidos pela reportagem revelam que no dia 25 último, durante esse passeio, ela teria passado próximo ao local onde o ex-namorado e pai da filha dela ficava. Essa atitude teria desagrado ao ex, que juntamente com outros homens, inclusive Kairo, passaram a perseguir o veículo.
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Em determinado ponto do bairro, mais precisamente próximo ao 'Mercadinho do Louro', na Rua Abençoada, bairro Jangurussu, houve o atentado, segundo as investigações.
Gabriela e Krislla foram atingidas, mas o jovem que também estava no carro escapou ileso. Ele disse em depoimento não conhecer os autores dos tiros e fugiu do local.
As duas amigas foram levadas para o Hospital Distrital Edmilson Barros de Oliveira, ‘Frotinha da Messejana’, mas morreram na unidade de saúde.
Segundo depoimento de uma testemunha de identidade preservada, os disparos teriam sido efetuados por ‘KG’, Alisson Souza do Nascimento, ex-namorado de Gabriela; e Francisco Breno Carvalho Lima, o ‘Fofão’.
A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Alisson e Breno. O espaço segue aberto para manifestações das defesas.
EX-NAMORADO
A testemunha informou em depoimento que Alisson, o ex-namorado de Gabriela, não aceitava o fim do relacionamento dos dois e que “esse foi o motivo do crime de homicídio”. Em relação a Krislla, a testemunha disse que ela foi morta apenas por estar no carro.
O depoimento traz ainda outras informações sobre a noite do crime. Gabriela foi ao local onde Alisson mora para afrontá-lo. Com raiva, ele “teria batido com uma madeira no para-brisa do carro”. Depois desse fato, houve a perseguição e as mortes.
A atual companheira de Alisson, no entanto, disse à Polícia que ele passou a noite com ela e não participou do crime.
OUTRA VERSÃO
Em seu depoimento, Kairo, o ‘KG’, disse que estava com Alisson (ex-namorado de Gabriela), Daniele (atual mulher de Alisson) e duas crianças. Nesse momento, segundo Kairo, o veículo Compass teria passado e a motorista colocado o carro por “cima das pessoas que estavam ali”.
Ele disse que o Jeep Compass voltou e, na segunda passagem do veículo, a condutora do veículo “teria batido na motocicleta” dele, “chegando a quebrar o retrovisor de seu veículo, e quase atropelando as crianças”.
Por isso, Alisson bateu no para-brisa do veículo com um pedaço de pau ou uma pedra. Em seguida, depois que o carro tinha batido na moto dele, 'KG' e seus amigos começaram a perseguir o veículo.
Kairo contou que as motos usadas pelo grupo seriam uma Honda Twister, pilotada por ele; uma POP110, em que estava ‘Fofão’ e uma pessoa identificada apenas como Tarik, e uma moto modelo Bros, que era pilotada por ‘Jeffinho’, com um homem identificado como ‘Biel’ de garupeiro.
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Segundo ele, as motos conseguiram emparelhar com o carro. Na Praça do Pesadelo, o veículo teve que reduzir a velocidade por conta de uma quebra-molas. Kairo conta ter ficado com sua moto na traseira do veículo Compass, a moto Bros ficou ainda atrás da moto dele e a POP110 chegou depois do crime.
Ele disse ter visto um homem que estava na praça atirando contra o veículo. Nesse instante, ele desligou a moto e se afastou. Os disparos foram efetuados por um homem identificado apenas como Mateus, ou ‘MT’.
Por fim, Kairo revelou, em seu depoimento no DHPP, que perguntou ao atirador por que ele havia “feito aquilo” e o homem teria respondido: “elas entraram com os vidros levantados e, quando entra na comunidade com os vidros levantados, é assim mesmo”.
‘KG’ negou ser integrante de facção criminosa. Ele disse que Mateus é integrante do Comando Vermelho (CV), foragido da cidade de Amontada por também matar uma mulher naquela cidade.
O autor dos tiros teria fugido com o apoio de “vários parceiros” dele, “que também estavam armados”, disse Kairo em depoimento.
A Polícia trabalha agora para localizar os demais suspeitos do crime. O DHPP tem um prazo de 10 dias para concluir o inquérito ou solicitar mais tempo para novas investigações.